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02/06/2002 - 04h45

Grupos dão visibilidade a gays da periferia

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FABIANE LEITE
da Folha de S.Paulo

No próximo domingo, dia 9, a periferia da zona leste de São Paulo terá o seu primeiro evento de visibilidade gay. O Manifesto GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) do Itaim Paulista é resultado do trabalho de um núcleo homossexual criado no distrito há menos de um ano que, além de organizar encontros para sua comunidade, trabalha pela diminuição do preconceito, resolução das demandas sociais e educação para a cidadania.

Na zona oeste de São Paulo, o ator e professor de teatro Jucinério Felix Filho, 32, trilha o mesmo caminho há três anos, desde que assumiu o centro comunitário da favela Vila Dalva.

No início, houve protesto de mães que mantinham crianças na creche do centro comunitário. Hoje, porém, elas elogiam as melhorias que a gestão do grupo de Jucinério trouxe.

O professor de teatro quitou as dívidas com funcionários, liderou a captação de benefícios de programas do governo e decidiu abrir o salão do centro para todos os eventos da comunidade local, de aniversário a velório.

Jucinério também fundou o núcleo gay da favela. Ele deixou a associação há algumas semanas depois de ser eleito conselheiro tutelar do Butantã, função em que será responsável pela fiscalização da aplicação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) em toda a região. "Ser gay na periferia é muito mais difícil pela falta de conhecimento que as pessoas têm."

Já o núcleo gay do Itaim Paulista tem, por exemplo, ajudado a orientar pais de jovens homossexuais que vivem na região.

A formação de núcleos gays nesses locais é um fenômeno alavancado não apenas pelos grandes eventos de visibilidade, como a 6ª Parada do Orgulho Gay que sai hoje da avenida Paulista (região central de SP), como pela necessidade maior de engajamento e mobilização social que a vida na periferia exige, avaliam militantes do movimento.

"O que eles fazem é uma coisa revolucionária. Ganham espaço em comunidades que vivem sob tensão social", afirma Beto de Jesus, presidente da Parada do Orgulho Gay.

José Araújo Lima, integrante do Fórum HSH (homens que fazem sexo com homens), afirma que a organização de núcleos gays fora do eixo central "é uma estratégia de sobrevivência".

"A violência tem se agravado, há uma necessidade de organização. É a procura de um espaço para trocar", afirma ele.

Boom

O boom do movimento gay no país ocorreu no início dos anos 90, impulsionado pela epidemia de Aids. A doença recuou nos últimos anos, mas não entre homossexuais pobres da periferia. Daí a origem de muitos dos núcleos gays em áreas pobres da cidade a partir de 1999, afirma Elias Lilikan, pesquisador de estudos homoeróticos da Universidade de São Paulo (USP).

Foi nessa esteira que surgiu o programa de rádio "Tarde do Babado", hoje veiculado eventualmente pela rádio comunitária da favela de Heliópolis, na zona sul.

"Tentamos aglutinar as pessoas com a mesma orientação, trazer discussões sobre sexualidade. Mas não foi fácil. Enfrentamos piadinhas, agressões. Hoje me respeitam como liderança comunitária", afirma Alexandre Antunes, um dos idealizadores do programa.

O projeto "Rompendo o Isolamento - Prevenção e Cidadania na zona sul de São Paulo", financiado pelo Ministério da Saúde, é outro exemplo. Nasceu dentro do Centro de Testagem e Aconselhamento em Aids da prefeitura em Santo Amaro, zona sul. As reuniões começaram com menos de meia dúzia de pessoas. Hoje vinte já frequentam os encontros que ocorrem uma vez por semana.

Invisível

Luiz Ramires, 42, coordenador do projeto, encontrou na região uma comunidade gay dispersa e, segundo ele, quase "invisível". "Nossa perspectiva é criar um espaço de encontro, iniciar um processo de recuperação da auto-estima", afirma.

"Muitos aqui nunca tinham participado de nenhuma atividade em um ambiente predominantemente homossexual. As reuniões são um espaço para convivência e orientação, mas não queremos criar um gueto", afirma o coordenador do projeto.

No próximo dia 28, o grupo realiza sua primeira atividade de integração: uma festa junina aberta a moradores do bairro.

Leia mais notícias sobre a Parada Gay


 

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