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24/05/2005 - 09h11

Exportadores vêem queda nas vendas

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da Folha de S.Paulo

O dólar caiu mais 1,33% na semana passada. Não dá sinais de que recuperará terreno tão cedo. A despeito dos vigorosos números da balança comercial, parte dos exportadores não pára de contabilizar prejuízos e espera reduzir vendas externas no segundo semestre, caso a moeda brasileira não perca terreno para a norte-americana nos próximos meses.

"Vamos exportar 30% menos neste ano, se compararmos com 2004. A queda ocorre basicamente por conta do dólar", diz Renato Furtado, diretor-superintendente da Calçados Samello, com fábrica em Franca, interior de São Paulo.

A indústria calçadista está entre as que mais sofrem com o real forte. Furtado diz que, quando os contratos para a coleção que a empresa exporta hoje foram feitos, a projeção para a cotação do dólar era de R$ 2,80. "Estamos embarcando com prejuízo", diz.

A redução das vendas, diz ele, ocorre a partir de agora, com a assinatura de novos contratos. O setor não pode aumentar o preço em dólares, pelo menos não ao ponto de compensar a queda na cotação do dólar. Se tentar, perde mercado para os concorrentes.

O barateamento dos importados tampouco ajuda. Apenas 25% do custo dos sapatos fabricados pela empresa é sensível ao câmbio, ou seja, é importado. A queda nos preços dos insumos comprados no mercado internacional compensa pouco a queda, em reais, no preço do sapato. "Nós nunca imaginamos um cenário assim. Prevíamos um dólar mais baixo, mas não tanto", diz ele.

Dimas de Melo Pimenta, da Dimep, fábrica de relógios de ponto e de máquinas de controle de acesso, ainda não reduziu as vendas externas, mas não tem mais lucro com as exportações. "Não podemos realinhar o preço em dólar. O mercado é muito competitivo. Se aumentar, perdemos mercado para os concorrentes asiáticos", explica Pimenta.

No caso da Dimep, os importados contribuem com 33% do custo total. Proporção um pouco maior, mas que tampouco compensa a queda do dólar no preço final dos produtos. Ele diz que não tem escolha, a não ser continuar exportando, ainda que sem margens de lucro. "Há três anos, a exportação correspondia a 8% do faturamento. Hoje, corresponde a 20%. Não podemos deixar de vender, expandimos a operação para isso, e sair agora corresponderia a perder os clientes", avalia.

Na Samello, a dificuldade ainda é maior: 75% do faturamento da empresa vem do mercado externo. Não há opção, a não ser vender aos já tradicionais clientes. Sob pena de perder participação em mercados já tradicionais para as empresas. Outro problema: não há espaço no mercado nacional para toda a produção.

Situações como a das duas empresas ajudam a explicar por que, apesar da queda do câmbio, as exportações continuam vigorosas. "Houve --e continua ocorrendo-- uma mudança estrutural no comércio exterior brasileiro", diz o ex-embaixador Rubens Barbosa, hoje presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

As exportações, no jargão dos economistas, ficaram menos elásticas ao câmbio, ou seja, reagem menos às variações cambiais. O que, claro, não significa que elas não perderão fôlego caso o câmbio continue caindo ou nos atuais patamares. "Alguns efeitos estão compensando as perdas do câmbio, alguns exportadores conseguem repassar preços, outros conseguem compensar com redução de custos, importando insumos", avalia Barbosa.

Ainda que as empresas, como no caso da Samello e da Dimep, não deixem de exportar, há outro efeito negativo do câmbio barato, ou muito instável: a incerteza gerada pela oscilação. Quanto maior a incerteza, mais difícil a decisão de investimento e, portanto, menor ele tende a ser. "Mais que a apreciação em si, a variação é preocupante. Oscilações muito rápidas criam instabilidade exagerada. As empresas precisam estimar um câmbio médio para fazer um projeto de investimento", conclui Barbosa.

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