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09/02/2003
-
06h10
CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo
Metade das causas de lombalgia (dores nas costas) pode estar relacionada a fatores psicossociais, que vão desde o estresse gerado pela desmotivação no trabalho até a depressão.
É o que demonstram estudos internacionais, endossados por ortopedistas e fisiatras brasileiros. Em razão disso, os médicos defendem que o atendimento a esses pacientes deva ir além da indicação de analgésicos e de exercícios fisioterápicos e comece a tratar os aspectos emocionais que desencadeiam a dor.
A lombalgia, na sua forma aguda ou crônica, chega a afetar 80% da população adulta e é hoje um dos principais motivos de afastamento do trabalho no Brasil, segundo a Previdência Social.
Nos últimos cinco anos, 315.187 brasileiros pediram auxílio-doença, benefício concedido após 16 dias de afastamento do trabalho, em razão das dores nas costas, que, em números absolutos, só perdem para os casos de convalescença, período de recuperação após cirurgia, que foram responsáveis por 354.933 afastamentos.
Em São Paulo, grupos ligados à USP (Universidade de São Paulo) e à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) têm usado a acupuntura, a música, a dança, a automassagem e outras terapias cognitivas e comportamentais para tratar os casos de lombalgia.
"Não adianta cuidar apenas do corpo físico. Tem que tratar as emoções", afirma o ortopedista Ysao Yamamura, 60, professor da Unifesp e responsável pelo ambulatório de acupuntura do Hospital São Paulo.
Segundo ele, a tensão emocional pode transformar a coluna em um órgão de choque, em que o indivíduo descarrega as emoções negativas, como ansiedade e frustração. "Elas [as emoções negativas] funcionam com um fardo nas costas", diz o médico.
É exatamente esse "fardo" que aparece nas costas e no pescoço da engenheira Cristiane Manne, 32, quando ela enfrenta situações de estresse. "Tenho escoliose [desvio da coluna para um lado" e, quando estou estressada, a dor piora muito", afirma. Segundo ela, a tensão só desaparece com os exercícios de fisioterapia.
Para a fisiatra Lin Tchia Yeng, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, o tratamento dos fatores emocionais, associado à dieta e aos exercícios físicos, é fundamental no processo de reabilitação da lombalgia.
Yeng afirma que nada adianta a melhoria das condições físicas (móveis dentro dos padrões ergonômicos recomendáveis) se o ambiente de trabalho continuar opressivo. "Como é difícil mudar essa situação, as pessoas têm de aprender a lidar com ela", afirma.
Segundo os médicos, 90% dos doentes de lombalgia aguda recuperam-se espontaneamente em quatro a sete semanas. Porém, metade deles deve apresentar novos episódios de dor no período de um ano, e 40% podem desenvolver um quadro de dor crônica. Yeng diz que somente de 1% a 3% dos doentes com lombalgia precisam se submeter a uma cirurgia.
Embora seja uma das queixas mais frequentes da humanidade, em 85% dos casos de lombalgia não é possível determinar o motivo da dor. Para o ortopedista Akira Ishida, professor da Unifesp, no decorrer do tempo, vários fatores de risco atuam em conjunto ocasionando a dor.
Além dos fatores psicossociais, estão o condicionamento físico deficiente, a má postura, a mecânica anormal dos movimentos, os pequenos traumas e o esforço repetitivo.
De acordo com Ishida, somente após o resultado da consulta, do exame físico e dos exames radiológicos é que o médico terá condições de indicar um tratamento adequado para o caso.
Em geral, na fase aguda da dor, que dura de cinco a sete dias, o tratamento mais recomendado é o repouso e o uso de analgésicos e antiinflamatórios. Para a fisioterapeuta Maria do Carmo Bruneli, 49, os exercícios de alongamento da musculatura e a reeducação postural também são importantes nessa fase.
"Não adianta trocar de colchão, de cadeira, de mulher. Se não houver mudança de hábito, como perda de peso e realização de atividade física, a dor voltará", reforça Akira Ishida.
Dores nas costas têm causa emocional
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da Folha de S.Paulo
Metade das causas de lombalgia (dores nas costas) pode estar relacionada a fatores psicossociais, que vão desde o estresse gerado pela desmotivação no trabalho até a depressão.
É o que demonstram estudos internacionais, endossados por ortopedistas e fisiatras brasileiros. Em razão disso, os médicos defendem que o atendimento a esses pacientes deva ir além da indicação de analgésicos e de exercícios fisioterápicos e comece a tratar os aspectos emocionais que desencadeiam a dor.
A lombalgia, na sua forma aguda ou crônica, chega a afetar 80% da população adulta e é hoje um dos principais motivos de afastamento do trabalho no Brasil, segundo a Previdência Social.
Nos últimos cinco anos, 315.187 brasileiros pediram auxílio-doença, benefício concedido após 16 dias de afastamento do trabalho, em razão das dores nas costas, que, em números absolutos, só perdem para os casos de convalescença, período de recuperação após cirurgia, que foram responsáveis por 354.933 afastamentos.
Em São Paulo, grupos ligados à USP (Universidade de São Paulo) e à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) têm usado a acupuntura, a música, a dança, a automassagem e outras terapias cognitivas e comportamentais para tratar os casos de lombalgia.
"Não adianta cuidar apenas do corpo físico. Tem que tratar as emoções", afirma o ortopedista Ysao Yamamura, 60, professor da Unifesp e responsável pelo ambulatório de acupuntura do Hospital São Paulo.
Segundo ele, a tensão emocional pode transformar a coluna em um órgão de choque, em que o indivíduo descarrega as emoções negativas, como ansiedade e frustração. "Elas [as emoções negativas] funcionam com um fardo nas costas", diz o médico.
É exatamente esse "fardo" que aparece nas costas e no pescoço da engenheira Cristiane Manne, 32, quando ela enfrenta situações de estresse. "Tenho escoliose [desvio da coluna para um lado" e, quando estou estressada, a dor piora muito", afirma. Segundo ela, a tensão só desaparece com os exercícios de fisioterapia.
Para a fisiatra Lin Tchia Yeng, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, o tratamento dos fatores emocionais, associado à dieta e aos exercícios físicos, é fundamental no processo de reabilitação da lombalgia.
Yeng afirma que nada adianta a melhoria das condições físicas (móveis dentro dos padrões ergonômicos recomendáveis) se o ambiente de trabalho continuar opressivo. "Como é difícil mudar essa situação, as pessoas têm de aprender a lidar com ela", afirma.
Segundo os médicos, 90% dos doentes de lombalgia aguda recuperam-se espontaneamente em quatro a sete semanas. Porém, metade deles deve apresentar novos episódios de dor no período de um ano, e 40% podem desenvolver um quadro de dor crônica. Yeng diz que somente de 1% a 3% dos doentes com lombalgia precisam se submeter a uma cirurgia.
Embora seja uma das queixas mais frequentes da humanidade, em 85% dos casos de lombalgia não é possível determinar o motivo da dor. Para o ortopedista Akira Ishida, professor da Unifesp, no decorrer do tempo, vários fatores de risco atuam em conjunto ocasionando a dor.
Além dos fatores psicossociais, estão o condicionamento físico deficiente, a má postura, a mecânica anormal dos movimentos, os pequenos traumas e o esforço repetitivo.
De acordo com Ishida, somente após o resultado da consulta, do exame físico e dos exames radiológicos é que o médico terá condições de indicar um tratamento adequado para o caso.
Em geral, na fase aguda da dor, que dura de cinco a sete dias, o tratamento mais recomendado é o repouso e o uso de analgésicos e antiinflamatórios. Para a fisioterapeuta Maria do Carmo Bruneli, 49, os exercícios de alongamento da musculatura e a reeducação postural também são importantes nessa fase.
"Não adianta trocar de colchão, de cadeira, de mulher. Se não houver mudança de hábito, como perda de peso e realização de atividade física, a dor voltará", reforça Akira Ishida.
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