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04/06/2001 - 12h56

Movimentos estudantis estão de volta às ruas

FERNANDA MENA
da Folha de S.Paulo

Dia 20 de abril: cerca de mil jovens tomam a av. Paulista em manifestação contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Dia 10 de maio: 3.000 estudantes vão às ruas de Salvador pedir a cassação dos senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), José Roberto Arruda (sem partido-DF) e Jader Barbalho (PMDB-PA). Dia 23 de maio: 500 estudantes se reúnem em protesto contra esses senadores em Belém; 3.000 fazem o mesmo em São Paulo, e pouco mais de 2.000 jovens ocupam a Esplanada dos Ministérios, quando um grupo de participantes arria as calças e exibe os traseiros em repúdio à corrupção no Congresso. Dia 25 de maio: a irreverência praticada em Brasília ressurge em manifestação de 200 estudantes secundaristas no Rio.

Desde o movimento dos caras-pintadas pelo impeachment de Fernando Collor, em 92, não se via tanta agitação como a dos últimos dois meses. Afinal, quem são esses novos manifestantes? O que pensam? Como se organizam? E contra o quê?

As respostas não são únicas nem simples. Primeiro, porque eles são muitos, oriundos de universidades, do ensino médio, de entidades estudantis, de juventudes partidárias e de grupos autônomos altamente politizados. Segundo, porque esse todo é heterogêneo ideologicamente, unido por um descontentamento comum com relação à atual conjuntura política brasileira e mundial. Terceiro, porque cada parte adota esquemas específicos para se articular.

Os protestos contra a Alca e a globalização são movidos por organizações jovens radicais de orientações político-ideológicas diversas -do anarquismo à ecologia- que atuam fora das entidades estudantis oficiais através de uma dinâmica própria orientada pela unidade de luta contra o capitalismo (leia texto acima).

As manifestações contra a corrupção no Senado colocam em pauta questões como o apagão, o passe livre e as privatizações. São organizadas pelas entidades estudantis, que convocam em grêmios e centros acadêmicos ou por e-mail os participantes para os atos. Os protestos reúnem universitários e secundaristas transportados em ônibus das próprias entidades.

"Essas passeatas não são exatamente espontâneas. Muita gente vai mais na farra que na questão ideológica", critica o vice-presidente da Upes (União Paulista dos Estudantes Secundaristas), Welbi Maia, 28. O estudante Luiz Gustavo Uesato, 14, que esteve na manifestação do último dia 23 em São Paulo, discorda: "A maioria dos jovens sabia muito bem por que estava lá. Participei com consciência e por opção".

Wadson Ribeiro, 24, presidente da UNE, admite que há quem vá às passeatas sem saber o motivo do protesto. "O problema não é ir sem saber, mas sair do ato sem saber. Uma forma de politizar é fazer o jovem participar em níveis de consciência política diferentes", afirma.

Mesmo responsáveis por muitas das recentes mobilizações jovens -que recebem eventuais participações de integrantes dos grupos autônomos-, as entidades estudantis sofrem uma crise de representatividade e são acusadas de terem sido engolidas por partidos da esquerda tradicional e de estarem mais preocupadas com carteirinhas de meia-entrada do que com questões políticas da alçada estudantil. A secundarista Renata Machado Santarém, 17, confirma: "Pensei que a UNE servisse para tirar carteirinha. Fiquei surpresa quando descobri que não era só para isso", admite.

O presidente da Upes, Flávio Alves, 20, anima-se: "Temos novas lideranças, a juventude agora quer debater e está buscando seus canais". A estudante Carmela Caravieri, 14, que esteve na última passeata da Upes, prefere não se envolver em nenhuma entidade. "Isso gera um vício de pensamento. Prefiro estar livre para protestar quando eu acho a causa importante."

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