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12/03/2005 - 09h47

China amplia relações com América Latina

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CLÁUDIA TREVISAN
da Folha de S.Paulo, em Pequim

A "relação estratégica" que o Brasil orgulhosamente declara ter com a China se reproduz em velocidade cada vez maior em outros países latino-americanos, identificados no radar do insaciável país asiático como fornecedores das matérias-primas necessárias para mover sua indústria e dos grãos essenciais para alimentar seus 1,3 bilhão de habitantes.

Soja, minério de ferro, petróleo, cobre, farinha de peixe, frutas e celulose estão entre os produtos comprados pelos chineses principalmente de Brasil, Chile, Argentina, Peru, México e Venezuela.

O aumento das compras chinesas mudou a estrutura das parcerias comerciais latino-americanas e colocou o país asiático entre os três ou quatro principais destinos de exportações de muitas nações da região.

Entre 2000 e 2004, as vendas da América Latina para a China se multiplicaram por quatro, ao passar de US$ 5,4 bilhões para US$ 21,8 bilhões.

Em 2004, a China se transformou no segundo principal sócio comercial do Peru, atrás dos EUA, e a "aliança estratégica" entre os dois países será reafirmada durante visita do presidente Alejandro Toledo a Pequim, em junho.

A mesma história se repete no Chile, onde a China ocupa o terceiro lugar no ranking de destinos de exportações, com a possibilidade de superar o Japão no segundo lugar em 2005, na avaliação do embaixador do Chile em Pequim, Pablo Cabrera.

O Chile é o primeiro país do mundo a negociar um acordo de livre comércio individual com a China, que já tem um compromisso de caráter coletivo com seus vizinhos da Asean (sigla em inglês para Associação das Nações do Sudeste Asiático).

No ano passado, a China ultrapassou os EUA como o principal comprador de cobre do Chile, maior produtor mundial do minério. Com crescimento próximo de 9% há 26 anos, a China consome um terço do cobre mundial para alimentar indústrias como as de construção, automobilística e telecomunicações.

Santiago espera finalizar o acordo comercial até o início de 2006, para que possa ser anunciado na visita que o presidente Ricardo Lagos fará à China antes do fim de seu mandato, em março.

Visitas

No ano passado, visitaram a China os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, da Argentina, Néstor Kirchner, e da Venezuela, Hugo Chávez. Em todas as ocasiões, houve a celebração da "aliança estratégica" entre as duas partes envolvidas e a promessa de investimentos chineses nas áreas de infra-estrutura.

"É a oportunidade da América Latina. Nós estamos negociando com a China investimentos em estradas, que poderiam permitir a conexão do Brasil com portos peruanos", declarou Tulio Mundaca, ministro-conselheiro da Embaixada do Peru na China.

O mesmo tipo de investimentos é discutido com o Brasil, a Argentina e a Venezuela, pelo menos. O objetivo da China é construir portos, estradas e ferrovias que permitam o escoamento a preços competitivos dos produtos que necessitam. No caso do Brasil, soja e minério de ferro.

A Argentina espera que os chineses confirmem em breve financiamento de US$ 520 milhões para a construção de um túnel de 43 km nos Andes, que ligará o país ao Chile e permitirá a conexão entre o Atlântico e o Pacífico.

"A intenção da China é ter garantia no suprimento dos produtos de que necessita", diz o embaixador do Brasil em Pequim, Luiz Augusto de Castro Neves.

Os chineses não se contentam só em comprar o que os latino-americanos têm a oferecer. Em muitos casos, como no de petróleo, querem participar da produção, diz o representante da Petrobras na China, Marcelo Castilho.

As vendas de petróleo do Brasil para a China aumentaram 843% em 2004, de US$ 22 milhões para US$ 210 milhões, apesar de o preço do frete ter dobrado. "A China tem uma preocupação estratégica muito grande e quer diversificar suas fontes de petróleo", observa Castilho. Segundo ele, os principais fornecedores dos chineses hoje são o Oriente Médio e a Rússia, duas regiões nas quais a estabilidade não é moeda corrente.

Segundo maior consumidor de petróleo do mundo, a China viu o suprimento da Rússia ser ameaçado em 2004 pela intervenção na ex-estatal Yukos, um dos principais fornecedores do país asiático.

Castilho lembra que a China produz hoje 180 milhões de toneladas de petróleo e derivados por ano e consome 300 milhões de toneladas, um déficit de 120 milhões de toneladas, que tem de ser preenchido com importações. Os planejadores chineses estimam que em 2015 o desequilíbrio subirá a 400 milhões de toneladas/ano, com produção de 200 milhões e consumo de 600 milhões.

Como bons tecnocratas acostumados a planejar a economia com antecipação de décadas, os chineses tentam garantir agora suas fontes de combustível no futuro. Na tentativa de diversificação, os alvos naturais, além de países africanos, são Venezuela, Brasil e Colômbia, diz Castilho.

Durante visita à China em dezembro, o presidente da Venezuela anunciou acordos que prevêem investimentos chineses de US$ 350 milhões na exploração em seu país de cinco campos de petróleo e US$ 60 milhões para projetos de gás natural. Para a Venezuela, a aliança com os asiáticos está dentro de seu projeto de reduzir a dependência dos EUA, principal destino de suas exportações de petróleo.

A Sinopec, uma das maiores estatais chinesas, tem acordo com a Petrobras para a exploração de petróleo em terceiros países e a intenção declarada de participar das licitações da ANP (Agência Nacional de Petróleo) para exploração de campos no Brasil.

"Talvez em conseqüência de sua necessidade de alimentos e matérias-primas, a China está dando uma atenção pouco comum à América Latina, que nem mesmo Estados Unidos e Europa concedem", sintetiza o embaixador da Argentina em Pequim, Juan Carlos Morelli.

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