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12/09/2002 - 08h12

"Pílulas" modernas atraem quem não quer menstruar

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CIÇA GUEDES
free-lance para a Folha

Q uatro décadas depois da revolução provocada pela pílula anticoncepcional, uma grande polêmica se inicia e promete modificar novamente os paradigmas em torno da vida reprodutiva feminina. Um número cada vez maior de mulheres quer informações sobre os novos contraceptivos de uso contínuo, que prometem acabar com os transtornos que a menstruação costuma acarretar -ou pelo menos, diminui-los-, como a tensão pré-menstrual (TPM), os sangramentos em excesso, as cólicas e as temíveis variaçõesde humor.

"Pelo menos uma cliente por dia me procura para obter mais informações sobre esses medicamentos", diz o ginecologista Eduardo Zlotnik, do hospital Albert Einstein. "Há um interesse crescente, particularmente no último ano, por causa do lançamento de novos produtos no Brasil, como os implantes subcutâneos e o dispositivo intra-uterino com hormônios", diz o chefe do setor de planejamento familiar do Hospital das Clínicas, Nilson Roberto de Mello.

Existe atualmente uma extensa gama de novos anticoncepcionais hormonais à disposição no mercado, o que possibilita individualizar os tratamentos de acordo com as necessidades e o estágio de vida da mulher. As novidades estão na forma de apresentação e de uso. Há implantes subcutâneos que liberam hormônios e podem ficar três anos seguidos no corpo e dispositivos intra-uterinos que "pingam" hormônio diretamente no útero, sem exigir troca por um período de até cinco anos.

Sobre a eficácia contraceptiva desses novos medicamentos, ela é próxima de 100%, principalmente os da categoria implante (subcutâneos e intra-uterinos), pois não exigem da mulher disciplina no modo de usar.

Já com relação à eficácia no combate aos incômodos mensais, há controvérsias. Ainda não existem estudos conclusivos no Brasil nem no exterior que garantam a eficiência desses medicamentos no combate aos efeitos indesejáveis da menstruação. Também não há consenso entre os especialistas sobre possíveis males do uso contínuo desses hormônios no organismo feminino.

Os novos medicamentos jogam lenha na discussão sobre a importância ou não da menstruação para a saúde da mulher. A fisiologia feminina vem sofrendo alterações ao longo da evolução da espécie humana. No início do século 19, as mulheres menstruavam de 30 a 40 vezes ao longo da vida. Hoje, são mais de 400 ciclos menstruais. No reino animal, fêmeas de poucas espécies ainda menstruam.

"A decisão de menstruar ou não é da mulher. O fato é que há um arsenal terapêutico muito grande, e já é possível resolver com mais eficiência problemas que incomodam as mulheres", afirma o médico Jarbas Magalhães, da Comissão Nacional de Anticoncepção da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Para a secretária Elizabeth Costa, 44, o implante representou um bem-estar que ela desconhecia. "Meu sangramento era exagerado, às vezes me impedia de sair de casa", diz. Já para a fisioterapeuta Silvia Waisman, há dois meses com o implante subcutâneo, sangrar não a incomoda. "Eu quero me ver livre da irritação, das cólicas e da enxaqueca que sinto antes de menstruar", diz ela, que também não vê problemas caso a menstruação seja totalmente interrompida. "Não acredito em alguns mitos sobre a menstruação, como ser importante para "limpar" o corpo da mulher", diz Silvia.

A psicóloga Tânia Maria Soares Sonego, 37, usa uma pílula de uso contínuo há quatro meses. Usuária de anticoncepcionais orais desde os 23 anos, ela diz que, ao fazer as pausas após a ingestão de 21 comprimidos, sentia cólicas e enxaquecas que chegavam a provocar vômitos e outros desconfortos. "Os sintomas pioraram com a idade, e isso me fez optar pelo novo medicamento." Ela diz que não sente mais cólicas e quase não tem mais enxaqueca. Trocou de médico para usar o novo produto, pois o anterior não era favorável. "Agora vou partir para o implante, assim não tenho de lembrar de tomar comprimidos. Você põe e esquece."

Em estudo desenvolvido recentemente na Holanda com mais de 300 mulheres e publicado na "New Scientist", cerca de 70% daquelas entre 15 e 50 anos gostariam de ter seus ciclos mais longos: menos do que uma vez por mês. Dentre elas, a maioria preferiria ciclos a cada três meses ou nunca.

Mas há médicos que defendem a posição de menos interferência nos processos naturais do organismo. "Na idade fértil, querem que a mulher não menstrue. Quando chega a menopausa, indicam hormônios para manter o sangramento. Mas é preciso entender que, embora os remédios hormonais sejam muito mais seguros hoje em dia, todos apresentam algum tipo de risco. Não se pode vender a idéia de que finalmente apareceu uma solução mágica", pondera a ginecologista Juraci Ghiaroni, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O Centro de Apoio à Mulher com TPM do Hospital das Clínicas de São Paulo está realizando um trabalho de pesquisa inédito no Brasil e no exterior com medicamentos que interferem na menstruação de pacientes que sofrem de TPM intensa e desejam eliminar os sintomas.

"Queremos esclarecer cientificamente as vantagens ou desvantagens dos diferentes métodos, seu modo de ação no aparelho reprodutor e no restante do organismo feminino", explica a coordenadora do centro, a médica Mara Diegoli. Os resultados sairão num prazo de seis meses a um ano.

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