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04/03/2005 - 10h20

Ex-assessor de Furlan pôs R$ 45 mi em banco

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MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

O executivo Renello Parrini, ex-assessor especial do ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), injetou 20 milhões de francos suíços (o equivalente hoje a R$ 45 milhões) na empresa que controla o Bank of Europe. Esse banco está sendo investigado no Brasil e em Antígua e Barbuda, o paraíso fiscal no Caribe onde ele funciona, sob a suspeita de integrar o esquema de desvio de recursos do Banco Santos.

Parrini negou que detenha o controle do banco, mas foi demitido por Furlan na última sexta-feira depois de o ministro receber documentos obtidos pela Folha segundo os quais ele era o principal acionista do banco. O executivo que aparece como dono de um banco no Caribe ganhava R$ 6.300,00 como assessor especial de Furlan. O ministro diz que o contratou pelo currículo.

Antes de chegar ao ministério, o executivo de origem italiana trabalhou com Edemar Cid Ferreira na Associação Brasil 500 Anos e na Brasil Connects. Parrini foi diretor da empresa que promoveu a megaexposição de Picasso.

Os clientes do Bank of Europe, controlado por Parrini, devem perder os US$ 224,6 milhões (cerca de R$ 580 milhões) que aplicaram nessa instituição.

Esse banco era usado por Edemar para captar recursos fora do Brasil e sofreu intervenção da autoridade financeira de Antígua porque está insolvente.

Presidente

A documentação que mostra como Parrini colocou 20 milhões de francos no Bank of Europe está arquivada em São Paulo, num cartório de títulos e documentos. O documento em francês foi depositado no cartório em 23 de abril do ano passado. É uma ata da assembléia que a Beauford realizou em 12 de dezembro de 2003. Nesse dia, o conselho de administração da empresa tomou duas decisões na reunião em Genebra:

1) Aprovou a conversão dos 20 milhões de francos suíços que uma empresa chamada Simington Investments Inc. havia emprestado à Beauford em aumento de capital;

2) Mudou o nome da empresa de Beauford Services para Beauford Holding.
Documento obtido pela Folha revela que Parrini aparece como presidente da Simington Investments. Trata-se do "Certificado de Incumbência" da Simington, emitido em 10 de outubro de 2003 nas Ilhas Virgens Britânicas, outro paraíso fiscal caribenho. Parrini precisou desse documento para converter o débito da Beauford em aumento de capital na Suíça.

"Certificado de Incumbência" é um dos documentos mais sigilosos de uma offshore porque revela tudo que se gostaria de esconder quando se abre uma empresa em paraísos fiscais: o nome do dono do negócio.

Em suma, foi Parrini quem colocou os 20 milhões de francos suíços na Beauford, de acordo com papéis autenticados nas Ilhas Virgens Britânicas.

Outro documento obtido pela Folha revela como era a distribuição de ações dentro da empresa em 30 de dezembro de 2003. Segundo esse registro, Parrini detinha 23.495 ações da Beauford --23.494 por ser presidente da Simington Investments e uma em seu próprio nome, por ser um dos administradores da empresa.

Os três sócios suíços de Parrini (Hubert Secrétan, o presidente do Bank of Europe, William Bürkle e Gaston Baudet) tinham só cinco ações.

Um organograma do Bank of Europe, com data de 30 de novembro do ano passado, revela que a Beauford Holding tem uma controladora chamada The Euro Trust. O truste tem como "trustee" uma empresa da Ilha de Man, no Reino Unido, chamada Trumanx Company Limited.

"Trustee" é uma figura do direito britânico, o "Commom Law", sem equivalente no direito romano: é um administrador que trabalha para um beneficiário com um determinado fim. Parrini aparece como um dos beneficiários do truste junto com os três sócios suíços.

Parrini foi trabalhar com Edemar na Brasil Connects depois de ter passado pela Motovespa do Brasil e Móveis Teperman e ganhou a confiança do banqueiro. O executivo já apareceu como presidente da Rutherford Trading S.A., empresa que foi apresentada ao mercado internacional como mais um negócio de Edemar. Parrini dividia a diretoria da Rutherford com Ruy Ramazini, um contador que trabalha com o banqueiro há mais de 20 anos, segundo registros da Junta Comercial de São Paulo. O executivo italiano permaneceu como diretor-presidente por cinco meses -de setembro de 2002 a janeiro de 2003.

Há outros indícios da ligação da Rutherford com Edemar. O atual presidente dessa empresa, Paulo Sergio da Silva Cardoso, trabalhou no Banco Santos e aparece como diretor da Sanvest Participações S.A. A Sanvest, que já se chamou Duke of Wales, lançou R$ 246 milhões em debêntures. O editor Pedro Paulo de Sena Madureira --que trabalhou na direção da Brasil Connects, tal como Parrini- assinou essas debêntures sem saber o que a Sanvest faz. Sena Madureira diz que assinava por confiar em Edemar.

O Ministério Público Federal identificou nesse tipo de operação uma das formas de Edemar desviar recursos do banco.

Outro Lado

Renello Parrini, ex-assessor do ministro Luiz Fernando Furlan, diz que não é dono nem controlador das empresas Beauford e Simington.

A Simington emprestou 20 milhões de francos suíços à Beauford e depois transformou o empréstimo em aumento de capital. Parrini aparece como presidente da Simington em documento autenticado nas Ilhas Virgens Britânicas.

A Folha enviou por fax a Parrini esse documento e outro que mostra que ele detém ou deteve 23.495 ações da Beauford, empresa suíça que controla o Bank of Europe.

O executivo enviou o seguinte e-mail à Folha: "Volto a confirmar que não sou e nunca fui dono ou controlador das empresas indicadas Beauford e Simington. Quanto à Beauford, especificamente, enquanto fui conselheiro, fui proprietário, sim, de uma ação, como qualquer conselheiro de empresa tem de ser".

A Folha perguntou a Parrini se ele considerava falsos os documentos enviados a ele pela Folha, mas não obteve resposta.

O executivo foi demitido na última sexta-feira por Furlan menos de 10 minutos depois de a Folha ter enviado ao ministro um fax segundo o qual Parrini é o controlador da Beauford porque detém a maioria das ações (23.495 de um total de 23.500 papéis da empresa em dezembro de 2003).

Ele dizia que só fazia parte do conselho de administração da empresa suíça.

Parrini assessorava o ministro nas relações comerciais entre o Brasil e a Itália. Em dezembro, ele viajou com Furlan para a Itália em missão oficial.

Especial
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