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24/08/2005
-
09h36
SANDRA BALBI
da Folha de S.Paulo
Dono de uma das maiores coleções de obras de arte do país, o ex-controlador do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, vive hoje do aluguel de imóveis e da ajuda que recebe de cinco amigos.
São R$ 200 mil mensais de renda --metade vem das locações e metade dos amigos--, segundo declarou em seu depoimento ao juiz da 6ª vara criminal da Justiça Federal em São Paulo, na segunda-feira. "Houve uma economia brutal na minha casa", afirmou.
Ao longo das quatro horas de depoimento que encheram 92 páginas de transcrição às quais a Folha teve acesso, Cid Ferreira estabelece os pilares da sua defesa:
1) o Banco Santos se destacava no mercado, ao crescer 20% ao ano, e isso "incomodava muito o Banco Central";
2) a partir de 2002, o BC passa a conspirar contra o Santos e decide impedir a instituição de abrir agências ou novas carteiras e até de publicar balanços sem autorização da autoridade monetária;
3) eventuais irregularidades não são de seu conhecimento, pois não operava o dia-a-dia do banco.
"Eu tenho três inimigos, um é o Banco Central, o segundo é o Flávio Calazans, e o terceiro, o Ricardo Russo, que não quer assumir o Bank of Europe" afirmou.
O BC teria afetado Edemar já em 2002, ao mudar as regras de financiamento ao mercado. "Em meados de 2002, o BC decide não mais financiar o mercado. Ele fala: "Não, agora quem financia o mercado são os próprios bancos'", diz o ex-banqueiro.
Segundo ele, o Banco Santos carregava de R$ 3 bilhões a R$ 5 bilhões em títulos do Tesouro e, no fim do dia, em algumas ocasiões, precisava recorrer ao overnight para fechar o caixa. Com a mudança das normas, "os grandes bancos que tinham dinheiro para financiar esse volume passaram a exigir um desconto de 5% sobre o valor dos títulos", disse.
Cid Ferreira também acusou o BC de ter feito "uma grande maquiagem" no balanço do Banco Santos, após a intervenção. O interventor teria ficado sete meses para elaborar o balanço.
"Ele [o interventor] nos chamou e disse: "Olha, senhores, eu vou apresentar aqui alguns números, eu não vou apresentar o balanço do banco, eu vou apresentar alguns pontos sobre créditos e reciprocidades, que é o meu entendimento, e os senhores não podem discuti-lo comigo. Esses números são verdade'", disse. O BC apontou um rombo de R$ 2,8 bilhões no Santos.
Inimigos
O segundo inimigo, Flávio Calazans, é o consultor que diz ter ajudado Cid Ferreira a montar uma rede de cinco empresas financeiras e de comércio exterior alguns meses antes da intervenção do BC no Banco Santos. Por esse canal, escoaram, ilegalmente, mais de R$ 480 milhões para o exterior.
O terceiro, Ricardo Russo, é um ex-funcionário de Cid Ferreira que dirigia o Bank of Europe, com sede em Antígua. O BOE ajudou uma das empresas do banqueiro, a Alsace Lorraine, a captar US$ 224,6 milhões para o Santos. "Ficamos reféns do Ricardo Russo e do Bank of Europe. E ele se torna dono do banco [BOE]. Dá ordem em todo mundo", disse.
Especial
Leia mais sobre o Banco Santos
Edemar afirma que vive de renda de aluguéis e da ajuda de amigos
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da Folha de S.Paulo
Dono de uma das maiores coleções de obras de arte do país, o ex-controlador do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, vive hoje do aluguel de imóveis e da ajuda que recebe de cinco amigos.
São R$ 200 mil mensais de renda --metade vem das locações e metade dos amigos--, segundo declarou em seu depoimento ao juiz da 6ª vara criminal da Justiça Federal em São Paulo, na segunda-feira. "Houve uma economia brutal na minha casa", afirmou.
Ao longo das quatro horas de depoimento que encheram 92 páginas de transcrição às quais a Folha teve acesso, Cid Ferreira estabelece os pilares da sua defesa:
1) o Banco Santos se destacava no mercado, ao crescer 20% ao ano, e isso "incomodava muito o Banco Central";
2) a partir de 2002, o BC passa a conspirar contra o Santos e decide impedir a instituição de abrir agências ou novas carteiras e até de publicar balanços sem autorização da autoridade monetária;
3) eventuais irregularidades não são de seu conhecimento, pois não operava o dia-a-dia do banco.
"Eu tenho três inimigos, um é o Banco Central, o segundo é o Flávio Calazans, e o terceiro, o Ricardo Russo, que não quer assumir o Bank of Europe" afirmou.
O BC teria afetado Edemar já em 2002, ao mudar as regras de financiamento ao mercado. "Em meados de 2002, o BC decide não mais financiar o mercado. Ele fala: "Não, agora quem financia o mercado são os próprios bancos'", diz o ex-banqueiro.
Segundo ele, o Banco Santos carregava de R$ 3 bilhões a R$ 5 bilhões em títulos do Tesouro e, no fim do dia, em algumas ocasiões, precisava recorrer ao overnight para fechar o caixa. Com a mudança das normas, "os grandes bancos que tinham dinheiro para financiar esse volume passaram a exigir um desconto de 5% sobre o valor dos títulos", disse.
Cid Ferreira também acusou o BC de ter feito "uma grande maquiagem" no balanço do Banco Santos, após a intervenção. O interventor teria ficado sete meses para elaborar o balanço.
"Ele [o interventor] nos chamou e disse: "Olha, senhores, eu vou apresentar aqui alguns números, eu não vou apresentar o balanço do banco, eu vou apresentar alguns pontos sobre créditos e reciprocidades, que é o meu entendimento, e os senhores não podem discuti-lo comigo. Esses números são verdade'", disse. O BC apontou um rombo de R$ 2,8 bilhões no Santos.
Inimigos
O segundo inimigo, Flávio Calazans, é o consultor que diz ter ajudado Cid Ferreira a montar uma rede de cinco empresas financeiras e de comércio exterior alguns meses antes da intervenção do BC no Banco Santos. Por esse canal, escoaram, ilegalmente, mais de R$ 480 milhões para o exterior.
O terceiro, Ricardo Russo, é um ex-funcionário de Cid Ferreira que dirigia o Bank of Europe, com sede em Antígua. O BOE ajudou uma das empresas do banqueiro, a Alsace Lorraine, a captar US$ 224,6 milhões para o Santos. "Ficamos reféns do Ricardo Russo e do Bank of Europe. E ele se torna dono do banco [BOE]. Dá ordem em todo mundo", disse.
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