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23/02/2003
-
02h52
CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo
Homens que adiam sucessivas vezes a data de um casamento têm agora mais uma desculpa para não ser tachados de "enrolados" ou "engana moça". Eles podem sofrer de um distúrbio chamado gamofobia, ou medo do casamento.
A fobia pode até ter alguma relação com experiências de casamentos fracassados na família, mas, segundo psicólogos e psiquiatras, a maior razão é a falta de maturidade de alguns homens em assumir a idade adulta.
"O casamento implica responsabilidades. E eles querem ser adolescentes a vida toda", afirma o psiquiatra José Carlos Zepellini.
O pânico masculino diante da responsabilidade em questões como amor e casamento é tema do filme italiano "O Último Beijo".
O filme, que mostra homens que tentam prolongar ao máximo a adolescência e mulheres ansiosas por formar uma família, ilustra bem a história do farmacêutico José Pedro de Almeida, 46, que adiou o casamento três vezes.
"Cada vez que marcava a data, começava a ter insônia. O passo seguinte eram as taquicardias. Depois, chamava a minha noiva e falava que ainda não estava preparado para casar", lembra.
No terceiro adiamento, a noiva decidiu romper o noivado. "Fiquei meio sem chão porque não era aquilo que eu queria. Eu gostava muito dela, mas tinha pânico de perder a minha liberdade."
O empresário Fernando Porto, 37, tinha um medo parecido mas conseguiu superá-lo. Após oito anos de namoro com Rosalina, 39, ele tomou coragem e a pediu em casamento. "Não acreditava na instituição casamento. Tinha medo de perder a liberdade e da rotina da vida a dois", diz.
Casado há dez anos, Porto garante que não se arrependeu. "Tudo o que consegui até hoje, carro, casa e outros bens, foram graças ao nosso companheirismo. Se tivesse ficado solteiro, teria gasto tudo nos botecos", brinca.
Para a psicóloga Magdalena Ramos, coordenadora do núcleo de casal e família da PUC-SP, muitas vezes a pessoa fantasia "a prisão do casamento" por não se sentir suficientemente amadurecida para compartilhar uma vida a dois. "Elas falam tanto que querem a liberdade, mas saem do trabalho e vão direto para a casa da mãe."
Segundo ela, em geral, esse comportamento é mais característico do homem, que tende a se sentir preso mais facilmente que a mulher. "A mulher pensa no futuro, em ter filhos. Sabe que há um relógio biológico e, por isso, tem urgência em uma relação estável."
A pesquisa Estatísticas do Registro Civil, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), feita a partir de dados de cartórios, mostra que hoje homens e mulheres estão casando mais velhos do que há dez anos.
Em 2001, diz a pesquisa, as mulheres se casaram com idade média de 26,4 anos, e os homens, com 29,9 anos. Em 1990, a média das mulheres era 23,5 anos, e dos homens, 26,9 anos.
Para a técnica Elisa Caillaux, do IBGE, as dificuldades financeiras estão alterando o perfil dos relacionamentos, levando as pessoas a preferirem se firmar no emprego e estudar mais antes de casar.
O editor de imagem Rafael Rampazzo Gambarato, 30, é um exemplo disso. Namora há nove anos a dentista Simone, 28, e diz que o motivo para adiar o casamento, "para daqui a uns quatro anos", não é o medo. "É uma decisão racional. Queremos trocar de carro, viajar para o exterior, comprar terreno, construir casa para depois pensar em casamento."
O casal se conheceu em Americana e, seis meses depois, a partir de janeiro de 1995, passou a se ver apenas nos finais de semana. Primeiro porque Simone foi estudar em Alfenas (MG). Um pouco antes de ela terminar a faculdade, Gambarato mudou-se para São Paulo. "Assim dá menos briga."
Para a psicóloga Noely Montes Moraes, 50, o que acontece com Gambarato e a namorada é um fenômeno cultural contemporâneo e cada vez mais frequente.
"Como hoje há mais liberdade, o casal de namorados pode continuar na casa dos pais, ou morar sozinho, e dormir juntos, viajar, enfim, curtir a vida. É claro que o homem fica temeroso de deixar isso tudo e assumir os compromissos do matrimônio", diz.
Segundo ela, a instituição casamento é hoje muito questionada e, por exigir uma boa dose de renúncia, as pessoas estão se perguntando se vale realmente a pena. "Uma relação estável, comprometida, não precisa necessariamente culminar no casamento", afirma a psicóloga.
Para Moraes, o questionamento também tem sido feito pelas mulheres que têm independência financeira, especialmente aquelas que já casaram anteriormente.
Solteiros convictos podem ter gamofobia
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da Folha de S.Paulo
Homens que adiam sucessivas vezes a data de um casamento têm agora mais uma desculpa para não ser tachados de "enrolados" ou "engana moça". Eles podem sofrer de um distúrbio chamado gamofobia, ou medo do casamento.
A fobia pode até ter alguma relação com experiências de casamentos fracassados na família, mas, segundo psicólogos e psiquiatras, a maior razão é a falta de maturidade de alguns homens em assumir a idade adulta.
"O casamento implica responsabilidades. E eles querem ser adolescentes a vida toda", afirma o psiquiatra José Carlos Zepellini.
O pânico masculino diante da responsabilidade em questões como amor e casamento é tema do filme italiano "O Último Beijo".
O filme, que mostra homens que tentam prolongar ao máximo a adolescência e mulheres ansiosas por formar uma família, ilustra bem a história do farmacêutico José Pedro de Almeida, 46, que adiou o casamento três vezes.
"Cada vez que marcava a data, começava a ter insônia. O passo seguinte eram as taquicardias. Depois, chamava a minha noiva e falava que ainda não estava preparado para casar", lembra.
No terceiro adiamento, a noiva decidiu romper o noivado. "Fiquei meio sem chão porque não era aquilo que eu queria. Eu gostava muito dela, mas tinha pânico de perder a minha liberdade."
O empresário Fernando Porto, 37, tinha um medo parecido mas conseguiu superá-lo. Após oito anos de namoro com Rosalina, 39, ele tomou coragem e a pediu em casamento. "Não acreditava na instituição casamento. Tinha medo de perder a liberdade e da rotina da vida a dois", diz.
Casado há dez anos, Porto garante que não se arrependeu. "Tudo o que consegui até hoje, carro, casa e outros bens, foram graças ao nosso companheirismo. Se tivesse ficado solteiro, teria gasto tudo nos botecos", brinca.
Para a psicóloga Magdalena Ramos, coordenadora do núcleo de casal e família da PUC-SP, muitas vezes a pessoa fantasia "a prisão do casamento" por não se sentir suficientemente amadurecida para compartilhar uma vida a dois. "Elas falam tanto que querem a liberdade, mas saem do trabalho e vão direto para a casa da mãe."
Segundo ela, em geral, esse comportamento é mais característico do homem, que tende a se sentir preso mais facilmente que a mulher. "A mulher pensa no futuro, em ter filhos. Sabe que há um relógio biológico e, por isso, tem urgência em uma relação estável."
A pesquisa Estatísticas do Registro Civil, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), feita a partir de dados de cartórios, mostra que hoje homens e mulheres estão casando mais velhos do que há dez anos.
Em 2001, diz a pesquisa, as mulheres se casaram com idade média de 26,4 anos, e os homens, com 29,9 anos. Em 1990, a média das mulheres era 23,5 anos, e dos homens, 26,9 anos.
Para a técnica Elisa Caillaux, do IBGE, as dificuldades financeiras estão alterando o perfil dos relacionamentos, levando as pessoas a preferirem se firmar no emprego e estudar mais antes de casar.
O editor de imagem Rafael Rampazzo Gambarato, 30, é um exemplo disso. Namora há nove anos a dentista Simone, 28, e diz que o motivo para adiar o casamento, "para daqui a uns quatro anos", não é o medo. "É uma decisão racional. Queremos trocar de carro, viajar para o exterior, comprar terreno, construir casa para depois pensar em casamento."
O casal se conheceu em Americana e, seis meses depois, a partir de janeiro de 1995, passou a se ver apenas nos finais de semana. Primeiro porque Simone foi estudar em Alfenas (MG). Um pouco antes de ela terminar a faculdade, Gambarato mudou-se para São Paulo. "Assim dá menos briga."
Para a psicóloga Noely Montes Moraes, 50, o que acontece com Gambarato e a namorada é um fenômeno cultural contemporâneo e cada vez mais frequente.
"Como hoje há mais liberdade, o casal de namorados pode continuar na casa dos pais, ou morar sozinho, e dormir juntos, viajar, enfim, curtir a vida. É claro que o homem fica temeroso de deixar isso tudo e assumir os compromissos do matrimônio", diz.
Segundo ela, a instituição casamento é hoje muito questionada e, por exigir uma boa dose de renúncia, as pessoas estão se perguntando se vale realmente a pena. "Uma relação estável, comprometida, não precisa necessariamente culminar no casamento", afirma a psicóloga.
Para Moraes, o questionamento também tem sido feito pelas mulheres que têm independência financeira, especialmente aquelas que já casaram anteriormente.
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