Publicidade
Publicidade
10/04/2003
-
11h25
da Folha de S.Paulo
Muito já se falou sobre o poder da linguagem, sobre a força das palavras. Neste momento, em que os EUA invadem o Iraque, ignorando os clamores de paz do mundo inteiro, é lançado na mídia norte-americana um discurso que, exportado para o resto do planeta, busca legitimar a guerra.
As palavras-chave do discurso oficial norte-americano são "liberdade" e "democracia", os supostos fins que justificariam os meios. São termos de conotação positiva, verdadeiros axiomas.
O presidente George W. Bush declarou sua "luta do bem contra o mal", bipartindo o mundo -os EUA e seus aliados personificariam o bem e, como heróis, assumiriam a tarefa de combater o mal (os outros). Claramente maniqueísta, o arrazoado visa à adesão do mundo à causa dos EUA.
Batizada de "guerra preventiva" -alegaram que Saddam Hussein se preparava para usar armas de destruição em massa-, a ação militar no Iraque mais uma vez ganha conotação positiva na retórica oficial. E os EUA reforçam - ainda que paradoxalmente- seu papel de guardiões da paz. Em suma: fazem a guerra em nome da paz.
A intervenção militar, denominada "guerra pacífica", seria o passaporte para a liberdade e para a democracia.
A morte de civis e a falta de rumo das bombas "inteligentes" (que deveriam atingir com precisão os alvos militares) não passam de "efeitos colaterais", decorrentes do remédio que cura o mal. O discurso dos EUA, no mínimo, vale por uma aula de eufemismos.
Segundo uma autoridade do Pentágono, o termo "batalha" é inadequado para descrever o cerco de Bagdá por ser uma "hipérbole". Será um exagero dizer que há uma batalha em Bagdá?
Faz parte dos objetivos dos EUA, sejam eles quais forem, evitar que sua reputação de "paladinos do bem" saia do episódio abalada. Resta saber se a retórica do presidente vai minorar o impacto das imagens de desolação a que o mundo assiste em tempo real.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de português da Folha. E-mail: tnicoleti@folhasp.com.br
Português: Discurso retórico tenta minorar a tragédia da guerra
THAÍS NICOLETI DE CAMARGOda Folha de S.Paulo
Muito já se falou sobre o poder da linguagem, sobre a força das palavras. Neste momento, em que os EUA invadem o Iraque, ignorando os clamores de paz do mundo inteiro, é lançado na mídia norte-americana um discurso que, exportado para o resto do planeta, busca legitimar a guerra.
As palavras-chave do discurso oficial norte-americano são "liberdade" e "democracia", os supostos fins que justificariam os meios. São termos de conotação positiva, verdadeiros axiomas.
O presidente George W. Bush declarou sua "luta do bem contra o mal", bipartindo o mundo -os EUA e seus aliados personificariam o bem e, como heróis, assumiriam a tarefa de combater o mal (os outros). Claramente maniqueísta, o arrazoado visa à adesão do mundo à causa dos EUA.
Batizada de "guerra preventiva" -alegaram que Saddam Hussein se preparava para usar armas de destruição em massa-, a ação militar no Iraque mais uma vez ganha conotação positiva na retórica oficial. E os EUA reforçam - ainda que paradoxalmente- seu papel de guardiões da paz. Em suma: fazem a guerra em nome da paz.
A intervenção militar, denominada "guerra pacífica", seria o passaporte para a liberdade e para a democracia.
A morte de civis e a falta de rumo das bombas "inteligentes" (que deveriam atingir com precisão os alvos militares) não passam de "efeitos colaterais", decorrentes do remédio que cura o mal. O discurso dos EUA, no mínimo, vale por uma aula de eufemismos.
Segundo uma autoridade do Pentágono, o termo "batalha" é inadequado para descrever o cerco de Bagdá por ser uma "hipérbole". Será um exagero dizer que há uma batalha em Bagdá?
Faz parte dos objetivos dos EUA, sejam eles quais forem, evitar que sua reputação de "paladinos do bem" saia do episódio abalada. Resta saber se a retórica do presidente vai minorar o impacto das imagens de desolação a que o mundo assiste em tempo real.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de português da Folha. E-mail: tnicoleti@folhasp.com.br
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Avaliação reprova 226 faculdades do país pelo 4º ano consecutivo
- Dilma aprova lei que troca dívidas de universidades por bolsas
- Notas das melhores escolas paulistas despencam em exame; veja
- Universidades de SP divulgam calendário dos vestibulares 2013
- Mercadante diz que não há margem para reajuste maior aos docentes
+ Comentadas
- Câmara sinaliza absolvição de deputados envolvidos com Cachoeira
- Alunos com bônus por raça repetem mais na Unicamp
+ EnviadasÍndice