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03/04/2003 - 03h31

É possível se tornar atleta e competir depois dos 30

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RICARDO LISBÔA
free-lance para a Folha de S.Paulo

Participar de competições, ganhar e sentir o gostinho de levar para casa um troféu não é um sonho restrito a quem treina desde a infância. Se o objetivo é competir pelo prazer, não profissionalmente, a idade não é um obstáculo. Mesmo depois dos 30 anos, a disciplina e a força de vontade podem render boas medalhas e até mesmo melhorar o desempenho profissional no ambiente de trabalho.

Para se tornar um atleta master ou veterano, como é chamado o amador que começou a frequentar as provas esportivas após a terceira década de vida, o primeiro passo é fazer um check-up e abandonar o discurso de que a rotina é corrida e não sobra tempo para nada. Por causa dos treinos, o dia geralmente começa mais cedo, mas as pessoas que ingressaram nessa atividade não reclamam: elas se dedicam com gosto e disciplina a algum esporte, treinando pelo prazer e pela vontade de competir e de superar limites. O baiano Gilson dos Santos, 46, encarna esse perfil.

Programador de computador, ele compete em provas de atletismo desde 1994. Naquele ano, Santos conseguiu retornar às corridas de 100 metros rasos e 200 metros rasos, sonho interrompido quando completou 18 anos e precisou começar a trabalhar. Santos é campeão nas duas modalidades desde que voltou a correr. Em 1998, foi medalha de ouro nos 200 metros rasos e nos 400 metros rasos dos Jogos Mundiais Master -equivalente à Olimpíada, só que para atletas veteranos-, realizados nos Estados Unidos. Casado há 21 anos, diz que a mulher e as duas filhas apoiaram-no nessa volta ao esporte. "Hoje, o atletismo é parte da minha rotina.

Treino, depois trabalho e cuido da minha família." Com 69 anos, a nadadora fluminense Marlene Mendes compete regularmente desde 1980. Quando começou, era professora de inglês. "Assim que me aposentei, juntei um dinheirinho e viajei o mundo todo competindo", diz. Ela já foi à Austrália, ao Canadá, ao Japão e a vários outros países, sempre para participar de provas de natação, e acumula mais de 2.000 medalhas.

Regras do jogo

Mas não é preciso sair do país para competir. No Brasil inteiro, durante todo o ano, há competições das mais variadas modalidades para atletas veteranos. A maioria tem o mesmo critério para os competidores: ter mais de 30 anos e competir em classes da mesma faixa etária, que muda a cada cinco anos. Assim, quem tem 45 anos compete com pessoas de até 49 anos.

A dentista Cláudia Sakai, 33, queria praticar uma arte marcial desde menina. Há um mês, escolheu o hapkido (semelhante ao aiquidô) e começou a treinar. "Por enquanto, estou aprendendo a técnica, mas entrei nesse treinamento para competir. Não vejo a hora de isso acontecer", afirma.

Entre os atletas, existe o rumor de que as mulheres são mais competitivas que os homens. A experiência da comerciante Márcia Carvalho, 53, pode não comprovar essa tese, mas indica que o espírito de que "o importante é competir" nem sempre funciona entre as mulheres.

Ela, que é nadadora, tirou o terceiro lugar numa prova em águas abertas. Uma de suas amigas conquistou o primeiro lugar. "A mulher que ficou em segundo nem nos olhou direito e mal nos cumprimentou!"

Mais motivação

De acordo com o médico do esporte Marcelo Baboghluian, há um lado bastante útil da competitividade nas quadras, nas raias e nas pistas, que ocorre se esse espírito é levado também para o cotidiano profissional. Quando isso acontece, geralmente as pessoas começam a encarar o trabalho de forma mais aberta e pensam em estratégias que também as motivam a trabalhar, afirma o médico.

Mas qual esporte escolher? O raciocínio é bem lógico: pessoas que são introspectivas devem escolher esportes individuais, como corridas e natação. Os mais extrovertidos podem organizar um grupo e partir para competições em esportes coletivos. Mas essa regra não é rígida. Mais importante é que o futuro atleta master identifique o esporte que mais o atraia e estimule.

Para a biomédica Miriam Zupo, 47, seu envolvimento com a natação é tão grande que ela qualifica esse esporte como seu segundo trabalho. "No ano passado comecei a entender o esporte como um outro trabalho. Agora, eu entro na piscina para ganhar", afirma.

Zupo sempre teve piscina em casa, mas começou a nadar seriamente há três anos. O primeiro estímulo surgiu quando seus filhos começaram a ter aulas de natação e passaram a competir obstinadamente. "Um funcionário da academia me perguntou se eu não preferiria nadar também, no lugar de ficar só assistindo", conta. Ela topou, mas só 11 anos depois decidiu competir. No ano passado, ganhou nove das dez etapas do campeonato paulista em águas abertas. Detalhe: ela não participou da etapa que não ganhou.

A história da engenheira eletrotécnica Maria Inês Kitahara, 50, é parecida. Ela tem o filho de 16 anos como exemplo. Desde novembro, ela treina todos os dias. "Quando eu tinha 20 e poucos anos, pensava: "Coitada, aquela ali já está acabada, tem 50 anos!". Hoje, eu conheço gente com bem mais de 50 que trabalha, pratica esportes e tem muito pique."

"Casei, separei, caí na balada e decidi voltar para o esporte", afirma o comerciante Fernando Sales, 38, que, em 1999, voltou a jogar tênis, esporte que praticou até começar a faculdade. Desde então, ele participou de torneios nacionais, ganhou alguns e competiu em uma etapa do mundial. "Há épocas em que é preciso abrir mão de festas, mesmo de aniversários de amigos. Eles estranham muito." Fardos de quem quer ser campeão.

Onde: AAVSP (Ass. Atlética Veteranos de SP): tel. 0/xx/11/3887-9483; ABMN (Ass. Bras. Master de Natação): tel. 0/xx/21/2532-5948; Abram (Ass. Bras. de Atletismo Master): tel. 0/xx/51/3232-2964; FBBM (Fed. Bras. de Futebol Master): www.fbbm.com.br.

 

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