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30/01/2003
-
11h24
Especial para a Folha
"Ao pegar uma pepita desgastada de um metal cinzento, dizia: "Densa, não é?", e a jogava para mim. É uma pepita de platina. É assim que elas são encontradas, como pepitas de metal puro. A maioria dos metais é encontrada em combinação com outras coisas, nos minérios. Existem pouquíssimos outros metais que ocorrem sem mistura. Como a platina, apenas o ouro, a prata, o cobre e um ou outro mais" (trecho extraído do ótimo livro "Tio Tungstênio", de Oliver Sacks).
Mas por que é assim? Por que só alguns poucos metais são encontrados puros na natureza?
Para entender, você deve saber a diferença entre forma metálica e forma oxidada de um metal. Por exemplo, na natureza, o ferro costuma ser encontrado como o minério hematita, combinado com o oxigênio (Fe2O3). Dizemos que ele está oxidado (sua carga é +3). Já nas vigas da construção civil, ele é o ferro metálico (Fe0, sua carga é nula).
Na natureza, não há Fe0. Ele é produzido a partir dos minérios de ferro (como a hematita). Quando o ferro é exposto ao ar, ele se oxida (enferruja), como se estivesse querendo voltar a ser hematita. É como se a natureza preferisse que o metal permanecesse na sua forma oxidada. Mas por que o ferro sofre essa transformação e a platina não?
A resposta está no potencial de oxidação. É ele que mede a "vontade" que um metal tem de se oxidar. Para entender, imagine uma montanha: no topo, situe os metais alcalinos e alcalinos-terrosos (grupos um e dois da tabela periódica, respectivamente).
Um pouco abaixo, mas antes de chegar ao nível do mar (onde colocaremos o hidrogênio), coloque o zinco e o ferro. Por último, imagine uma depressão abaixo do nível do mar, onde estão: platina, ouro, prata e cobre. Percebeu algo?
Os metais citados por Oliver Sacks estão todos nessa depressão. São os que não sofrem (muito) a ação oxidante da atmosfera. Resumindo: quanto mais alto o metal estiver nessa montanha, maior será sua "vontade" de se oxidar. Mais difícil será encontrá-lo puro.
Há alguns anos, uma prova de vestibular perguntou se seria possível um dia lermos a seguinte manchete nos jornais: "Encontradas minas de sódio no sertão nordestino". O que você acha? Do ponto de vista químico, essa manchete é possível? Se tiver alguma dúvida, mande-me um e-mail.
Átomos, elementos, metais, oxidações... Esse é o mundo da química. O mundo em que vivemos.
Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br
Química: Pepitas de sódio no sertão nordestino?
LUÍS FERNANDO PEREIRAEspecial para a Folha
"Ao pegar uma pepita desgastada de um metal cinzento, dizia: "Densa, não é?", e a jogava para mim. É uma pepita de platina. É assim que elas são encontradas, como pepitas de metal puro. A maioria dos metais é encontrada em combinação com outras coisas, nos minérios. Existem pouquíssimos outros metais que ocorrem sem mistura. Como a platina, apenas o ouro, a prata, o cobre e um ou outro mais" (trecho extraído do ótimo livro "Tio Tungstênio", de Oliver Sacks).
Mas por que é assim? Por que só alguns poucos metais são encontrados puros na natureza?
Para entender, você deve saber a diferença entre forma metálica e forma oxidada de um metal. Por exemplo, na natureza, o ferro costuma ser encontrado como o minério hematita, combinado com o oxigênio (Fe2O3). Dizemos que ele está oxidado (sua carga é +3). Já nas vigas da construção civil, ele é o ferro metálico (Fe0, sua carga é nula).
Na natureza, não há Fe0. Ele é produzido a partir dos minérios de ferro (como a hematita). Quando o ferro é exposto ao ar, ele se oxida (enferruja), como se estivesse querendo voltar a ser hematita. É como se a natureza preferisse que o metal permanecesse na sua forma oxidada. Mas por que o ferro sofre essa transformação e a platina não?
A resposta está no potencial de oxidação. É ele que mede a "vontade" que um metal tem de se oxidar. Para entender, imagine uma montanha: no topo, situe os metais alcalinos e alcalinos-terrosos (grupos um e dois da tabela periódica, respectivamente).
Um pouco abaixo, mas antes de chegar ao nível do mar (onde colocaremos o hidrogênio), coloque o zinco e o ferro. Por último, imagine uma depressão abaixo do nível do mar, onde estão: platina, ouro, prata e cobre. Percebeu algo?
Os metais citados por Oliver Sacks estão todos nessa depressão. São os que não sofrem (muito) a ação oxidante da atmosfera. Resumindo: quanto mais alto o metal estiver nessa montanha, maior será sua "vontade" de se oxidar. Mais difícil será encontrá-lo puro.
Há alguns anos, uma prova de vestibular perguntou se seria possível um dia lermos a seguinte manchete nos jornais: "Encontradas minas de sódio no sertão nordestino". O que você acha? Do ponto de vista químico, essa manchete é possível? Se tiver alguma dúvida, mande-me um e-mail.
Átomos, elementos, metais, oxidações... Esse é o mundo da química. O mundo em que vivemos.
Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br
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