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30/10/2001 - 13h47

Confira íntegra de bate-papo realizado com professor de história

da Folha Online

Confira a íntegra do chat com o professor de história Ciro de Moura Ramos, 61, do Objetivo.

(16:03:40) Ciro de Moura Ramos: Boa tarde a todos.

(16:08:23) César da Costa fala para Ciro de Moura Ramos: Olá!

(16:08:53) Ciro de Moura Ramos: Olá, estou aqui para tirar as dúvidas sobre história

(16:08:54) animado fala para Ciro de Moura Ramos: professor, podemos esperar perguntas mais sobre historia contemporanea, em virtude dos recentes acontecimentos?

(16:10:44) Ciro de Moura Ramos: Animado, nos grandes vestibulares as questões muito recentes não são abordadas. Até porque as provas são preparadas com bastante. Mesmo na segunda fase pode não ser abordado porque a prova já está feita. nas faculdades menores os exames são preparados muito mais perto da data do vestibular e por isso podem abordar coisas mais recentes inclusive a guerra do Afeganistão

(16:08:57) Flávio fala para Ciro de Moura Ramos: boa tarde... gostaria de saber se o corporativismo é a fundamental diferença entre o fascismo e o nazismo.

(16:13:02) Ciro de Moura Ramos: Flávio, não é propriamente uma diferença e sim uma peculiaridade do fascismo italiano. É bom lembrar que o corporativismo fascista (eleição de deputados pelas corporações ou categorias profissionais) influenciou a constiuição democrática do Brasil de 1934, que estabeleceu a eleição de 20% dos deputados federais e estaduais pelos sindicatos (deputados classistas).

(16:11:17) h fala para Ciro de Moura Ramos: boa tarde. gostaria de saber com quantos anos fez faculdade para história?e se achou difícil?

(16:15:12) Ciro de Moura Ramos: H, entrei na faculdade de história da USP com 19 anos, em primeiro lugar, mas naquela época as coisas eram mais fáceis. Embora fosse exigido um conhecimento muitíssimo mais aprofundado por parte do vestibulando, as disciplinas do vestibular eram apenas história geral, história do Brasil, geografia, português e inglês ou francês, sem nada de química (que explode), de física (que dá choque) e de biologia (que cheira mal).

(16:13:10) lucas fala para Ciro de Moura Ramos: professor, qual seu palpite para tópicos a serem estudados na última hora?

(16:16:46) Ciro de Moura Ramos: Lucas, não há palpites, pois a matéria é muito extensa. Em caso de última hora, não se preocupe com história antiga nem medieval, e também esqueça os temas demasiado polêmicos (por ex. o conflito árabe x israelense)

(16:20:27) Ciro de Moura Ramos: Lucas, continuando, das massas excluídas do planeta. E olhe que não sou marxista!

(16:15:21) João fala para Ciro de Moura Ramos: boa tarde....gostaria de saber o que que o senhor esta achando da Guerra dos EUA, e se vc acha q essa Guerra, ou a Guerra entre Israel e Palestina, pode se tornar uma 3°Guerra Mundial, como andam dizendo...

(16:20:01) Ciro de Moura Ramos: João, história é o estudo do passado. Previsões para o futuro são mais da alçada de Nostradamus. Em todo caso, como palpite, a guerra do Afeganistão não será resolvida sem a ocupação terrestre do país, que apresentará grandes dificuldades militares. Quanto ao risco de terceira guerra mundial, no momento, não existe. Mas, a longo prazo, poderá haver um confronto maior entre países muçulmanos e Estados ocidentais de cultura judaico-cristã; isso se não estourar antes uma grande rebelião das massas

(16:16:49) monde fala para Ciro de Moura Ramos: professor, o senhor conhece a metodologia do Intituto Rio BRanco, tem alguma dica para a forma de estudar para este concurso?

(16:22:20) Ciro de Moura Ramos: Monde, é necessário um conhecimento bastante amplo de história contemporânea e do Brasil, além de conhecimentos de teoria econômica e domínio sobre atualidades. É também necessário estabelecer interligações entre todos esses campos de conhecimento, além de dominar alguma língua estrangeira (de preferência inglês e francês ou espanhol).

(16:20:21) César fala para Ciro de Moura Ramos: Professor, quais seriam os principais temas que as universidades poderiam considerar como "obrigatórios" neste vestibular?

(16:25:18) Ciro de Moura Ramos: César, não há temas obrigatórios, mas sim recorrentes (que aparecem com frequência). Exemplos: estrutura sócio-econômica do Brasil-colônia; cafeicultura no sec. 19; mecanismos políticos da República Velha; revolução industrial; revolução francesa; neocolonialismo; crise de 29; e, às vezes, o modo de produção feudal. O neoliberalismo, iniciado nos anos 80, e a correspondente globalização, também têm caído bastante, quase sempre sob um enfoque crítico.

(16:22:47) Antiii fala para Ciro de Moura Ramos: professor, pq os renascentistas, com ideais voltados para liberdade cultural, apoiavam o lucro/capitalismo? eles nao deveriam condenar? eles podem ter aceitado apenas por causa do mecenato? caso afirmativo, isto nao eh um sinal de hipocrisia?

(16:27:37) Ciro de Moura Ramos: Antii, vc deveria assistir ao filme "Agonia e Êxtase", onde Michelangelo e Rafael dialogam exatamente sobre isso. Enquanto o primeiro defende a liberdade de criação, o segundo afirma que o artista era um lacaio dos poderosos. O meio-termo entre os dois pontos de vista provavelmente estaria próximo da realidade, pois às vezes uma certa dose de "hipocrisia" ajuda na sobrevivência e na produção de obras-primas.

(16:26:14) smpc pergunta para Ciro de Moura Ramos: Daria para explicar bem resumidamente a briga entre judeus e palestinos. A terra anteriormente não era dos judeus que foram expulsos por Tito ?
(16:29:06) Ciro de Moura Ramos: SMPC, Tito destruiu Jerusalém em 70 d.C, mas quem expulsou os judeus foi Adriano, em 136 d.C. Quanto à legitimidade das reivindicações dos judeus e árabes sobre a Palestina, esse é um dos tais temas polêmicos que os vestibulares evitam abordar

(16:27:55) Marina fala para Ciro de Moura Ramos: O Sr. poderia falar um pouco sobre neoliberalismo?

(16:32:09) Ciro de Moura Ramos: Marina, falar, não, mas, escrever, sim. O neoliberalismo, iniciado nos anos 80 por Margaret Tatcher e depois Ronald Reegan constituiu uma reação ao Welfare State (Estado do Bem Estar) assistencialista surgido após a 2º Guerra Mundial em países governados por social-democratas. Como o Welfare State era muito oneroso, passou-se para o extremo oposto: o neoliberalismo, em que o Estado deve ser minimalista (intervir o menos possível), deixando a economia e os ajustes sociais por conta das forças...

(16:33:04) Ciro de Moura Ramos: Marina, continuando, das forças naturais do mercado. Atualmente, o neoliberalismo vem sendo criticado por favorecer a concetração de renda e marginalizar cada vez mais as camadas pobres, devido à falta de proteção pelo Estado.

(16:29:37) Rodrigo fala para Ciro de Moura Ramos: Você que é um mestre de história e sabe todos os atalhos dela, poderia dar algumas dicas pra se estudar história de um modo que fique claro e memorizado. Poruqe na minha opnião História é muito legal mas é um pouco díficil de se guardar.

(16:34:51) Ciro de Moura Ramos: Rodrigo, não há regra para se estudar história. De qualquer forma, é importante distinguir o essencial do assessório, pois este pode ser deixado de lado. E, mais importante que tudo, é preciso entender as relações de causa e efeito, pois a história é lógica, embora não seja uma ciência exata.

(16:32:54) Juliano fala para Ciro de Moura Ramos: Professor, o que foi a Terceira Revolucao Industrial?

(16:37:25) Ciro de Moura Ramos: Juliano, a terceira revolução industrial dificilmente cairá em um vestibular porque sobre ela não há consenso _até porque é muito recente e ainda estamos dentro dela. Quando eu era jovem, falava-se que a terceira revolução industrial começara com o uso de materiais plásticos; agora, já se diz que começou com a informática. Se amanhã surgir algum campo novo de atividade, vão continuar a achar que ele será a terceira revolução. Para vestibular, limite-se a estudar a primeira e a segunda, que já...

(16:37:40) Ciro de Moura Ramos: Juliano, continuando, que já estão convenientemente analisadas

(16:35:11) Rodrigo fala para Ciro de Moura Ramos: Você não acha que é uma grande ironia... os melhores colégios são os particulares e as melhores faculdades são as públicas, ou seja, quem tem maior chance de passar numa faculdade gratuita é daqueles que podem pagar, enquanto aqueles que não podem dificilmente conseguirão ingressar nessas faculdades.

(16:40:37) Ciro de Moura Ramos: Rodrigo, não é uma ironia, é uma triste realidade. Eu ainda sou do tempo em que o ensino público era o melhor em todos os graus, o que aparentemente constituía uma democratização do ensino. Só que isso não é verdade, pois o primário público era aberto a todo, mas o secundário (5ª a 8ª séries de hoje) exigia um exame de admissão, no qual só eram aprovados jovens da classe média, que recebiam uma instrução suplementar em casa, e japoneses, que realizavam um esforço maior que os outros para estudar

(16:37:27) César fala para Ciro de Moura Ramos: Nos últimos meses, a cidade de São Paulo recebeu duas exposições sobre o sobre Egito faraônico, o senhor acha que temas sobre a civilização egípcia poderiam ser virtuais temas para as provas aplicadas por universidades daqui? Se a resposta for afirmativa, quais os temas que eu poderia estudar de última hora?

(16:44:05) Ciro de Moura Ramos: César, a temática dessas exposições tem muito mais a ver com o sucesso dos livros recentes de Christian Jacque sobre Ramsés 2º e outros temas do Antigo Egito do que com algum revival do interesse pela egiptologia. Para vestibular, se vc souber que "o Egito é uma dádiva do Nilo" e que Amenófis 4º (Akhnaton tentou criar uma religião monoteísta, já estará diplomado em história do Egito Antigo.)

(16:39:44) Paulo Quartieri fala para Ciro de Moura Ramos: Realmente, é um grande prazer poder falar com o professor Ciro. Eu era aluno do Objetivo na década de 70 e tinha aula na Paulista em uma classe pequena. Eu gostava muito da aula do prof. Ciro já que ele misturava a história com o momento político que o país vivia, em plena ditadura. Muita coisa que ele dizia, poucos mestres tinham a coragem de dizer. Me marcou uma aula em que ele como fazia em todas as aulas fez uma pergunta a classe sobre o nome do plantador de algodão. E eu acertei a resposta

(16:45:44) Ciro de Moura Ramos: Paulo, cotonicultor? Isso até hoje constitui um mérito, pois muitos alunos babam na hora de respoder. Prazer em ler essa mensagem de um antigo aluno. Boa sorte!

(16:44:09) Alves Louco Obj. fala para Ciro de Moura Ramos: Fala Ciraum!Aqui é o Alves, professor do Objetivo!Gostaria de saber(apesar que poderia perguntar pessoalmente à vc, haha) o que vc acha da inclusão da civilização maia, asteca e inca nos vestibulares??

(16:47:49) Ciro de Moura Ramos: Oi querido chefe! Isso me parece terrorismo cultural da Fuvest, pois ela aumenta o número de temas de história sem aumentar o número de questões. Portanto, se os pré-colombianos caírem no vestibular (o que é provável para justificar sua inclusão) algum outro tema vai ficar fora. Qual será, hein, chefe?

(16:46:05) Rodrigo fala para Ciro de Moura Ramos: Ciro, você acha que os vestibulares das Federais irão sofrer alguma alteração em datas, parece que a UFRJ já adiou...

(16:50:00) Ciro de Moura Ramos: Rodrigo, parece que isso vai acontecer, pois o ministro Paulo Renato parece ter perdido as esperanças de sair como candidato à sucessão de FHC e portanto não está mais procurando ser simpático com os professores em greve. Parece D. Pedro 1º quando nomeou o Ministério dos Marqueses, em 1831, para jogar aquilo no ventilador. Estabeleça uma analogia e acho que os vestibulares das federais serão mesmo adiados.

(16:48:42) Nabucodonosor fala para Ciro de Moura Ramos: professor, o senhor não acha que a abordagem feita pelos elaboradores das questoes do vestibular são muito decorebas podendo abordar a essencia da história???

(16:53:20) Ciro de Moura Ramos: Nabucodonosor é pesudônimo? Se for, é por causa do rei babilônico ou por causa de uma marcha-rancho de Stanislaw Pontepreta? Outra coisa: numa redação não é conveniente dois termos semelhantes (abordagem e abordar). O fato de haver questões decoreba ou não depede não só do examinador, mas também do enfoque do examinando. Ou fórmulas de matemática, física, química e biologia não podem também ser consideradas decoreba?

(16:50:57) anderson fala para Ciro de Moura Ramos: o g.v ajudou o Brasil ou só atrapalhou..?

(16:55:56) Ciro de Moura Ramos: Anderson, essa pergunta é boa. Como minha família era da UDN, cresci odiano Vargas. Hoje, entretanto, percebo que ele fez muito mais bem do que mal. Entretanto, Vargas não pode ser dissociado de suas origens (latifundiário), de sua formação política (participante da República Velha) nem do momento político-social da América Latina a partir dos anos 30. Daí seus eventuais defeitos e limitações, como o populismo, o autoritarismo e a demagogia.

(16:53:58) ma fala para Ciro de Moura Ramos: Como o senhor classificaria a última prova da GV ? as perguntas foram bem selecionadas?

(16:58:13) Ciro de Moura Ramos: Ma, as questões da GV não são feitas por professores de história, e por isso apresentam pequenas incorreções (por ex.: afirmar que os EUA, graças à política do "Big Stick", dominaram TODO O CARIBE; dominaram na verdade apenas Cuba, Haiti e Porto Rico). Mas isso não prejudicou as respostas e não exigia um conhecimento profundo da matéria.

(16:56:30) Antiii fala para Ciro de Moura Ramos: adeptos a social-democracia, existem hj no Brasil? onde encontrar informacoes?

(17:01:49) Ciro de Moura Ramos: Antii, o PSDB, fundado em 1986 (não tenho muita certeza, mas é por aí), mantém em seu programa o ideal da social-democracia, isto é, o estabelecimento de uma sociedade igualitária por um longo processo de educação e persuasão da humanidade. Isso ainda consta em seu programa, mas devemos lembrar que o presidente FHC, que é de formação social-democrata, disse algo que agora não quero colocar (não confunda com o presidente Figueiredo, que disse em alto e bom som: "Quero que me esqueçam")...

(17:02:30) Ciro de Moura Ramos: Antii, continuando, o presidente FHC disse algo um pouco diferente, de modo que não sei como anda atualmente a social-democracia na cabeça de sua excelência.

(17:03:46) Ciro de Moura Ramos: Bom, temos de encerrar agora. Muito obrigado pela audência, não peço desculpas pelas brincadeiras, mas imploro perdão se não fui claro em minhas explicações. Que Deus os ajude nos vestibulares!
 

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