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23/02/2003 - 02h58

"Fome oculta" afeta 25% das pessoas

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FABIANE LEITE
da Folha de S.Paulo

Hérika Puríssimo tem um peso normal e vive em ótimas condições, mas padece, assim como muitos outros brasileiros de bom poder aquisitivo, de uma fome que não dá sinais de desnutrição nem move grandes campanhas.

O termo "fome oculta" é empregado pelos especialistas em alimentação para definir a carência de micronutrientes (vitaminas, minerais) que não causa danos aparentes à saúde mas que, devagar, mina a resistência do organismo, atrapalha seu metabolismo, traz tanto cansaço e fraqueza a quem sofre do problema que derruba o rendimento no trabalho, a vontade de estudar ou de "sair da cama", como diz Hérika, que sofre periodicamente de anemia (carência grave de ferro).

"Ela atinge qualquer camada social. Os mais pobres porque não comem o suficiente. A classe rica, que poderia fazer alimentação preventiva, porque não gosta de vegetais", diz Rebeca de Angelis, química especializada em nutrição e autora do livro "Fome Oculta" (Editora Atheneu).

No Brasil, apesar de não existirem dados consolidados, uma série de estudos recentes tem apontado alta prevalência de deficiências de vitamina A e ferro, disseminada por todo o país.

O problema é mais preocupante em regiões pobres, mas não tem relação somente com baixa renda e pouca escolaridade. Entre os que vivem bem, é reflexo principalmente de modismos, falta de conhecimento sobre os alimentos, tabus. E também da associação errônea de fontes dos nutrientes com alimentos que dificultam sua absorção- como café e refrigerantes, no caso do ferro.

Maiores carências

As deficiências de vitamina A, ferro e iodo são priorizadas pela Organização Mundial da Saúde, por serem as três maiores carências nutricionais mundiais. A fome oculta afeta uma em cada quatro pessoas no mundo.

No Brasil, onde 90% das famílias têm acesso ao sal iodado, a deficiência do micronutriente já não é problema. Mas até em países desenvolvidos a anemia é preocupante, com prevalência de cerca de 12%. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo com 8.000 crianças de 0 a 6 anos em 20 capitais mostrou prevalência de 53% de anemia entre os pré-escolares de creches. Outro estudo do mesmo grupo, em escolas públicas, apontou 15% de prevalência.

"É resultado de hábitos errados com as combinações inadequados de alimentos", diz, sobre o problema, Mauro Fisberg, chefe do setor de adolescentes da Unifesp e diretor de nutrição da Universidade São Marcos, ambas escolas de São Paulo.

Quase 1 bilhão de pessoas no mundo sofrem de deficiência de vitamina A. No ano passado, a professora Andréa Ramalho, titular do Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicou em revista da Organização Pan-Americana de Saúde um estudo de revisão bibliográfica em que apontava índices de fome oculta de vitamina A de 30% a 50%, principalmente em crianças brasileiras.

Em todas as regiões estudadas (Sudeste, Norte e Nordeste, principalmente), a carência é alta em todas as faixas etárias. Inquéritos nutricionais realizados nos últimos 25 anos no país indicam que cerca de 60% da população tem ingestão extremamente baixa do nutriente de fontes naturais.

"Não há outro micronutriente com mais relação com o sistema imune do que a vitamina A", diz Ramalho. "A fonte animal mais importante de vitamina A é fígado. A carne é barata, mas as pessoas resistem ao sabor", diz ela sobre um dos tabus que causam a carência do micronutriente.
 

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