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11/10/2001
-
08h15
da Folha de S.Paulo, no Rio
O presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), Carlos Roberto Antunes dos Santos, considera que o MEC errou ao suspender o pagamento dos salários, num momento em que, segundo ele, as negociações com sindicatos de professores e servidores universitários estavam evoluindo.
Reitor da Universidade Federal do Paraná, ele acha justas as reivindicações dos grevistas, mas é "totalmente contra" o cancelamento do semestre e do vestibular. "Ainda há tempo para a retomada do período letivo", afirmou Santos, 55, em entrevista à Folha. Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista:
Folha - O sr. acha que houve erro do MEC na negociação da greve?
Carlos Roberto Antunes dos Santos - Na reunião em que o ministro nos disse que, se não houvesse a retomada das atividades dos servidores e professores, ele suspenderia o repasse das verbas para o salário, nós, da Andifes, colocamos que o momento não era próprio para tomar essa decisão. Já havia um processo de avanço da negociação com a Fasubra (sindicato que representa os servidores) e até comissões para discutir questões ligadas às pautas de reivindicações.
Era um momento de construção do debate, e a nossa posição era que o corte dos salários poderia levar a um processo de radicalização da greve. O ministro nos explicou que estava cumprindo a lei, mas achávamos que poderia ter esperado mais um pouco.
Folha - A Andifes considera justa a reivindicação dos grevistas?
Santos - Sim. No caso dos servidores, eles estão há sete anos sem reajuste salarial. Com relação aos docentes, que pedem um reajuste de 75,48%, sabemos que há uma enorme diferença entre o que eles pedem e o que o MEC oferece. Nós entendemos, no entanto, que as reivindicações dos servidores e dos professores devem iniciar um processo de negociação com o governo. Consideramos justas as pautas de negociação, mas jamais nos posicionamos contra ou a favor à greve.
Folha - A greve pode pôr em risco o semestre letivo e até alguns vestibulares. A Andifes não se posiciona sobre essa questão?
Santos - A Andifes é totalmente contra a possibilidade de cancelamento do semestre e do vestibular. Sabemos que um movimento de greve no segundo semestre pode ser fatal. Historicamente, os reitores sempre foram favoráveis à recuperação do semestre e à manutenção do vestibular.
A reposição das aulas vai depender de cada universidade, mas ainda há tempo para a retomada do período letivo.
Folha - Por que as universidades federais chegaram a esse ponto?
Santos - Até a década de 80, chegamos a ter superávits de investimento nas universidades. Dos anos 90 para cá, principalmente na metade da década passada, esse investimento começou a diminuir. Nominalmente, ele pode até ter aumentado, mas não acompanhou o aumento dos custos de manutenção, dos reajustes de água e de luz, por exemplo.
Hoje, existe nas instituições federais de ensino superior uma falta de professores bastante significativa. Atualmente, cerca de 15% a 20% do quadro de docentes é formado por professores substitutos, que recebem salários menores. Nós entendemos que há um déficit de 6.000 professores, além dos 2.000 que o MEC autorizou a contratar. O MEC discorda desse número. A mesma situação acontece com os funcionários.
Folha - O sr. reclama de falta de professores, mas a relação de alunos por professor nas universidades federais brasileiras (de 10,5 para 1) é menos eficiente do que na maioria das universidades de ponta americanas e européias. O problema não estaria no gerenciamento das universidades públicas? Santos - Não dá para comparar o incomparável. A situação de um docente no Brasil é diferente da situação de um professor nessas instituições, começando pelo salário e passando pelas condições de trabalho. Esses números também não batem porque não levam em conta que a universidade oferece um número muito grande de serviços e de cursos de extensão ou de aperfeiçoamento.
Santos - Não é um problema de gerencial. A avaliação a que as universidades federais se submetem mostra a qualidade do nosso ensino e pesquisa.
Folha - Quando o ministro da Educação assumiu, falou-se muito na aprovação do projeto de autonomia universitária. Por que o projeto não foi adiante?
Santos - Eu não era reitor na época, mas a informação que temos é que o projeto só não foi aprovado porque a equipe econômica tomou a decisão de barrá-lo. Vivemos limitados por um cipoal de leis que torna extremamente pesada, lenta e burocrática a atividade dentro da universidade.
Foi por isso que foram criadas as fundações privadas de apoio. Elas agilizam muito o nosso dia-a-dia. Estamos colocando ao MEC a necessidade de retomada da discussão do projeto. Mas parece que as coisas vão contra a maré. Recentemente, saiu uma portaria que libera 2.000 vagas para as federais, mas restringe a contratação de professores sem doutorado. Em algumas áreas, como jornalismo, música ou artes, é muito difícil encontrar profissionais com doutorado.
Leia mais notícias da greve no ensino
Dirigente diz que ministério errou ao suspender pagamento salarial
ANTÔNIO GOISda Folha de S.Paulo, no Rio
O presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), Carlos Roberto Antunes dos Santos, considera que o MEC errou ao suspender o pagamento dos salários, num momento em que, segundo ele, as negociações com sindicatos de professores e servidores universitários estavam evoluindo.
Reitor da Universidade Federal do Paraná, ele acha justas as reivindicações dos grevistas, mas é "totalmente contra" o cancelamento do semestre e do vestibular. "Ainda há tempo para a retomada do período letivo", afirmou Santos, 55, em entrevista à Folha. Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista:
Folha - O sr. acha que houve erro do MEC na negociação da greve?
Carlos Roberto Antunes dos Santos - Na reunião em que o ministro nos disse que, se não houvesse a retomada das atividades dos servidores e professores, ele suspenderia o repasse das verbas para o salário, nós, da Andifes, colocamos que o momento não era próprio para tomar essa decisão. Já havia um processo de avanço da negociação com a Fasubra (sindicato que representa os servidores) e até comissões para discutir questões ligadas às pautas de reivindicações.
Era um momento de construção do debate, e a nossa posição era que o corte dos salários poderia levar a um processo de radicalização da greve. O ministro nos explicou que estava cumprindo a lei, mas achávamos que poderia ter esperado mais um pouco.
Folha - A Andifes considera justa a reivindicação dos grevistas?
Santos - Sim. No caso dos servidores, eles estão há sete anos sem reajuste salarial. Com relação aos docentes, que pedem um reajuste de 75,48%, sabemos que há uma enorme diferença entre o que eles pedem e o que o MEC oferece. Nós entendemos, no entanto, que as reivindicações dos servidores e dos professores devem iniciar um processo de negociação com o governo. Consideramos justas as pautas de negociação, mas jamais nos posicionamos contra ou a favor à greve.
Folha - A greve pode pôr em risco o semestre letivo e até alguns vestibulares. A Andifes não se posiciona sobre essa questão?
Santos - A Andifes é totalmente contra a possibilidade de cancelamento do semestre e do vestibular. Sabemos que um movimento de greve no segundo semestre pode ser fatal. Historicamente, os reitores sempre foram favoráveis à recuperação do semestre e à manutenção do vestibular.
A reposição das aulas vai depender de cada universidade, mas ainda há tempo para a retomada do período letivo.
Folha - Por que as universidades federais chegaram a esse ponto?
Santos - Até a década de 80, chegamos a ter superávits de investimento nas universidades. Dos anos 90 para cá, principalmente na metade da década passada, esse investimento começou a diminuir. Nominalmente, ele pode até ter aumentado, mas não acompanhou o aumento dos custos de manutenção, dos reajustes de água e de luz, por exemplo.
Hoje, existe nas instituições federais de ensino superior uma falta de professores bastante significativa. Atualmente, cerca de 15% a 20% do quadro de docentes é formado por professores substitutos, que recebem salários menores. Nós entendemos que há um déficit de 6.000 professores, além dos 2.000 que o MEC autorizou a contratar. O MEC discorda desse número. A mesma situação acontece com os funcionários.
Folha - O sr. reclama de falta de professores, mas a relação de alunos por professor nas universidades federais brasileiras (de 10,5 para 1) é menos eficiente do que na maioria das universidades de ponta americanas e européias. O problema não estaria no gerenciamento das universidades públicas? Santos - Não dá para comparar o incomparável. A situação de um docente no Brasil é diferente da situação de um professor nessas instituições, começando pelo salário e passando pelas condições de trabalho. Esses números também não batem porque não levam em conta que a universidade oferece um número muito grande de serviços e de cursos de extensão ou de aperfeiçoamento.
Santos - Não é um problema de gerencial. A avaliação a que as universidades federais se submetem mostra a qualidade do nosso ensino e pesquisa.
Folha - Quando o ministro da Educação assumiu, falou-se muito na aprovação do projeto de autonomia universitária. Por que o projeto não foi adiante?
Santos - Eu não era reitor na época, mas a informação que temos é que o projeto só não foi aprovado porque a equipe econômica tomou a decisão de barrá-lo. Vivemos limitados por um cipoal de leis que torna extremamente pesada, lenta e burocrática a atividade dentro da universidade.
Foi por isso que foram criadas as fundações privadas de apoio. Elas agilizam muito o nosso dia-a-dia. Estamos colocando ao MEC a necessidade de retomada da discussão do projeto. Mas parece que as coisas vão contra a maré. Recentemente, saiu uma portaria que libera 2.000 vagas para as federais, mas restringe a contratação de professores sem doutorado. Em algumas áreas, como jornalismo, música ou artes, é muito difícil encontrar profissionais com doutorado.
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