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15/10/2000 - 10h23

Estudantes trazem ouro para o Brasil da Olimpíada de Matemática

DÉBORA YURI
da Revista da Folha

Enquanto Guga, Rodrigo Pessoa, Robert Scheidt, Adriana Behar e Shelda e a seleção de Wanderley Luxemburgo fracassavam na busca por uma medalha de ouro em Sydney, o Brasil deixava todos os concorrentes para trás e arrebentava em uma outra Olimpíada _a Ibero-Americana de Matemática, realizada em Caracas (Venezuela). A delegação brasileira ficou em primeiro lugar na classificação geral (foi a que mais somou pontos), trazendo três medalhas de ouro e uma de prata.

Daniel Yamamoto, 17, Humberto Silva Naves, 16, e Fabrício Benevides, 17, os campeões olímpicos dos teoremas, e Daniel Uno, 16, vice-campeão, já estão acostumados com esse tipo de competição. "Disputo as Olimpíadas há três anos", conta Yamamoto, medalha de ouro também nas disputas paulista e brasileira. "Meu sonho era chegar ao topo do pódio na mundial, que é a mais importante e envolve 82 países. Mas desencanei", diz, completando que se contentou com o bronze obtido na Coréia, também este ano.

Para ter um bom desempenho em jogos olímpicos de matemática, é preciso estudar, estudar e estudar. Além da carga horária enfrentada por qualquer aluno de ensino médio, há treinamentos e provas específicas, realizadas no Colégio Etapa. A meta é preparar a equipe nacional para voltar com o maior número de medalhas possíveis. "Estudo uma média de oito horas por dia", diz Yamamoto, que vai prestar vestibular este ano (quer fazer engenharia elétrica no ITA ou em alguma universidade do Japão).

Nos finais de semana, ele também não desgruda dos livros. "Fico resolvendo exercícios e teoremas que recebo pelo correio", conta. Como lazer, o estudante gosta de jogar videogame e de pesquisar programas novos para o computador. São-paulino e fã dos Red Hot Chili Peppers, confessa que é tímido. "Não sou muito de paquerar. Nas Olimpíadas de Caracas, havia algumas meninas bonitas. O problema é que tinha muito homem para poucas mulheres, e todo mundo dava em cima das mais bonitinhas."

Nascido em Teresina (PI), Humberto Silva Naves chegou em São Paulo em janeiro. Sempre foi um aluno de destaque. "Perdi a conta de quantas medalhas ele já ganhou", diz a mãe, Marta, 39, que afirma não fazer pressão para o filho obter bons resultados na matéria em que mais se destaca. "Ele tem paixão por matemática, é natural. Nem estuda tanto como todo mundo pensa."

Desde os 13 anos, Humberto disputa Olimpíadas (também é medalhista em física, outra "modalidade" que costuma causar arrepios nos estudantes tradicionais). Tricampeão brasileiro de matemática, foi eleito "Mister Ibero" nos Jogos de Caracas, um título que nada tem a ver com a habilidade com os números. "Não faço sucesso assim com as mulheres", desconversa. "Na verdade, comprei vários votos, por isso fui eleito."

Apesar de não sair muito ("no máximo, vou ao cinema com alguns amigos"), ele não se considera um "CDF". "Gosto de bagunçar na escola, principalmente nas aulas chatas", diz. Computador e videogame também são seus hobbies favoritos. Quando tem tempo, joga futebol Äé centroavante. "Esse ano foi difícil jogar, estava muito ocupado com os treinos para as Olimpíadas", comenta.

Bambambã nos números, Humberto não tem a mesma intimidade com a literatura. Seu livro preferido? "Li alguns que vão cair na Fuvest... Acho que é "Curso de Análise', um que fala de teorias de matemática." Seu sonho? "Demonstrar um teorema superdifícil."

Daniel Uno, medalha de prata em Caracas, é outro jovem brasileiro que respira análise combinatória, teoria dos números e geometria. Sua coleção de prêmios internacionais também é grande. Para ele, o melhor de participar de uma Olimpíada é "aprender teorias e problemas novos". "A viagem também é legal", completa. "Você não paga nada, passeia, conhece gente de outros países."

Quando não está resolvendo equações, Daniel passa o tempo brincando no computador e lendo revistas Äde matemática. Ele planeja estudar no MIT (Massachusets Institute of Technology), um dos mais conceituados centros de ensino do mundo. "Mas me contento com a Poli (a Escola Politécnica da USP) ou o ITA", diz, sem menosprezo. Redação é a matéria que mais detesta: "Vou muito mal, tiro notas ruins". Sem namorada, ele garante que não é exigente. "Inteligência não é fundamental. Se você gosta de alguém, gosta e pronto", filosofa.

Fora São Paulo, que tem um trio de medalhistas, a outra cidade brasileira a ter um campeão olímpico é Fortaleza. Fabrício Siqueira Benevides cursa o 3º colegial na escola particular Sete de Setembro. Sua rotina é dura. Frequenta aulas das sete ao meio-dia, vai para o curso de inglês, estuda para o vestibular à tarde e volta às sete da noite para a escola, onde fica até dez e meia. No fim-de-semana, "reforça os pontos fracos".

Fabrício, que passou uma semana em São Paulo fazendo a preparação para a Olimpíada Ibero-Americana, já conheceu cinco países graças aos jogos de matemática: Coréia, Cuba, Romênia, Argentina e, recentemente, Venezuela. "É um barato. Tenho contato até hoje com alguns amigos argentinos que conheci fora", conta.

Orgulho da família, celebridade na escola, acostumado a sair em jornais de Fortaleza, ele diz que se esforça para desmistificar a imagem de "gênio": "Não me sinto diferente, tento ser normal".

O preconceito, afirma, tem diminuído bastante. "Tem gente que me vê de longe e pensa que eu só estudo. Não sabem muita coisa sobre mim." O quê, por exemplo? Que o garoto que já ganhou mais de dez medalhas internacionais de matemática é craque no surfe, acha romântico passear na praia com a namorada de escola, é fanático pelo Palmeiras e pelo Flamengo e sonha, todas as noites, com a dançarina Scheila Carvalho.

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