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06/06/2002 - 08h28

Efeito do suco de clorofila não tem comprovação científica

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PALOMA VARÓN
free-lance para a Folha

Se você é do tipo que engole tudo o que está na moda, pode ficar verde de raiva ao descobrir que uma das novidades do momento não tem ação nenhuma no organismo. Consumida há décadas nos Estados Unidos, a clorofila em forma de suco recentemente virou moda por aqui.

Aportou no Rio há mais de um ano e agora chega a São Paulo, onde é vendida não apenas em pontos alternativos -a Casa Santa Luzia, por exemplo, começou, no mês passado, a oferecer o extrato congelado de suco verde à sua sofisticada clientela paulistana.

Na internet, são vendidos potinhos com a grama de trigo fresca para guardar na geladeira e também a grama no vaso. Um alimento altamente nutritivo, alardeiam alguns produtores, que anunciam na embalagem e em folhetos de propaganda que ele é composto de 103 nutrientes, entre vitaminas, proteínas e sais minerais, e que possui ação sobre cabelos, unhas, sangue e outras partes do corpo.

"É um absurdo que as pessoas transformem isso num negócio e vendam a clorofila como nutriente; ela é importante para o metabolismo das plantas, não para o nosso", diz a pesquisadora e professora de nutrição da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) Jocelen Salgado. O suco pode até trazer algum benefício, mas não pela clorofila, diz Úrsula Marquez, uma especialista no assunto, que pesquisa clorofila em laboratório e é professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

"A clorofila é uma molécula bastante complexa e não é absorvida pelo nosso organismo. O extrato vegetal de que é feito o suco pode conter fibras, vitaminas e sais minerais, mas a clorofila em si não faz efeito", diz Marquez. Mas os consumidores entrevistados estão satisfeitos e não dão ouvidos para críticas.

"Tomo todos os dias em jejum e me sinto muito bem. Desde que comecei (há dois meses), já senti melhoras, parei de perder cabelo, e as minhas unhas estão crescendo mais", diz Evelyn Sehanis, 60. Outra fã, Beatriz Zatz, 60, conta orgulhosa: "Já virou um ritual lá em casa, eu e meu marido começamos o dia com um copo de suco de clorofila".

De tanto os clientes pedirem, Roberto Somekh, dono do Bioesfera (SP), restaurante especializado em pratos com baixo teor de gordura, incluiu o suco de clorofila no cardápio. "Consultamos as nossas nutricionistas, e elas disseram que não tem efeito comprovado. Vendemos, pois mal não faz", diz. Mas pode fazer. "As pessoas pensam que porque é natural não faz mal e tomam demais", diz o médico Carlos Alberto de Moraes, da Lapinha Clínica Naturalista (PR). "A maioria dos vegetais contém substâncias antinutricionais ou tóxicas, e disso ninguém fala", diz Marquez. Para evitar o efeito dessas substâncias, quantidades exageradas de vegetais não devem ser ingeridas.

"Como é vendido um extrato do suco com alta concentração de vegetais, a possibilidade de que isso faça mal é grande. Sem falar na origem dos vegetais, que podem estar contaminados por fungos e agrotóxicos", diz a professora.

"Esses pesquisadores são muito conservadores e não respeitam as correntes naturalistas e ortomoleculares", diz Francisco Leal, médico veterinário com pós-graduação em nutrição. Ele consome sucos verdes há mais de 25 anos e há 15 comercializa o extrato de clorofila, composto de um mix de vegetais, como trigo, capim, aveia e alfafa.

Segundo o produtor, a clorofila é um alimento que contém propriedades terapêuticas e, se consumida em uma dose diária, pode ter efeitos benéficos sobre o corpo humano. "É um alimento funcional porque libera magnésio para o corpo humano. Mas sabemos que a vitamina em si está nas plantas, e não na clorofila."

Segundo Úrsula Marquez, não existe dose recomendada, pois não se conhecem os efeitos de muitas substâncias. "Ainda não há comprovação científica de que faz bem. E o magnésio é um mineral de que o nosso organismo não precisa, porque ele está em muitos alimentos, e nós não temos deficiência dele", afirma.

Seja como for, por lei, o suco de clorofila não pode ser vendido como um elixir. "É um produto completamente pirata do ponto de vista sanitário. Se ele está sendo propagado como fitoterápico, é à revelia da Anvisa, pois teria de ter suas propriedades científicas comprovadas para ser vendido como tal", afirma a assessoria de imprensa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, do Ministério da Saúde.

Em um ponto ao menos todos concordam: suco nenhum faz milagre. Toda dieta deve ser equilibrada. Como diz Marcia Cardoso, 60, uma pioneira na comercialização do produto -há oito anos ela vende o extrato de clorofila em seu restaurante, o Moinho de Pedra-, o suco deve ser combinado com uma alimentação saudável. "Não adianta comer pratos naturais com Coca-Cola!"


 

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