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20/05/2002 - 10h41

Alunos que passam no vestibular encontram problemas em universidades

MIRELLA DOMENICH
da Folha de S.Paulo

Quando o estudante Murilo de Oliveira Junqueira, 19, passou no vestibular para ciências sociais na USP (Universidade de São Paulo), seus amigos fizeram a maior festa. Afinal, ele iria estudar em uma das melhores faculdades do país.

Mas Murilo não demorou a se decepcionar. Foram 9,49 candidatos por vaga na primeira fase da Fuvest 2001. Depois de passar no vestibular, ele não teve trote como previa e passou um ano tendo aula em salas lotadas. Quando tinha. "Para ter uma boa aula, é preciso o esforço conjunto de professores e de alunos", diz. "A visão que eu tinha da USP mudou."

Murilo não é o único a reclamar. Desde o dia 14/5, todos os alunos da graduação da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP, que oferece os cursos de ciências sociais, filosofia, letras, geografia e história, estão em greve por tempo indeterminado. Eles querem mais professores.

Em 1989, quando a universidade ganhou autonomia e teve de começar a pagar os docentes que se aposentam, a FFLCH tinha 454 professores ativos. Hoje são 365 e 1.723 alunos a mais. Um projeto elaborado neste ano pela direção pede 105 contratações até 2004.

As queixas, no entanto, vão além: os alunos querem mais livros nas bibliotecas, mais computadores, mais infra-estrutura. "Queremos a defesa da universidade pública", diz Alice Beltrame, 25, aluna do segundo ano de história.

A paralisação na FFLCH foi encabeçada pelos alunos de letras, que entraram em greve no dia 29/4. Antes, era comum ver alunos sentados no chão e até no corredor para assistir às aulas. "Às vezes dá a impressão de que a universidade está convidando o aluno a não comparecer", diz o professor de literatura brasileira José Miguel Wisnik, 53.

O problema da FFLCH não é único na USP, segundo a pró-reitora de graduação Sonia Penin, 57. "Faltam professores em algumas unidades porque a solicitação da sociedade é grande", diz, referindo-se ao aumento do número de vagas.

Hoje são 1.768 alunos a mais na USP do que há dez anos e 510 professores a menos na graduação. Ela atribui a falta de professores ao fato de eles terem funções administrativas e terem de se dedicar à orientação na pós-graduação, que também aumentou o número de vagas. Para resolver o problema da FFLCH, foi criado um grupo que vai analisar a situação.

Com o orçamento enxuto desde a autonomia universitária, as outras estaduais paulistas têm seus quadros reduzidos e sofrem os mesmos problemas. Na Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), matérias optativas foram abolidas do currículo por falta de professor. "A falta de professores será um problema geral até que a questão das aposentadorias seja resolvida. Estamos fazendo contratações temporárias", diz o pró-reitor de graduação da Unicamp, José Luiz Boldrini, 49.

Problemas de estrutura também são recorrentes. Alunos do curso de música da Universidade Estadual Paulista (Unesp) têm aulas de instrumento em salas intercaladas com departamentos administrativos para que não haja interferência dos sons por falta de revestimento acústico no Instituto de Artes.

Enquanto isso, quem se prepara para o vestibular fica com uma pergunta na cabeça: para onde é que eu vou?


 

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