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30/09/2004 - 09h16

Graduação não garante vaga na área escolhida

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ALEXANDRE NOBESCHI
da Folha de S. Paulo

Quando foi preencher a ficha de inscrição para o vestibular, Vanessa Fernandes, 22, sabia apenas que o curso de turismo estava na moda. Empolgada com o que ouvia sobre o mercado de trabalho, iniciou a graduação com a certeza de que iria conseguir, com facilidade, um emprego. "Entrei justamente na época do boom do curso de turismo."

A realidade dela, hoje, é outra. Formada em 2003, ela nunca conseguiu encontrar uma vaga na área. Durante o curso, Vanessa distribuiu diversos currículos, mas raramente foi convidada para participar de entrevistas.

Além de não estar no mercado de trabalho, Vanessa conta que algumas colegas não atuam com o que estudaram na graduação. "Tenho muitas amigas que viraram operadoras de telemarketing", revela Vanessa.

Esse panorama pode ser bem visualizado com o estudo realizado, no ano passado, pelo economista Claudio Dedecca, professor da Unicamp. De acordo com sua análise, que utilizou dados do Censo 2000, 37% das pessoas com ensino superior no Estado de São Paulo exercem atividades que dispensariam a formação acadêmica. Esse fenômeno é chamado de desemprego intelectual, expressão elaborada na Itália. No mês passado, o índice de desemprego geral foi de 11,4% no Brasil, segundo o IBGE.

"Vem aumentando o desemprego de pessoas com formação elevada porque não houve crescimento econômico suficiente para absorver toda a demanda de mão-de-obra especializada", explica o professor. De acordo com o professor, esse perfil de empregado tem mais dificuldade de conseguir uma vaga no mercado do que um trabalhador com qualificação inferior.

Essa falta de oportunidade também pode ser explicada quando se olha para as escolhas que os estudantes realizam na hora de prestar o vestibular. Por empolgação, como no caso de Vanessa, ou por acreditar que o mercado poderá receber com facilidade o contingente de graduados, os estudantes escolhem carreiras em que as vagas estão escassas.

Segundo a consultora de carreira Luciana Sarkozy, os jovens precisam ficar atentos para não escolher uma profissão apenas porque ela está na moda. "Não se pode levar apenas o mercado em consideração", afirma Luciana, que é sócia-diretora do Career Center, empresa de consultoria.

Caso o estudante analise apenas as condições do mercado, segundo Luciana, ele pode ter algumas frustrações. "Um dos exemplos que sempre utilizo é o caso das telecomunicações. Acreditava-se que o Brasil teria um amplo mercado. Muita gente, por conta disso, trocou de profissão ou optou por uma formação voltada à área. Acontece que o setor não conseguiu se desenvolver como era esperado que ocorresse."

Outra promessa, de acordo com a orientadora profissional Fátima Trindade, foi o turismo. "Há sete ou oito anos, dizia-se que seria uma profissão com amplo mercado, mas ninguém esperava os atentados de 11 de setembro [em 2001], que levaram a um esfriamento do setor", diz Fátima.

Segunda chance

Após ter passado os quatro anos na faculdade de turismo, Vanessa, agora, quer tentar outra profissão. Ela se prepara para concorrer a uma vaga no curso de gastronomia, mas não esconde o receio de que pode fazer novamente uma escolha errada. "Dá medo de cometer outro erro, de perder tempo e dinheiro."

Segundo a psicóloga e orientadora de carreira Sofia Esteves do Amaral, atualmente, vem crescendo o número de pessoas que mudam de profissão. "Hoje, a carreira não é mais como era antigamente, linear."

Para evitar surpresas no meio do percurso, a orientadora Fátima Trindade explica que o estudante deve observar os fatores que o motivam a fazer a escolha ou a troca de profissão. Ela aponta que é necessário que o jovem se conheça e que faça uma análise do seu tipo de comportamento.

"O jovem não pode ir pelos desejos dos pais nem pelo dinheiro ou sucesso que a carreira irá trazer. A única coisa que ele precisa levar em consideração é observar o que o deixa motivado", orienta.

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