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23/01/2001
-
12h33
especial para a Folha de S.Paulo
Dizer que uma mulher "deu a luz a um filho" é impropriedade oriunda da falsa interpretação de que a luz é dada ao filho. Na realidade, o filho é dado à luz, esta entendida como o mundo, a vida. Portanto devemos dizer que uma mulher "deu à luz um filho". Mesmo sem o complemento direto (um filho), a expressão continua preposicionada. É correto dizer, por exemplo, que "as mulheres deram à luz em condições precárias". Sempre ocorrerá crase na expressão "dar à luz".
A crase (do grego "krâsis"= fusão) é o fenômeno de contração de sons vocálicos. No português atual, assinalada pelo acento grave, ocorre sobretudo quando se encontram a preposição "a" e os artigos femininos "a" e "as". Assim, é fácil deduzir que não há crase antes de verbos nem de palavras masculinas, pois são termos que não admitem anteposição de artigos femininos. É o que acontece também com a maioria dos pronomes.
Comuns, todavia, são os erros de colocação do acento grave. Você já deve ter visto algum cartaz anunciando uma grande venda promocional "à partir" de certa data. Ora, "partir" é um verbo antecedido da preposição "a". Não havendo fusão de vogais, não se justifica o uso do acento grave.
É tudo muito simples, mas há casos que merecem mais atenção. Suponhamos que alguém construa a seguinte frase: "Amava a mãe a filha". A ambiguidade presente na construção certamente não ocorreria se os termos estivessem dispostos em ordem direta ("A mãe amava a filha" ou "A filha amava a mãe"). Mas é fato que a sentença ganha expressividade quando os termos têm sua ordem diferente da usual. Como eliminar o duplo sentido da frase sem alterar a posição das palavras? O ser amado exerce sintaticamente a função de objeto direto (complemento sem preposição obrigatória). Podemos preposicioná-lo, fazendo ocorrer a crase no "a" que introduz o complemento do verbo. Assim: "Amava à mãe a filha" (a mãe é o ser amado) ou "Amava a mãe à filha" (a filha é o ser amado).
Um carro é movido "a gasolina" ou "à gasolina"? A primeira forma é a correta. Note que ninguém diz que um carro é movido "ao álcool". A palavra, quando tomada em seu sentido genérico, não admite o uso de artigo definido, motivo pelo qual nem sempre ocorre crase antes de palavras femininas precedidas de preposição "a". Exemplos disso são construções como: "sujeito a multa", "escrever a tinta", "doação a instituição beneficente" e tantas outras.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha e apresentadora das aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura
Resumão/português - Algumas ocorrências de crase
THAÍS NICOLETI DE CAMARGOespecial para a Folha de S.Paulo
Dizer que uma mulher "deu a luz a um filho" é impropriedade oriunda da falsa interpretação de que a luz é dada ao filho. Na realidade, o filho é dado à luz, esta entendida como o mundo, a vida. Portanto devemos dizer que uma mulher "deu à luz um filho". Mesmo sem o complemento direto (um filho), a expressão continua preposicionada. É correto dizer, por exemplo, que "as mulheres deram à luz em condições precárias". Sempre ocorrerá crase na expressão "dar à luz".
A crase (do grego "krâsis"= fusão) é o fenômeno de contração de sons vocálicos. No português atual, assinalada pelo acento grave, ocorre sobretudo quando se encontram a preposição "a" e os artigos femininos "a" e "as". Assim, é fácil deduzir que não há crase antes de verbos nem de palavras masculinas, pois são termos que não admitem anteposição de artigos femininos. É o que acontece também com a maioria dos pronomes.
Comuns, todavia, são os erros de colocação do acento grave. Você já deve ter visto algum cartaz anunciando uma grande venda promocional "à partir" de certa data. Ora, "partir" é um verbo antecedido da preposição "a". Não havendo fusão de vogais, não se justifica o uso do acento grave.
É tudo muito simples, mas há casos que merecem mais atenção. Suponhamos que alguém construa a seguinte frase: "Amava a mãe a filha". A ambiguidade presente na construção certamente não ocorreria se os termos estivessem dispostos em ordem direta ("A mãe amava a filha" ou "A filha amava a mãe"). Mas é fato que a sentença ganha expressividade quando os termos têm sua ordem diferente da usual. Como eliminar o duplo sentido da frase sem alterar a posição das palavras? O ser amado exerce sintaticamente a função de objeto direto (complemento sem preposição obrigatória). Podemos preposicioná-lo, fazendo ocorrer a crase no "a" que introduz o complemento do verbo. Assim: "Amava à mãe a filha" (a mãe é o ser amado) ou "Amava a mãe à filha" (a filha é o ser amado).
Um carro é movido "a gasolina" ou "à gasolina"? A primeira forma é a correta. Note que ninguém diz que um carro é movido "ao álcool". A palavra, quando tomada em seu sentido genérico, não admite o uso de artigo definido, motivo pelo qual nem sempre ocorre crase antes de palavras femininas precedidas de preposição "a". Exemplos disso são construções como: "sujeito a multa", "escrever a tinta", "doação a instituição beneficente" e tantas outras.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha e apresentadora das aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura
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