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11/02/2006 - 09h10

MEC discute a volta do "vovô viu a uva"

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ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, no Rio de Janeiro

O Ministério da Educação (MEC) vai revisar o processo de alfabetização para as primeiras séries do ensino fundamental e abrir uma polêmica pedagógica.

O ponto mais discutido desse debate divide educadores da linha construtivista, predominante na maioria das escolas públicas e privadas do país, e defensores do método fônico, priorizado hoje em vários países desenvolvidos.

A discussão surge no preparo das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para as séries iniciais do ensino fundamental, que ganhou um ano a mais nesta semana com a nova lei que amplia para nove anos o tempo mínimo desse nível de ensino. O ministro Fernando Haddad pediu à Secretaria de Educação Básica que inicie a discussão com educadores de várias correntes.

"Na oportunidade em que estamos mudando a estrutura e o padrão de financiamento da educação [com a aprovação do Fundeb], entendemos que seria interessante iniciar um debate sobre alfabetização, tendo em vista os altos índices de repetência na primeira série do ensino fundamental.

O ministério não está tomando partido de nenhuma corrente, mas, se o mundo inteiro fez esse debate, achamos que é preciso fazê-lo no Brasil também."

A Diretrizes Curriculares Nacionais são aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação e definem o que se espera em cada idade que uma criança aprenda em determinada série. A partir dessas diretrizes, o MEC produz os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), instrumento que é distribuído para professores de todo o Brasil com o sentido de orientar como trabalhar os conteúdos em sala de aula.

Os PCNs em vigor atualmente foram elaborados na gestão do ministro Paulo Renato Souza. Neles, é evidente a influência das teorias construtivistas, que descartam o uso de textos ou cartilhas elaborados com o objetivo de promover a decodificação do alfabeto e que levem a associações entre fonemas e letras. Para os construtivistas, melhor é trabalhar com textos reais, ou seja, aqueles que já fazem parte do universo infantil, como o de um livro.

A prioridade dada à associação entre fonemas e letras é o principal ponto que divide defensores do método fônico e os que adotam propostas construtivistas. No método fônico, a ênfase está em ensinar a criança a associar rapidamente letras e fonemas. Ou seja, a criança aprende rapidamente que o código que representa a letra "A" é associado ao som "A".

Para isso, o método fônico lança mão de material didático com textos produzidos para esse fim. "Vovô viu a uva", por exemplo, pode ser usado para ensinar à criança que aquele código da letra "V" é associado a um som.

Entre os construtivistas, há correntes que variam entre os que rejeitam completamente o método fônico e aqueles que aceitam alguns elementos da teoria. O ponto comum entre a maioria dos construtivistas, porém, é rejeitar a prioridade do processo fônico e, principalmente, o uso de um material único a ser aplicado em todos os alunos. Por isso que as escolas dessa linha tendem a usar textos já escritos por outros autores no processo de alfabetização.

Apesar da predominância das teorias construtivistas nos atuais parâmetros curriculares, os defensores do método fônico vêm ganhando visibilidade após alguns países desenvolvidos terem revisto a ênfase dada no passado ao método global (whole language, em inglês), usado por muitos construtivistas.

Os governos da França, Inglaterra e Estados Unidos, por exemplo, desaconselharam o uso exclusivo do método global. Os EUA, por exemplo, não financiam programas de alfabetização que descartem o método fônico.
Para os defensores do método fônico no Brasil, essas são evidências de que o país está remando contra a maré dos países desenvolvidos. Para boa parte dos construtivistas, no entanto, os dois métodos podem ser combinados.

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