Publicidade
Publicidade
03/08/2005
-
08h37
IURI DANTAS
da Folha de S.Paulo, em Washington
Depois de oito meses, dois aumentos de bilhões de dólares e pressões políticas, a estatal chinesa de petróleo CNOOC (China National Offshore Oil Corporation) desistiu ontem de comprar a petrolífera norte-americana Unocal e deixaram o caminho livre para a também norte-americana Chevron adquirir a concorrente. Em vez de uma mera disputa comercial, o caso vinha sendo discutido nos EUA como mais uma questão de segurança nacional.
A oferta final da Unocal chegou a US$ 18,5 bilhões, contra US$ 17,4 bilhões da Chevron. Ainda assim, os chineses admitiam publicamente elevar a proposta, se assim fosse o interesse da mesa diretora da Unocal. Ontem, porém, a gigante chinesa retraiu-se.
O Congresso norte-americano e a própria mesa diretora da Unocal atacavam fortemente o negócio, alegando um temor sobre o aumento do poder econômico da China. Algo que não foi visto, por exemplo, na aquisição da divisão de fabricação de computadores da IBM pela Lenovo.
A direção da CNOOC afirmou, em comunicado, que enfrentava "oposição política sem precedentes", que seria "lamentável e injustificada", pois a empresa possui "objetivos puramente comerciais". Para concluir a nota, a estatal informou que os EUA possuem um "nível de incerteza que apresenta um risco inaceitável para nossa capacidade de garantir essa transação".
Risco político, para melhor esclarecer: republicanos no Congresso norte-americano chegaram a cogitar proibir em lei a venda de empresas do setor de energia para estrangeiros. O fato de 70% da CNOOC pertencer ao governo chinês também era criticado pela Chevron, que dizia competir com um país, e não com uma outra empresa concorrente.
Curiosamente, o fato de parte da operação com a Chevron ser feita em troca de ações, em vez de dinheiro, sempre foi citado como fator de preferência pelos membros da mesa diretora da Unocal.
Teme-se, agora, que o revés vivido pela CNOOC vá tornar empresas chinesas mais resistentes a negócios nos EUA.
Na avaliação de John Tkacic, da conservadora Fundação Heritage em Washington, a desistência chinesa "provavelmente não fará muita diferença para a economia norte-americana", e sim para a segurança nacional, devido à localização estratégica da Unocal.
"Muitos dos pontos de extração da Unocal estão próximos a locais estratégicos de defesa dos EUA. Especificamente no Alasca, onde há proximidade com pontos de teste do sistema de mísseis."
Além disso, avalia o pesquisador, "certamente os chineses têm demonstrado nos últimos anos que são plenamente capazes de traduzir presença econômica em influência política".
Ameaça chinesa
O crescimento da economia chinesa vem despertando atenção e preocupação em diversos círculos de Washington nos últimos meses. Há duas semanas, por exemplo, o Departamento de Defesa divulgou com cinco meses de atraso seu relatório anual para o Congresso sobre o poder militar chinês. Diz ali que os chineses possuem planos para atacar Taiwan sem dar tempo aos EUA para intervenção no caso.
Mas a questão vai além. Com boa parte de sua economia caminhando por conta da compra de títulos do Tesouro norte-americano pelos chineses, Washington pressiona Pequim a abrir sua economia. Depois de décadas de ditadura socialista, a China optou por fazer uma abertura gradual.
Apenas na semana retrasada, por exemplo, decidiu valorizar sua moeda, o yuan, ainda assim em apenas 2,1% contra os cerca de 40% de desvalorização calculados por especialistas.
Leia mais
Erramos: Sob pressão, chineses desistem da Unocal
Sob pressão, chineses desistem da Unocal
Publicidade
da Folha de S.Paulo, em Washington
Depois de oito meses, dois aumentos de bilhões de dólares e pressões políticas, a estatal chinesa de petróleo CNOOC (China National Offshore Oil Corporation) desistiu ontem de comprar a petrolífera norte-americana Unocal e deixaram o caminho livre para a também norte-americana Chevron adquirir a concorrente. Em vez de uma mera disputa comercial, o caso vinha sendo discutido nos EUA como mais uma questão de segurança nacional.
A oferta final da Unocal chegou a US$ 18,5 bilhões, contra US$ 17,4 bilhões da Chevron. Ainda assim, os chineses admitiam publicamente elevar a proposta, se assim fosse o interesse da mesa diretora da Unocal. Ontem, porém, a gigante chinesa retraiu-se.
O Congresso norte-americano e a própria mesa diretora da Unocal atacavam fortemente o negócio, alegando um temor sobre o aumento do poder econômico da China. Algo que não foi visto, por exemplo, na aquisição da divisão de fabricação de computadores da IBM pela Lenovo.
A direção da CNOOC afirmou, em comunicado, que enfrentava "oposição política sem precedentes", que seria "lamentável e injustificada", pois a empresa possui "objetivos puramente comerciais". Para concluir a nota, a estatal informou que os EUA possuem um "nível de incerteza que apresenta um risco inaceitável para nossa capacidade de garantir essa transação".
Risco político, para melhor esclarecer: republicanos no Congresso norte-americano chegaram a cogitar proibir em lei a venda de empresas do setor de energia para estrangeiros. O fato de 70% da CNOOC pertencer ao governo chinês também era criticado pela Chevron, que dizia competir com um país, e não com uma outra empresa concorrente.
Curiosamente, o fato de parte da operação com a Chevron ser feita em troca de ações, em vez de dinheiro, sempre foi citado como fator de preferência pelos membros da mesa diretora da Unocal.
Teme-se, agora, que o revés vivido pela CNOOC vá tornar empresas chinesas mais resistentes a negócios nos EUA.
Na avaliação de John Tkacic, da conservadora Fundação Heritage em Washington, a desistência chinesa "provavelmente não fará muita diferença para a economia norte-americana", e sim para a segurança nacional, devido à localização estratégica da Unocal.
"Muitos dos pontos de extração da Unocal estão próximos a locais estratégicos de defesa dos EUA. Especificamente no Alasca, onde há proximidade com pontos de teste do sistema de mísseis."
Além disso, avalia o pesquisador, "certamente os chineses têm demonstrado nos últimos anos que são plenamente capazes de traduzir presença econômica em influência política".
Ameaça chinesa
O crescimento da economia chinesa vem despertando atenção e preocupação em diversos círculos de Washington nos últimos meses. Há duas semanas, por exemplo, o Departamento de Defesa divulgou com cinco meses de atraso seu relatório anual para o Congresso sobre o poder militar chinês. Diz ali que os chineses possuem planos para atacar Taiwan sem dar tempo aos EUA para intervenção no caso.
Mas a questão vai além. Com boa parte de sua economia caminhando por conta da compra de títulos do Tesouro norte-americano pelos chineses, Washington pressiona Pequim a abrir sua economia. Depois de décadas de ditadura socialista, a China optou por fazer uma abertura gradual.
Apenas na semana retrasada, por exemplo, decidiu valorizar sua moeda, o yuan, ainda assim em apenas 2,1% contra os cerca de 40% de desvalorização calculados por especialistas.
Leia mais
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Ministério Público pede bloqueio de R$ 3,8 bi de dono de frigorífico JBS
- Por que empresa proíbe caminhões de virar à esquerda - e economiza milhões
- Megarricos buscam refúgio na Nova Zelândia contra colapso capitalista
- Com 12 suítes e 5 bares, casa mais cara à venda nos EUA custa US$ 250 mi
- Produção industrial só cresceu no Pará em 2016, diz IBGE
+ Comentadas
- Programa vai reduzir tempo gasto para pagar impostos, diz Meirelles
- Ministério Público pede bloqueio de R$ 3,8 bi de dono de frigorífico JBS
+ EnviadasÍndice