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22/08/2002 - 08h47

Idas ao banco podem servir como auto-afirmação para os idosos

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ANTONIO ARRUDA
da Folha de S.Paulo

Ir ao banco toda semana para checar saldo, tirar extrato, conferir rendimento de aplicação ou pagar conta de luz, água e telefone, entre tantas outras, é um comportamento típico de idosos que costuma deixar os familiares espantados -quando não preocupados com o que pode parecer uma espécie de obsessão por serviços bancários. Mas, para esses idosos, as idas ao banco em geral representam, além de distração, uma forma de se auto-afirmar. É como se o idoso dissesse para si e para os outros: "Eu ainda dou conta de cuidar das minhas contas!".

"Nessa fase da vida, a confiança no próprio taco diminui; os idosos sabem do que são capazes, mas o desgaste natural da idade faz com que eles se sintam inseguros. Mostrando cautela e vontade ao cuidar do dinheiro, sentem-se donos de si", explica a psicóloga especializada em pessoas maduras Maria Célia de Abreu. "Como os idosos possuem mais tempo livre, podem ir ao banco sem pressão; eles gostam de ter contas para pagar", diz Cláudia Ajzem, psicóloga que trabalha na Universidade Aberta à Terceira Idade da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

"Cuido de tudo sozinha. Vou ao banco toda semana. Não acho nem um pouco chato; até aproveito para caminhar. Vou logo que a agência abre, porque o tempo ainda está fresquinho, e aí é mais gostoso", conta a dona-de-casa Antonieta Oliveira, 74, com quem o filho sempre insiste: "Mãe, paga as contas pela internet". E ela sempre responde: "E o meu passeio, como é que fica?".

Como Antonieta, a dona-de-casa Anna Campos Raiza, 73, faz questão de cuidar de todas as suas contas sozinha. "Enquanto posso fazer as minhas coisas, não quero que ninguém me ajude." Antes de ser assaltada, Raiza ia ao banco toda semana. "Agora vou a cada 15 dias, porque tenho medo. E sempre é uma chance de me divertir um pouco. Tenho conta no mesmo banco há 25 anos; às vezes, eu estou na fila, e um funcionário diz: "Dona Anna, como vai?". E eu acho o máximo. As pessoas devem pensar que sou alguém importante", diz animada.

"Ficar trancado em casa é um passo para o além! Ir ao banco é um bom pretexto para andar um pouco", explica o advogado aposentado Alberto Carlos Jordão Destito, 72. Seu colega de universidade Francisco Salles, 65, concorda: "Acaba sendo uma grande distração. Dá para ver gente, trocar idéias", diz ele, com a experiência de quem vai diariamente ao banco para cuidar das contas pessoais e ainda manter a contabilidade do comércio dos filhos em ordem. "Eu cuido de toda a parte financeira", diz.

Tranquilidade a todo custo

"Não vou deixar grandes bens para os meus filhos, mas também não quero deixar dívidas." A preocupação de Raiza é comum à grande maioria dos idosos. Se ninguém gosta de ficar devendo, nessa fase da vida a preocupação em estar em dia com as despesas é ainda maior. "Na terceira idade, as características da pessoa se acentuam, ficam mais fortes", explica a psiquiatra Márcia Menon, coordenadora do serviço de neuropsicogeriatria da disciplina de geriatria da Unifesp.

"Sempre fui conservador em relação ao dinheiro. Hoje acho que sou um pouco mais. Nunca dou o passo maior do que a perna: se tenho dinheiro, gasto; se não, não arrisco", explica Destito. Para Salles, atrasar uma conta é um incômodo desnecessário. "Sou inimigo da dívida. Ela só causa desgastes e transtornos", explica.

Já a dona-de-casa Anna, quando se trata de deixar para pagar depois, abusa só um pouquinho: "Dou, no máximo, dois cheques, um à vista e outro para um mês depois. Ficou ansiosa se estou usando algo que ainda não paguei", diz.

Pagamento antecipado
Ainda em busca de tranquilidade, os idosos preferem pagar as contas antes do vencimento, explica a psicóloga Cláudia Ajzem. "Isso diminui a ansiedade", diz ela.

Outra maneira de lidar com a ansiedade é programar tintim por tintim as despesas do mês. "Não dá para cuidar de dinheiro sem planejar", diz Salles. "Imagina! Tem de estar tudo no papel, listado. Até para evitar o esquecimento, não é verdade?", diz Antonieta.

Mas, atenção, alertam os profissionais: se a necessidade de mostrar autoconfiança for levada ao extremo, a pessoa pode desenvolver uma valorização excessiva do dinheiro e aí o hábito vira uma neura.

Leia mais:

  • Como evitar que as idas ao banco virem uma neura




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