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07/09/2001 - 21h08

Estudantes carentes aprendem tecnologia com pesquisador do MIT

JÚLIO CÉSAR BARROS
da Folha Online

Um grupo de estudantes carentes está aprendendo a montar, com as próprias mãos, carrinhos de controle remoto e casas de bonecas com luz e porta automática.

Brinquedos relativamente simples, que não estão ao alcance do desejo de muitas crianças, estão sendo criados em uma escola municipal próxima à favela de Heliópolis, uma das maiores da América Latina.

Quem faz tudo são os alunos que, além de se divertir, aprendem.
Rogério Cassimiro/Folha Imagem
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Durante duas semanas e meia, 20 alunos da Emef (escola de ensino fundamental) Presidente Campos Salles, em São João Clímaco, participaram da oficina "Novas Tecnologias em Comunicação e Educação", orientada pelo pós-graduando e pesquisador do MIT (Massachuts Institute of Tecnology), da Universidade de Cambridge, em Boston (EUA), o brasileiro Paulo Blikstein.

O objetivo do projeto é de colocar ao alcance dos estudantes ferramentas das novas tecnologias em comunicação e educação, como a robótica, a câmera de vídeo digital e uma ilha de edição.

"Essa é uma forma inovadora de ensino da tecnologia, onde os estudantes constróem as coisas, não damos nada pronto", afirma Blikstein. "A escola tradicional utiliza muito mal o seu tempo. As instituições deveriam incentivar as atividades práticas."

A iniciativa faz parte de uma parceria entre a a Prefeitura de São Paulo e a universidade norte-americana. A equipe do Núcleo de Novas Tecnologias para a Educação do MIT, que é coordenada pelo professor David Cavallo, realiza esse tipo de trabalho há mais de 20 anos e já atuou em países como Costa Rica, Irlanda, Peru, Chile e Moçambique.

Utilizando motores, circuitos elétricos, luzes, peças de montar e um programa de computador, os alunos da escola pública construíram mais de dez carrinhos e uma casinha de bonecas que abre a porta automaticamente e usa sensores de calor para acionar um ventilador, que se desliga quando a temperatura da casa cai. "É para economizar energia elétrica", diz um dos alunos que fez a casa.

Além dos brinquedos eletrônicos, os alunos também produziram três documentários, duas fotonovelas e um jornal. "Em todos os trabalhos, eles abordaram a problemática da comunidade. Esse projeto também visa desenvolver uma opinião crítica dos alunos", diz Paulo Blikstein.

O pesquisador da MIT se surpreendeu com a criatividade e com o interesse dos alunos. "O potencial dessas crianças é incrível. Elas demonstraram, na prática, que precisam apenas de incentivo", afirmou ele

Segundo a professora de informática da escola, Jane Droichi, a iniciativa instiga o aluno a buscar mais conhecimento. "O aluno e o professor constróem juntos o conhecimento e, dessa forma, as atividades ficam mais ricas", afirma ela.

"É maravilhoso ver esses meninos e meninas empenhados dessa maneira. Vendo isso presenciei a quebra de antigos paradigmas", afirmou Jane.

A professora acrescenta ainda que a metodologia ajuda a melhorar a auto estima dos alunos. "O professor, que assume o papel de orientador, também é responsável por mostrar um novo caminho ao estudante", afirma.

Hebert Pereira Ribeiro, 14, conta entusiasmado que sempre que assistia a filmes de ficção científica ficava intrigado com todos aqueles robôs. "Nunca imaginei em fazer esse tipo de coisa, quanto mais na escola", diz ele, que montou vários carros, mas tem orgulho em mostrar um que funciona quando iluminado com uma lanterna.

Brinquedo de criança rica

A iniciativa da prefeitura já dá mostra do seu potencial. Outro aluno, Geraldo Geferson de Sousa, 13, morador da favela de Heliópolis, se empolga ao contar como foram os dias da oficina e já faz planos para o futuro. "Quero ser um engenheiro eletrônico".

"Isso foi uma das melhoras coisas que aconteceram na minha vida. Nunca pensei em brincar com brinquedos de criança rica", afirmou Geraldo, que lamentou o fim da oficina, mas já prometeu não deixar a oportunidade escapar. "Eu e o Hebert já estamos pensando em montar carrinhos na minha casa."

O projeto termina na próxima segunda-feira (10), mas o secretário Municipal de Educação, Fernando José de Almeida, garante que a prefeitura da capital quer firmar um convênio com o MIT para levar esse tipo de atividade para todas as escolas da cidade. "Já demos o primeiro passo e, agora, não podemos mais parar", disse ele.

Em outubro, mais duas escolas participam do projeto: a Emef Paulo Prado (Parque Anhanguera) e a Emef Professor Nelson Pimentel de Queiroz (Jabaquara).

O secretário afirmou que o convênio prevê a capacitação de profissionais de instituições nacionais, mas a compra do material utilizado nas atividades deverá ser obtido por meio de parcerias entre a prefeitura e empresas brasileiras.

Almeida lembra ainda que as futuras aulas serão ministradas utilizando os computadores das escolas como suporte.

A professora da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), Roseli de Deus Lopes, afirma que a idéia é que a prefeitura e a universidade trabalhem em parceria. Para ela, os alunos da Poli poderiam levar os seus conhecimentos aos estudantes das escolas públicas.

"Os universitários devem orientar os alunos a desenvolverem a sensibilidade de resolver problemas", diz a professora da Poli, acrescentando que todos devem aprender com a experiência.
 

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