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03/03/2003 - 10h49

Alta expectativa sexual causa frustração no Carnaval

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AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo

Vá atrás do bloco que desejar, vista a máscara que preferir, mas não comece o Carnaval sentindo-se na obrigação de satisfazer todas as suas fantasias sexuais. Você corre o risco de chegar na quarta-feira com camisinhas sobrando no bolso e um desconfortável sentimento de frustração.

Ver no Carnaval uma festa na qual todos se liberam e conseguem "grandes aventuras sexuais" é uma crença que "não vale para todo mundo". Criar expectativas e acabar se sentindo deixado de "fora da festa" pode prejudicar a auto-estima e causar frustrações, dizem os especialistas.

"Há uma tendência de normatizar e massificar a sexualidade. Isso acaba provocando sofrimento nas pessoas", diz a psicóloga Jonia Lacerda, supervisora no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Determinar padrões supostamente normais -como o número de relações por semana ou a duração delas- é ir contra o que a sexualidade tem de mais especial, que é o "diferente", diz a psicóloga. "A sexualidade é única para cada pessoa e será diferente em cada momento da vida."

"Não catei ninguém"

"No Carnaval, fica uma conotação tão sexual que vira uma exigência das pessoas, quando poderia ser um momento de festa", diz a psicóloga Beth Gonçalves, coordenadora da ONG GTPOS, Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual. O grupo atua com adolescentes. "Os meninos dizem que no Carnaval precisa ser mais de uma, uma só é fácil", diz Thais Scabio, 25, que trabalha com adolescentes da Cidade Júlia, na zona sul. "Quando não conseguem, nem falam, apenas lamentam, "não catei ninguém"."

Beth Gonçalves diz que o Carnaval acabou se transformando de encontro em obrigação. "É como se você estivesse entre a camisa-de-força e a camisa-de-vênus."

Estudos mostram que, embora as oportunidades e os encontros sejam mais frequentes no Carnaval, as pessoas bebem tanto que a relação sexual acaba "a meio pau", como se diz na gíria. O que, na prática, só aumenta os riscos das DSTs, Aids e gravidez.

"Babando"

Por conta disso, é nesta época que os órgãos de saúde e ONGs que trabalham com Aids e sexualidade mais distribuem camisinha. Em estações de trem, sambódromo e clubes há sempre um grupo distribuindo camisinha. Quem quiser, vai encher os bolsos. Nos outdoors e na TV, Kelly Key dirá que sem camisinha você ficará "babando".

Especialistas dizem que, mesmo com camisinha no bolso, sempre existirá um grupo "babando", por conta dos desencontros, da baixa auto-estima e da solidão.

"A miséria sexual não desapareceu, mesmo com a suposta liberação", afirma Jonia Lacerda. A terapeuta sexual Carla Zeglio, do Instituto Paulista de Sexualidade, diz que os encontros são sempre possíveis. "As pessoas mais se excluem do que são excluídas. Quem deseja e vai em busca de afeto acaba encontrando." Homens e mulheres que estão sozinhos "não se encontram porque não estão dispostos" ou "porque buscam alguém perfeito".

O Ministério da Saúde, principal pregador e distribuidor de camisinhas, diz não ter a intenção de causar sofrimento ou frustração em ninguém. "As campanhas não são mais erotizadas", diz Denise Doneda, responsável pela prevenção no Progama Nacional de DST-Aids. "Aproveitamos um momento de festa para falar de saúde de forma lúdica."

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