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24/10/2000 - 09h37

Baixa estima faz aluno abrir mão do vestibular

da Folha de S.Paulo

A baixa estima de estudantes com menor poder aquisitivo e oriundos de escolas públicas acaba fazendo com que muitos nem tentem prestar o vestibular.

"Muitos dizem que não vão passar e acabam deixando a vaga para quem arrisca; no fundo, reproduz-se o ideário das camadas mais privilegiadas da população, que entendem que as boas faculdades são redutos exclusivos de estudantes estabilizados financeiramente", disse Maria Bernadete Marques Abaurre, coordenadora dos vestibulares da Unicamp.

Diretor executivo dos vestibulares da Unesp, Fernando Dagnoni Prado concorda com a análise. "É comum o jovem dizer: "Isso não é para o meu bico". Enquanto ele reclama, outros aproveitam."

Para atrair mais os estudantes carentes, uma das saídas encontradas pelos principais vestibulares do país é isentar o aluno do pagamento da taxa de inscrição.

Neste ano, USP, Unicamp e Unesp isentaram 16.355 estudantes. "Ainda é pouco, mas esperamos que a medida tenha algum reflexo no índice de aprovação desses alunos", disse Roberto Costa, diretor da Fuvest.

O resultado parece já ter surtido efeito: a Fuvest registrou um aumento no número de inscrições de alunos das regiões mais carentes da cidade de São Paulo.

O valor da inscrição, o da USP custou R$ 50 neste ano, assusta. Tiago Rozante, 20, diz que só prestou vestibular na USP para história graças a um amigo, que há três anos lhe emprestou R$ 40.

Assim como Rozante, Jackson Fergson Costa de Faria, também no 3º ano de história na USP, não teve medo de prestar o vestibular. Mas, para ele, a luta maior é continuar estudando apesar das dificuldades econômicas.

Filho de um comerciante e de uma costureira, Faria mora em Ermelindo Matarazzo, zona leste de SP. Levanta às 4h, pega uma lotação até o metrô e começa a dar aulas de história do Brasil às 7h30, no cursinho da Poli/USP. "Nunca volto para casa antes das 22h. Mas me orgulho do que faço."

A dificuldade financeira não é o único obstáculo. Aluna do 1º ano de matemática da USP, Regina Santana Alaminos, 18, afirma que também se sente vítima de racismo. "Até hoje, algumas pessoas me olham da cabeça aos pés e me perguntam: Você, na USP? Como pode?". Elas pensam, diz, que a universidade é um espaço só para ricos e brancos. Na USP, menos de 2% do alunos se dizem negros.

Para Fernando Dagnoni Prado, também é preciso ampliar o número de vagas no período noturno - para atrair o estudante que precisa trabalhar. Com poucas opções, muitos têm de estudar em faculdades particulares.

É o caso do estudante do curso de publicidade na Cásper Líbero Rafael Baffini de Castro, 20. "Mudei duas vezes de faculdade porque não aguentei pagar. Como é duro estudar no Brasil."

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