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12/07/2001 - 02h34

Falta de estrutura prejudica auxílio à educação de cegos

ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, no Rio

Os efeitos da campanha de incentivo ao trabalho voluntário no Brasil em pouco modificaram o dia-a-dia do tradicional Instituto Benjamin Constant, no Rio.

Fundado em 1854 pelo imperador Pedro 2º e referência na América Latina na educação de deficientes visuais desde então, o aumento da procura das pessoas que querem ser voluntárias muitas vezes esbarra na falta de estrutura da instituição, mantida pelo Ministério da Educação.

O ano de 2001 foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) como o Ano Internacional do Voluntário. Por esse motivo, o número de reportagens, propagandas e até inserções em novelas sobre o tema aumentou.

Mas os ledores (voluntários que lêem para cegos) apontam dificuldades. A principal delas é a precariedade dos instrumentos de gravação de livros para a biblioteca.

"Às vezes é realmente frustrante. Recentemente, um grupo de funcionários de uma televisão me procurou para sugerir atividades de gravação de livros para cegos. Tivemos que desistir da idéia, porque não há um estúdio de gravação no instituto", afirma Vítor Alberto Marques, 54, chefe da divisão de atividades culturais do instituto e responsável pela biblioteca, setor que concentra o maior número de voluntários.

Além de não possuir um estúdio de gravação, o instituto sofre com a falta de gravadores em bom estado. Alguns voluntários, para não deixar de ajudar, acabam usando suas próprias fitas e gravadores, em casa.

"Comprei um gravador para poder usar em atividades para o instituto e muitas vezes tenho que comprar as fitas, mas não acho que caiba ao voluntário fazer isso, até porque nem todos podem ajudar dessa maneira", afirma a professora Tereza Cristina Camargo, 52, ledora há dois anos.

Cléa Pereira Simões, 63, ledora há dez anos, também aponta a falta de gravadores como um dos principais problemas do local.

Já o professor João Souza de Sena, 55, que é cego e usuário da biblioteca do instituto, reclama das cabines de leitura e gravação: "Elas são muito apertadas, e a acústica não é boa".

Contratados

Um dos maiores receios de Marques, responsável pela biblioteca, é de que os voluntários comecem a se envolver em atividades que deveriam ser exercidas por funcionários contratados.

"Os voluntários são muito importantes para nós, mas não podem substituir um funcionário habilitado. Há falta de concursos para contratação em algumas áreas do instituto e acaba havendo uma mistura nessas funções", afirma Marques.

O chefe de gabinete da direção-geral, Antônio Menescal, diz não saber de casos de voluntários que substituam o trabalho de funcionários: "Que eu saiba, não temos nenhuma função sendo exercida por voluntários que deveriam ser de responsabilidade de técnicos da instituição".

Menescal afirma ainda que, quanto à falta de infra-estrutura para a gravação de fitas por voluntários, o problema pode ser resolvido ainda neste ano.

"No ano passado, enviamos um projeto de R$ 34 mil ao FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação] para a construção de um estúdio de gravação. O projeto só não foi aprovado por problemas burocráticos. Vamos reapresentar o projeto. Acho que não teremos dificuldades para aprová-lo a tempo de as verbas serem liberadas ainda este ano", disse Menescal.

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