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16/10/2003
-
12h34
PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha de S. Paulo
Lá vêm elas, de novo! E quem são "elas"? As benditas propagandas de cerveja. Cada vez que uma delas é ejetada ao ar, os leitores me bombardeiam. Desta vez, querem saber sobre o tal do "experimenta". A maioria dos leitores perguntou se a forma correta não seria "experimente".
Vamos lá, pois. Em termos de língua padrão, "experimenta" e "experimente" são flexões corretas do modo imperativo (afirmativo). A diferença fica por conta da pessoa gramatical, que, no caso de "experimenta", é a segunda do singular ("tu") e, no caso de "experimente", é a terceira do singular ("você", "senhor/a" etc.).
Parece conveniente lembrar o sistema de conjugação do imperativo afirmativo padrão. As duas segundas pessoas ("tu" e "vós") vêm do presente do indicativo, sem o "s" final. Como a segunda pessoa do singular do presente do indicativo do verbo "experimentar" é "(tu) experimentas", a segunda do singular do imperativo afirmativo é "experimenta (tu)". As demais pessoas do imperativo afirmativo vêm do presente do subjuntivo, sem alteração. De "que você experimente" (presente do subjuntivo) se faz "experimente (você)".
Posto isso, podemos passar a outro aspecto da questão, o do modo imperativo da língua coloquial. Nesse caso, é fundamental levar em conta a região do país. No dialeto paulista, por exemplo, o pronome de tratamento usado entre pessoas íntimas é "você"; no imperativo, a flexão adotada é justamente a que a gramática normativa dá como pertencente à segunda pessoa ("tu"). Em outras palavras, os paulistas dizem "Anda logo, senão você vai chegar atrasado" ou "Mostra logo o que você comprou", por exemplo.
Em outros dialetos (o baiano, por exemplo), o pronome "você" costuma ser associado à flexão de imperativo afirmativo que a gramática padrão dá como pertencente à terceira do singular. Em outras palavras, os baianos dizem "Ande logo, senão você vai chegar atrasado" ou "Mostre logo o que você comprou", por exemplo.
Os redatores da propaganda certamente discutiram o assunto, ou seja, discutiram se seria melhor empregar "experimenta" ou "experimente". Como se vê, preferiram a forma comum no dialeto da região mais rica do país.
É bom que se diga que, em termos de língua padrão, a flexão "experimenta" seria associada, por exemplo, a formas como "Tu vais gostar" ou "Tu não te arrependerás", enquanto a flexão "experimente" seria associada a formas como "Você vai gostar" ou "Você não se arrependerá".
O assunto pode ser ilustrado por esta questão da Fuvest (de 2003): "Entre as mensagens abaixo, a única que está de acordo com a norma escrita culta é: a) Confira as receitas incríveis preparadas para você. Clica aqui! / b) Mostra que você tem bom coração. Contribua para a campanha do agasalho. / c) Cura-te a ti mesmo e seja feliz. / d) Não subestime o consumidor. Venda produtos de boa qualidade. / e) Em caso de acidente, não siga viagem. Pede o apoio de um policial".
E então? A resposta é "d". Nessa frase, as formas "não subestime" (do imperativo negativo, conjugado integralmente a partir do presente do subjuntivo) e "venda" (do imperativo afirmativo) estão na terceira do singular ("você", "senhor/a"). Volto à questão na próxima semana, para comentar as demais frases. É isso.
Artigo:"Experimenta"
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Colunista da Folha de S. Paulo
Lá vêm elas, de novo! E quem são "elas"? As benditas propagandas de cerveja. Cada vez que uma delas é ejetada ao ar, os leitores me bombardeiam. Desta vez, querem saber sobre o tal do "experimenta". A maioria dos leitores perguntou se a forma correta não seria "experimente".
Vamos lá, pois. Em termos de língua padrão, "experimenta" e "experimente" são flexões corretas do modo imperativo (afirmativo). A diferença fica por conta da pessoa gramatical, que, no caso de "experimenta", é a segunda do singular ("tu") e, no caso de "experimente", é a terceira do singular ("você", "senhor/a" etc.).
Parece conveniente lembrar o sistema de conjugação do imperativo afirmativo padrão. As duas segundas pessoas ("tu" e "vós") vêm do presente do indicativo, sem o "s" final. Como a segunda pessoa do singular do presente do indicativo do verbo "experimentar" é "(tu) experimentas", a segunda do singular do imperativo afirmativo é "experimenta (tu)". As demais pessoas do imperativo afirmativo vêm do presente do subjuntivo, sem alteração. De "que você experimente" (presente do subjuntivo) se faz "experimente (você)".
Posto isso, podemos passar a outro aspecto da questão, o do modo imperativo da língua coloquial. Nesse caso, é fundamental levar em conta a região do país. No dialeto paulista, por exemplo, o pronome de tratamento usado entre pessoas íntimas é "você"; no imperativo, a flexão adotada é justamente a que a gramática normativa dá como pertencente à segunda pessoa ("tu"). Em outras palavras, os paulistas dizem "Anda logo, senão você vai chegar atrasado" ou "Mostra logo o que você comprou", por exemplo.
Em outros dialetos (o baiano, por exemplo), o pronome "você" costuma ser associado à flexão de imperativo afirmativo que a gramática padrão dá como pertencente à terceira do singular. Em outras palavras, os baianos dizem "Ande logo, senão você vai chegar atrasado" ou "Mostre logo o que você comprou", por exemplo.
Os redatores da propaganda certamente discutiram o assunto, ou seja, discutiram se seria melhor empregar "experimenta" ou "experimente". Como se vê, preferiram a forma comum no dialeto da região mais rica do país.
É bom que se diga que, em termos de língua padrão, a flexão "experimenta" seria associada, por exemplo, a formas como "Tu vais gostar" ou "Tu não te arrependerás", enquanto a flexão "experimente" seria associada a formas como "Você vai gostar" ou "Você não se arrependerá".
O assunto pode ser ilustrado por esta questão da Fuvest (de 2003): "Entre as mensagens abaixo, a única que está de acordo com a norma escrita culta é: a) Confira as receitas incríveis preparadas para você. Clica aqui! / b) Mostra que você tem bom coração. Contribua para a campanha do agasalho. / c) Cura-te a ti mesmo e seja feliz. / d) Não subestime o consumidor. Venda produtos de boa qualidade. / e) Em caso de acidente, não siga viagem. Pede o apoio de um policial".
E então? A resposta é "d". Nessa frase, as formas "não subestime" (do imperativo negativo, conjugado integralmente a partir do presente do subjuntivo) e "venda" (do imperativo afirmativo) estão na terceira do singular ("você", "senhor/a"). Volto à questão na próxima semana, para comentar as demais frases. É isso.
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