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10/05/2001 - 04h38

Machismo barra exame de próstata

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ALEXANDRE PETILLO
da Folha de S.Paulo

Se há casos em que o machismo (ou a insegurança em relação à masculinidade, como pensam alguns) pode ser tão nefasto a ponto de matar o próprio homem, o câncer de próstata é um deles.

No ano passado, 6.000 homens morreram da doença no Brasil, quase a metade do número de novos casos registrados (14.830), segundo pesquisa do Instituto Nacional do Câncer. É o segundo tipo mais comum de câncer entre os homens (o de pele é o campeão) e o terceiro tipo que mais mata (o primeiro é o de pulmão, e o segundo, o de pele). E a única maneira, ou melhor, a mais eficiente de diagnosticar o tumor em seu estágio inicial -o exame de toque- é tratada feito piada pelos homens. "Mas só com esse exame (feito por meio da introdução do dedo do médico no ânus) é possível pesquisar tamanho, consistência, pontos endurecidos e dolorosos e mobilidade. O reto é a única via natural de acesso por ter sua parede intimamente ligada à próstata", diz o urologista Sami Arap, 66, chefe do Serviço de Urologia do Hospital das Clínicas de SP. O exame de PSA (proteína liberada na circulação sanguínea tanto pelo tecido normal da próstata quanto pelas células malignas) também pode detectar a presença do câncer, mas apresenta uma margem de erro de 30%, enquanto o toque retal, que permite identificar o tumor até em pessoas com PSA normal, é 90% confiável. Prioriza-se o diagnóstico porque o câncer de próstata não dá sinal de alarme na fase inicial, e a possibilidade de cura é diretamente proporcional à rapidez com que é diagnosticado.
Quanto mais precocemente, mais chances de cura. Como a mamografia para as mulheres, o exame de próstata deve ser realizado todo ano por quem passou dos 50 anos (leia na pág. 10). No Congresso, uma mulher resolveu brigar pela saúde do homem e revelou o machismo dos deputados. Depois de ler a autobiografia de um homem que teve a doença ("De Homem para Homem", de Michael Korda, ed. Martins Fontes), a deputada federal Telma de Souza (PT-SP) foi repercutir o assunto entre os deputados. "Elaborei um pequeno questionário e fiquei na porta perguntando quem já havia feito exame preventivo da próstata. Fui de um em um e percebi que mais da metade, acima dos 45 anos, não tinha feito o exame. Principalmente os mais velhos, de partidos conservadores e oriundos do Norte e Nordeste. E a desculpa sempre era o machismo. Praticamente todos disseram que não admitiriam que os tocassem no ânus", diz ela. A deputada foi defender, sob pressão e muitas piadinhas dos colegas, seu projeto de lei que prevê uma campanha publicitária a ser iniciada no dia 27/12 (Dia do Combate ao Câncer) e coloca à disposição, em toda a rede pública de saúde, exames de prevenção à doença. O projeto foi aprovado, e a lei deve entrar em vigor na semana que vem. Agora, Telma de Souza elabora outro, que estabelece que cuecas e sungas tragam, na etiqueta, instruções sobre o exame preventivo e o câncer de próstata. "O preconceito é a base da instituição da doença. Os homens se fazem de avestruz: escondem, não contam para ninguém e esquecem o assunto. Por isso é necessário muitas vezes que a mulher tome a iniciativa, fique no pé, marque consultas, auxilie no que for preciso. Para o homem, o ânus é uma região intocável, é sua identidade. Cabe à mulher mostrar que ele não vai se tornar menos macho com o toque do médico e que não existe culpa", diz a deputada.
Culpa que vem da infância, diz a psicóloga e colunista da Folha Rosely Sayão. "Desde criança, ele aprende que no ânus não se mexe. Quem utiliza o ânus como zona erógena é considerado homossexual. Mesmo que o sujeito faça o exame e não conte para os amigos, ele fica achando no seu subconsciente que é menos homem", diz Sayão. O urologista Miguel Srougi, 54, professor titular da Escola Paulista de Medicina, dá um alento aos temerosos: "Alguns ainda acham que vão se sentir "menos homem" depois do exame. Mas acredito que o que assusta mais é o medo indevido da dor. Depois da primeira vez, fica mais fácil, eles acabam voltando e não reclamam".

Dieta preventiva
A medicina ainda desconhece os mecanismos que modificam a maquinaria celular, tornando-a maligna. Mesmo que o homem leve uma vida saudável, com boa alimentação e exercícios regulares, o câncer é implacável. "A ingestão abundante de tomate e seus derivados diminui em 35% os riscos de câncer da próstata. O efeito benéfico do tomate resultaria da presença de grandes quantidades de licopeno, substância que tem atividade antioxidante ", diz Srougi.

Uma dieta sem excesso de gordura animal também auxilia a prevenção da doença. Cereais, frutas e vegetais como cenoura, brócolis, espinafre, alface, feijão, soja, melancia e abóbora, costumam inibir o crescimento das células prostáticas em laboratório e prestam um auxílio preventivo.
 

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