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03/09/2003 - 09h39

Artigo: Professores do barulho

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GILBERTO DIMENSTEIN
colunista da Folha de S.Paulo

Para Cláudio Latrophe, as matérias lecionadas na escola não despertavam interesse. Ele achava quase todos os seus professores maçantes. Passava de ano amaldiçoando lições e provas. Desde a semana passada, mudou de lado e virou professor.

Na sala de aula de Cláudio, não há cadeira, lousa, mesa. Nem janela. O professor tem direito a fazer barulho, enquanto os alunos permanecem silenciosos, atentos às lições dentro da casa noturna Amp Galaxy --ali Cláudio forma novos DJs.

O aluno relapso só pensava em música e fez faculdade na marra, pressionado pela família. Não resistiu. A música soou mais alto. Ele jogou o diploma no lixo e batizou-se de Kbça. "Aprendi fazendo, não tinha quem me ensinasse a arte de ser DJ", conta.

A trajetória de aluno relapso a professor aplicado surgiu por causa de um inesperado convite. A direção da Amp queria aproveitar os horários vagos da pista de dança para ajudar candidatos a DJ, numa parceria com a Universidade Anhembi Morumbi e com a rádio Brasil 2000.

Kbça foi chamado para ensinar à primeira turma. "Tive de me inventar como DJ, vou ter de me inventar como professor", diz. Tudo o que ele ia aprendendo anotava em papéis dispersos e agora vai servir de manual dos primeiros passos de um DJ.

As aulas são dadas em dupla. Kbça é acompanhado por Umberto Liberato. Quando contou para a família que iria ser DJ, ouviu de vários parentes: "Vá procurar um emprego de verdade". As notas que lhe davam satisfação não vinham dos boletins, mas dos aparelhos de som que entulhavam seu quarto, onde experimentava a mistura de sons. Como Kbça, Liberato tornou-se profissional reconhecido.

Sua primeira lição aos aprendizes de DJ tem pouco a ver com harmonias e mixagens. "Para ser DJ, é preciso ser feliz. Se você não estiver feliz, seu público não vai estar."

Le Cuk, um dos proprietários da Amp, está preparando uma formatura diferente. Vai convidar para a festa empresários de clubes noturnos a fim de que ouçam a apresentação dos formandos. "Quem sabe eles saiam dali com algo melhor do que um diploma: um emprego", aposta Le Cuk. O diploma, aliás, será em formato de um disco de vinil.
 

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