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17/07/2005
-
09h22
PEDRO DIAS LEITE
da Folha de S.Paulo, em Nova York
Os dez CEOs mais bem pagos dos Estados Unidos ganharam US$ 788,2 milhões (R$ 1,84 bilhão) no ano que passou, se somados salários, bônus, opções de ações e outros benefícios. Com esse dinheiro, seria possível comprar mais de 6.000 Mercedes-Benz top, ou três aviões A380, o maior do mundo.
O que provoca dúvida, até nos EUA, é como as empresas continuam pagando tanto para seus principais executivos, mesmo depois dos escândalos corporativos que levaram ao chão empresas como a Enron e a WorldCom. Muitos analistas previram que a onda de fraudes fosse levar para baixo os salários dos executivos, com revisões de seus pacotes de pagamentos, mas não foi isso o que ocorreu.
Só no ano passado, os CEOs de 179 grandes companhias tiveram ganhos em média de US$ 9,84 milhões, uma alta de 12% sobre o ano anterior, segundo estudo concluído em março pela consultoria Pearl Meyer & Partners. Os dados sobre a lista dos CEOs mais bem pagos, encabeçada por Terry S. Semel, da Yahoo (salário de US$ 144,9 milhões), são da Aon.
"Em parte, o que realmente tem acontecido é que geralmente você tem visto desempenhos melhores das companhias, o que rende bônus maiores, e uma recuperação do mercado de ações, então os incentivos de longo prazo também estão beneficiando esses executivos", explica Mark Tanis, consultor sênior da Watson Wyatt Worldwide nos EUA.
Os pacotes milionários têm provocado reclamações de associações de acionistas. Até mesmo o jornal "New York Times" protestou: ele publicou recentemente um editorial em que criticava os altos ganhos, existentes mesmo em casos de mau desempenho, intitulado "Os salários do fracasso em Wall Street".
Enquanto isso, o salário de trabalhadores comuns no setor privado sem cargos de chefia, que compõem 75% da força de trabalho, alcançou US$ 16,06 por hora, com um aumento de apenas 2,7% sobre um ano atrás.
Mudanças
Mas alguma coisa mudou para a elite financeira dos EUA desde os escândalos? Segundo analistas especializados na área, sim. "Houve algumas pequenas melhorias. Estamos numa longa estrada para as mudanças, mas ainda precisamos ir muito mais longe do que já fomos", afirma Paul Hodgson, da Corporate Library, um centro de pesquisa independente dedicado ao tema.
"A maior falha ainda é a falta de qualquer mecanismo que ligue os pagamentos dos CEOs ao desempenho, especialmente de longo prazo", afirma. Essa é uma das críticas mais recorrentes nos EUA, onde a classe média investe em ações e acompanha de perto o mercado. Enquanto alguns executivos fazem rios de dinheiro, suas ações patinam. John F. Antioco, da Blockbuster, o nono CEO mais bem pago do país, ganhou US$ 51 milhões no total no ano passado, enquanto as ações da empresa recuaram 13,2% em um ano.
"As compensações entregues por planos anuais de incentivos são bem efetivas em remunerar realizações de curto prazo, mas, já que a maioria dos acionistas procura investimentos de longo prazo, há uma desconexão entre o modo como os executivos são pagos e a maneira que os acionistas gostariam que eles comandassem a empresa", diz Hodgson.
De acordo com Tanis, da Watson Wyatt Worldwide, muita coisa tem mudado nos pacotes de pagamento desde os escândalos. "O que acontece é que os membros do board estão revisando esses pacotes muito mais cuidadosamente e atentamente, incluindo salário, bônus, ações e até programas de aposentadoria", diz.
"Há muito menos ênfase em opções de ações [ações para os executivos em uma certa data], não estamos vendo o seu fim, mas agora elas têm menos peso." Muitas das fraudes ocorreram para elevar artificialmente os preços das ações e assim potencializar os ganhos dos executivos.
Segundo o consultor, desde o mês passado as empresas são obrigadas a contabilizar as opções de ações de seus executivos em seus relatórios fiscais. "Em companhias como IBM, Dell, Intel, isso é um item de US$ 1 bilhão."
Passado e presente
Outra mudança importante tem ocorrido na parte do contrato que trata de possíveis demissões ou rompimento do acordo. E um exemplo da semana passada mostra o motivo: depois de três meses no cargo, um co-presidente do Morgan Stanley, Stephen Crawford, foi embora com um pacote de US$ 32 milhões em compensações. Seu principal defensor, Philip Purcell, já havia deixado o comando da empresa no mês anterior, depois de uma batalha de meses contra outros executivos, levando compensações de mais de US$ 43 milhões.
Enquanto especialistas discutem os ganhos dos maiores executivos do país, uma notícia na semana que passou lembrou dos tempos mais sombrios de poucos anos atrás. O ex-presidente da WorldCom, Bernard Ebbers, foi condenado a 25 anos de prisão na quarta-feira. As fraudes na empresa, a maior na história dos EUA, motivaram um pacote de leis mais duras no Congresso norte-americano.
Megassalários geram protestos nos EUA
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da Folha de S.Paulo, em Nova York
Os dez CEOs mais bem pagos dos Estados Unidos ganharam US$ 788,2 milhões (R$ 1,84 bilhão) no ano que passou, se somados salários, bônus, opções de ações e outros benefícios. Com esse dinheiro, seria possível comprar mais de 6.000 Mercedes-Benz top, ou três aviões A380, o maior do mundo.
O que provoca dúvida, até nos EUA, é como as empresas continuam pagando tanto para seus principais executivos, mesmo depois dos escândalos corporativos que levaram ao chão empresas como a Enron e a WorldCom. Muitos analistas previram que a onda de fraudes fosse levar para baixo os salários dos executivos, com revisões de seus pacotes de pagamentos, mas não foi isso o que ocorreu.
Só no ano passado, os CEOs de 179 grandes companhias tiveram ganhos em média de US$ 9,84 milhões, uma alta de 12% sobre o ano anterior, segundo estudo concluído em março pela consultoria Pearl Meyer & Partners. Os dados sobre a lista dos CEOs mais bem pagos, encabeçada por Terry S. Semel, da Yahoo (salário de US$ 144,9 milhões), são da Aon.
"Em parte, o que realmente tem acontecido é que geralmente você tem visto desempenhos melhores das companhias, o que rende bônus maiores, e uma recuperação do mercado de ações, então os incentivos de longo prazo também estão beneficiando esses executivos", explica Mark Tanis, consultor sênior da Watson Wyatt Worldwide nos EUA.
Os pacotes milionários têm provocado reclamações de associações de acionistas. Até mesmo o jornal "New York Times" protestou: ele publicou recentemente um editorial em que criticava os altos ganhos, existentes mesmo em casos de mau desempenho, intitulado "Os salários do fracasso em Wall Street".
Enquanto isso, o salário de trabalhadores comuns no setor privado sem cargos de chefia, que compõem 75% da força de trabalho, alcançou US$ 16,06 por hora, com um aumento de apenas 2,7% sobre um ano atrás.
Mudanças
Mas alguma coisa mudou para a elite financeira dos EUA desde os escândalos? Segundo analistas especializados na área, sim. "Houve algumas pequenas melhorias. Estamos numa longa estrada para as mudanças, mas ainda precisamos ir muito mais longe do que já fomos", afirma Paul Hodgson, da Corporate Library, um centro de pesquisa independente dedicado ao tema.
"A maior falha ainda é a falta de qualquer mecanismo que ligue os pagamentos dos CEOs ao desempenho, especialmente de longo prazo", afirma. Essa é uma das críticas mais recorrentes nos EUA, onde a classe média investe em ações e acompanha de perto o mercado. Enquanto alguns executivos fazem rios de dinheiro, suas ações patinam. John F. Antioco, da Blockbuster, o nono CEO mais bem pago do país, ganhou US$ 51 milhões no total no ano passado, enquanto as ações da empresa recuaram 13,2% em um ano.
"As compensações entregues por planos anuais de incentivos são bem efetivas em remunerar realizações de curto prazo, mas, já que a maioria dos acionistas procura investimentos de longo prazo, há uma desconexão entre o modo como os executivos são pagos e a maneira que os acionistas gostariam que eles comandassem a empresa", diz Hodgson.
De acordo com Tanis, da Watson Wyatt Worldwide, muita coisa tem mudado nos pacotes de pagamento desde os escândalos. "O que acontece é que os membros do board estão revisando esses pacotes muito mais cuidadosamente e atentamente, incluindo salário, bônus, ações e até programas de aposentadoria", diz.
"Há muito menos ênfase em opções de ações [ações para os executivos em uma certa data], não estamos vendo o seu fim, mas agora elas têm menos peso." Muitas das fraudes ocorreram para elevar artificialmente os preços das ações e assim potencializar os ganhos dos executivos.
Segundo o consultor, desde o mês passado as empresas são obrigadas a contabilizar as opções de ações de seus executivos em seus relatórios fiscais. "Em companhias como IBM, Dell, Intel, isso é um item de US$ 1 bilhão."
Passado e presente
Outra mudança importante tem ocorrido na parte do contrato que trata de possíveis demissões ou rompimento do acordo. E um exemplo da semana passada mostra o motivo: depois de três meses no cargo, um co-presidente do Morgan Stanley, Stephen Crawford, foi embora com um pacote de US$ 32 milhões em compensações. Seu principal defensor, Philip Purcell, já havia deixado o comando da empresa no mês anterior, depois de uma batalha de meses contra outros executivos, levando compensações de mais de US$ 43 milhões.
Enquanto especialistas discutem os ganhos dos maiores executivos do país, uma notícia na semana que passou lembrou dos tempos mais sombrios de poucos anos atrás. O ex-presidente da WorldCom, Bernard Ebbers, foi condenado a 25 anos de prisão na quarta-feira. As fraudes na empresa, a maior na história dos EUA, motivaram um pacote de leis mais duras no Congresso norte-americano.
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