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29/12/2002 - 03h00

Ruído constante pode causar hipertensão

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BRUNO LIMA
da Folha de S.Paulo

Ruídos desagradáveis, venham eles do trânsito, do ambiente de trabalho ou dos tamancos da vizinha do apartamento de cima, podem levar a alterações hormonais, hipertensão arterial e até a problemas cardiovasculares, quando incomodam diariamente e durante um longo período.

A exposição constante a ruídos intensos _superiores a cerca de 80 decibéis_, além de causar perda auditiva, provoca um estresse capaz de levar a diversos problemas de saúde. Barulhos como o de uma goteira, quando atrapalham o sono todas as noites, não têm efeito na audição, mas podem causar estresse.

A percepção do que é "barulho" e as reações a ele variam de pessoa para pessoa. "Barulho é qualquer coisa que nos irrita. A noção do incômodo é subjetiva.

No mesmo ambiente, um indivíduo pode adoecer e o outro, não", declara o médico otorrinolaringologista Gilberto Pizarro, do Departamento de Distúrbios da Comunicação Humana da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que utiliza um furgão adaptado para realizar exames em locais onde existem muitos ruídos, como postos de gasolina.

Jefferson Alves, 32, motorista de ônibus há nove anos, afirma que descobriu que tinha começado a perder parte da audição quando foi examinado por Pizarro. "Sinto muita dor de cabeça, irritação. Não consigo relaxar nem quando durmo", diz Alves. O médico afirma que, se não alterar sua rotina e alimentação [veja texto ao lado], o motorista terá problemas. "Ele tem tudo para amanhã terminar com hipertensão."

O cardiologista Abrão José Cury Júnior, presidente da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, lembra que o barulho é considerado uma forma de tortura justamente pelo estresse que pode gerar. "Dependendo do tipo de ruído, o estresse, por conta da liberação de hormônios, pode condicionar a elevação da pressão arterial. Com o tempo, pode haver outras complicações."

Em algumas pessoas, as crises de enxaqueca _dor de cabeça de origem genética causada por alterações no cérebro_ são desencadeadas por exposição a ruídos.

A vendedora Marina Lima, 34, conta que perdeu há quatro meses o emprego em uma loja próxima ao aeroporto de Congonhas, zona sul de São Paulo. Apesar das dificuldades financeiras, diz que ganhou mais qualidade de vida. Com o emprego, afirma, foram embora a dor de cabeça, o estresse e a insônia. "Sem barulho, não tenho dor e estou bem menos irritada. Meu marido adorou."

De acordo com Marina, seu ciclo menstrual também ficou mais regular. "Não imaginava que as variações pudessem estar ligadas ao local de trabalho. Descobri quando saí do emprego."

Estresse orgânico
O ruído, dizem os médicos, "estressa" os sistemas circulatório, digestivo e respiratório. Pode interferir no aprendizado de crianças e até afetar um bebê que está para nascer. "Gestantes que trabalham em ambientes ruidosos têm mais incidência de má posição fetal e costumam ter partos mais complicados", diz o diretor da Fundação Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP, Edigar Rezende de Almeida.

Em ambientes em que há exposição constante a ruídos, os médicos recomendam a realização de exames desde a admissão do funcionário, para mapear a capacidade auditiva. O ideal é renovar a avaliação de seis em seis meses, prestando atenção às alterações de humor e de sono, primeiros indícios de outros problemas.

Desde 97, após mudanças nas leis, cresceu a atribuição de responsabilidade às empresas nos casos em que funcionários perdem a capacidade auditiva por exposição prolongada a ruído excessivo. No caso de problemas extra-auditivos causados por ruído, a responsabilização é mais difícil, segundo especialistas em direito.
 

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