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16/05/2002 - 10h20

Português: Posição da palavra pode alterar sentido da frase

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
da Folha de S.Paulo

"Afinal, quantos pobres têm o Brasil?" Essa frase foi título de recente reportagem publicada em um jornal paulistano. Se interpretarmos literalmente o que está escrito, entenderemos que se pergunta qual é o número de pobres que possuem o Brasil. O absurdo da indagação nos dá a certeza de que a intenção era outra: afinal, quantos pobres o Brasil tem? "Brasil" é o sujeito da oração e "pobres" é o objeto direto. O verbo deve concordar com o sujeito, não com o objeto.

A confusão nasceu da inversão da ordem usual dos termos da oração. A frase começa com o objeto direto, este representado por uma expressão no plural que contamina a forma verbal ("têm", com acento, está no plural).

Embora as alterações de ordem dos termos nos enunciados sejam constantes no manuseio diário da língua -pois costumam obedecer a critérios afetivos de ênfase e subjetividade-, não é sempre que se sujeitam à escolha do falante. Há vezes em que a mudança da posição das palavras acarreta, sim, modificação de sentido.

Isso ocorre, por exemplo, quando empregamos a palavra "só" ou seus sinônimos "somente" e "apenas". Veja as seguintes frases: "Só João alugou a casa de praia", "João só alugou a casa de praia" e "João alugou só a casa de praia". É fácil perceber como as diferentes posições da palavra "só" conduzem a interpretações diversas.

No primeiro caso, o predicado "alugou a casa de praia" refere-se apenas a João, não a outra pessoa. A palavra "só" exclui a possibilidade de quaisquer outras pessoas terem alugado a casa de praia. No segundo período, "só" restringe o verbo, fazendo pressupor novo leque de oposições. Assim, ao dizer que "só alugou", deixa subentendido, por exemplo, que não vendeu a casa. Na terceira situação, "só" restringe o sintagma "casa de praia". Entendemos, então, que João poderia ter alugado outra propriedade, talvez uma casa de campo, mas não o fez.

A gramática tradicional tem dificuldade de classificar palavras como "só" e seus equivalentes, entre outras, todas agrupadas sob a rubrica "palavras denotativas".

"Só" é, de acordo com a metalinguagem tradicional, uma "palavra denotativa de exclusão". Mantém a forma invariável dos advérbios, mas é capaz de modificar palavras de várias classes gramaticais. O tema tem merecido a atenção dos lingüistas.

Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha. Foi responsável pelas aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura

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