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30/09/2003
-
09h22
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, no Rio
Quem nunca ouviu o pai ou o avô dizer que, "no meu tempo", a escola pública tinha qualidade? Na maioria dos casos, a afirmação é mesmo verdadeira. As "Estatísticas do Século XX" do IBGE mostram, no entanto, que essa comparação não pode ser feita sem levar em conta que, "naquele tempo", essa escola era para poucos.
A principal característica da educação brasileira no século 20 foi a massificação do acesso ao ensino fundamental e médio. Os dados não permitem a comparação exata com a faixa etária de 7 a 17 anos (idades indicadas para o ensino fundamental e médio), mas é possível comparar as matrículas com a evolução da população de 5 a 19 anos.
O Anuário Estatístico do Brasil de 1940 mostra que, naquele ano, havia 3,3 milhões de estudantes nos níveis primário e secundário, equivalentes hoje, juntos, ao ensino fundamental e médio. O número de matriculados na escola representava apenas 21% do total de 15,5 milhões de brasileiros entre 5 e 19 anos.
De 1940 para 1960, essa proporção evoluiu de 21% para 31%. Foi só a partir da década de 60 que as matrículas passaram a crescer num ritmo muito maior do que o crescimento da população em idade escolar. A proporção chegou a 58% em 1978 e a 86% em 1998. A massificação do ensino fica mais evidente quando se observa a taxa de escolarização da população de 7 a 14 anos (idade indicada para o ensino fundamental) em 2000, que chegou a 94,5%.
A melhoria nesses indicadores mais básicos da educação resultou também na redução da taxa de analfabetismo. O país iniciou o século passado com 65,1% de sua população com mais de 15 anos de idade sem saber ler e escrever e terminou com 13,6%, em 2000.
Comparando com outros países e levando em conta que o Brasil foi o país que apresentou o terceiro maior crescimento do PIB no século 20, a taxa ainda é alta. A Argentina, que em 1970 tinha apenas 7% de sua população analfabeta, terminou o século com 3,2%.
Para o educador Jorge Nagle, autor do livro "Educação e Sociedade na Primeira República" (editora DP&A), a escola da primeira metade do século estava preparada para atender a um pequeno número de estudantes: "Quando a educação se expandiu, esse ajuste não foi feito. Continuamos com um padrão de ensino e cultura muito semelhante ao daquela época e temos dificuldade de pensar num novo padrão que dê conta dessa massificação".
Para Nagle, apesar da quase universalização do ensino fundamental, a democratização do ensino só acontecerá quando houver qualidade. "O ensino fundamental está disseminado, mas a escola ainda não está ensinando adequadamente. Se o aluno não aprende nos quatro primeiros anos na escola, a democratização fica só no número", diz.
Arnaldo Niskier, autor do livro "Educação Brasileira - 500 Anos de História" (Funarte), concorda: "Não é preciso ter estatísticas completas desde o início do século para perceber que a massificação veio acompanhada da perda de qualidade. Isso é visível".
Para Niskier, a perda do prestígio do professor é uma das principais causas da queda de qualidade. "O professor era de excelente qualidade e tinha alegria de dar aula. Hoje, muitas vezes, ele dá aula por obrigação e é um revoltado com as suas condições de trabalho."
Ensino se massifica no século 20, mas perde qualidade
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da Folha de S.Paulo, no Rio
Quem nunca ouviu o pai ou o avô dizer que, "no meu tempo", a escola pública tinha qualidade? Na maioria dos casos, a afirmação é mesmo verdadeira. As "Estatísticas do Século XX" do IBGE mostram, no entanto, que essa comparação não pode ser feita sem levar em conta que, "naquele tempo", essa escola era para poucos.
A principal característica da educação brasileira no século 20 foi a massificação do acesso ao ensino fundamental e médio. Os dados não permitem a comparação exata com a faixa etária de 7 a 17 anos (idades indicadas para o ensino fundamental e médio), mas é possível comparar as matrículas com a evolução da população de 5 a 19 anos.
O Anuário Estatístico do Brasil de 1940 mostra que, naquele ano, havia 3,3 milhões de estudantes nos níveis primário e secundário, equivalentes hoje, juntos, ao ensino fundamental e médio. O número de matriculados na escola representava apenas 21% do total de 15,5 milhões de brasileiros entre 5 e 19 anos.
De 1940 para 1960, essa proporção evoluiu de 21% para 31%. Foi só a partir da década de 60 que as matrículas passaram a crescer num ritmo muito maior do que o crescimento da população em idade escolar. A proporção chegou a 58% em 1978 e a 86% em 1998. A massificação do ensino fica mais evidente quando se observa a taxa de escolarização da população de 7 a 14 anos (idade indicada para o ensino fundamental) em 2000, que chegou a 94,5%.
A melhoria nesses indicadores mais básicos da educação resultou também na redução da taxa de analfabetismo. O país iniciou o século passado com 65,1% de sua população com mais de 15 anos de idade sem saber ler e escrever e terminou com 13,6%, em 2000.
Comparando com outros países e levando em conta que o Brasil foi o país que apresentou o terceiro maior crescimento do PIB no século 20, a taxa ainda é alta. A Argentina, que em 1970 tinha apenas 7% de sua população analfabeta, terminou o século com 3,2%.
Para o educador Jorge Nagle, autor do livro "Educação e Sociedade na Primeira República" (editora DP&A), a escola da primeira metade do século estava preparada para atender a um pequeno número de estudantes: "Quando a educação se expandiu, esse ajuste não foi feito. Continuamos com um padrão de ensino e cultura muito semelhante ao daquela época e temos dificuldade de pensar num novo padrão que dê conta dessa massificação".
Para Nagle, apesar da quase universalização do ensino fundamental, a democratização do ensino só acontecerá quando houver qualidade. "O ensino fundamental está disseminado, mas a escola ainda não está ensinando adequadamente. Se o aluno não aprende nos quatro primeiros anos na escola, a democratização fica só no número", diz.
Arnaldo Niskier, autor do livro "Educação Brasileira - 500 Anos de História" (Funarte), concorda: "Não é preciso ter estatísticas completas desde o início do século para perceber que a massificação veio acompanhada da perda de qualidade. Isso é visível".
Para Niskier, a perda do prestígio do professor é uma das principais causas da queda de qualidade. "O professor era de excelente qualidade e tinha alegria de dar aula. Hoje, muitas vezes, ele dá aula por obrigação e é um revoltado com as suas condições de trabalho."
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