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03/06/2002 - 16h34

Vítimas de preconceito tendem a correr mais riscos na hora do sexo

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AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo

Pedro é bom em matemática e melhor ainda no time do colégio. Vive assediado pelas meninas, mas não quer nada com elas. Um dia, os colegas o vêem beijando um rapaz, e a classe se divide. No dia da partida final, o herói do time está deprimido no quarto, com lágrimas nos olhos, ao lado do treinador e dos pais solidários.

Ao final desse vídeo de 12 minutos você vai assistir, emocionado, em sala de aula. Se sua escola não fizer isso, cobre da direção, pois 3.000 cópias já estão sendo distribuídas. Outras mil estão seguindo para ONGs que lidam com educação e Aids. Portanto não será difícil conseguir a fita.

"Pra que Time Ele Joga", nome do pequeno filme, suscita interrogações sobre sexualidade, Aids e preconceito, que vão sendo respondidas no decorrer da própria história. Difícil não se envolver com a história e com os personagens.

A fita está sendo lançada oficialmente hoje, em Brasília, junto com um pacote que prevê uma campanha para cinemas gays pornôs, uma para cinemas comerciais e outra para o horário nobre da TV.

É a primeira vez que o tema da diversidade sexual é tratado no horário nobre, com a possibilidade de pais e filhos adolescentes serem surpreendidos no mesmo sofá.

Do lado de dentro da telinha, o episódio também transcorre em família. Um pai atende à porta e dispensa o namorado do filho, que não estaria adotando práticas sexuais seguras. De volta à sala de jantar, o filho com lágrimas nos olhos ao lado da mãe. A conversa entre eles deixa claro que a homossexualidade do filho já vinha sendo tratada em família.

A campanha da TV, que vai ao ar nesta terça-feira, foi realizada pela Coordenação Nacional de Aids com a participação do comitê assessor que reúne ONGs e técnicos dos vários Estados. Os outros filmes e vídeos foram feitos pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e pelo Fórum de ONGs-Aids, com a produtora 3 Laranjas.

O pacote de hoje, sem precedentes nas histórias das campanhas públicas, é uma antiga reivindicação dos grupos gays. Afinal, estimativas do próprio Ministério da Saúde apontam que 5,9% dos homens são homossexuais ou bissexuais. Cerca de 52 mil homos e bis pegaram Aids fazendo sexo. Numa relação entre eles, há 11 vezes mais chance de um estar com HIV/Aids que numa relação entre homem e mulher.

Mas nem a Coordenação Nacional de Aids nem as ONGs desejavam uma campanha que viesse relacionar a Aids à homossexualidade. Isso só aumentaria a discriminação e o estigma que já pesam sobre homos e bis, o que em nada contribui para a prevenção.

O caminho encontrado vai justamente na contramão do preconceito e na direção da aceitação da diversidade sexual. Aceito em casa, respeitado na escola, o homossexual ou bissexual não terá vergonha de carregar camisinha na carteira. Nem terá de limitar suas relações a encontros rápidos e escondidos, onde tudo é possível, menos prevenção. Homossexuais que se sentem discriminados e vítimas de preconceito tendem a adotar mais práticas de riscos que heterossexuais e colegas respeitados na sua orientação sexual.

É isso que comprova pesquisa divulgada no último número da revista "Journal of Adolescent Health". Pelo estudo, adolescentes gays vítimas de provocações correm mais risco de fazer sexo desprotegido e de vir a usar drogas.

Em São Paulo, além do filme da campanha, o grupo Corça, de homossexuais, vem treinando professores para que evitem discriminações de qualquer tipo dentro da sala de aula. Preconceito não rima com auto-estima e, sem auto-estima, não há como se cuidar.
 

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