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08/06/2003
-
02h42
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo
Episiotomia é um corte cirúrgico feito na lateral da vagina, na hora do parto, supostamente para facilitar a passagem do bebê. O bisturi corta músculos, nervos e vasos da vulva e da vagina, que em seguida são costurados. Em geral, sem nenhuma anestesia.
A Organização Mundial da Saúde considera que em menos de 10% dos partos vaginais a episiotomia seria necessária. No Brasil e em toda a América Latina, ela é feita de rotina, na grande maioria dos nascimentos.
Na quinta à noite, dia 12, na Câmara Municipal de São Paulo, a Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento, Rehuna, lança uma campanha pela redução das episiotomias desnecessárias. No manhã seguinte, no Conselho Regional de Medicina, a campanha tenta convencer os médicos de que o procedimento só provoca dores, complicações para a saúde e danos para a vida sexual da mulher. "Os médicos fazem por desinformação, não por mal.
Acham que assim evitam o afrouxamento vaginal que o parto provocaria, o que não é verdade", diz Simone Diniz, doutora em medicina preventiva e membro da coordenação estadual da Rehuna.
A crença de que a vagina se alarga com a passagem do bebê e que o prazer sexual, especialmente do homem, dependeria de um orifício estreito, está arraigada entre leigos e médicos, afirma Diniz. Não por acaso, os pontos que o médico obstetra dá para fechar o corte da episiotomia é chamado de "ponto do marido".
Abaixo, trechos da entrevista concedida pela médica:
Folha - A episiotomia é utilizada desde o século 18 e ainda hoje ensinada nas escolas médicas e praticada em hospitais considerados de referência. Por que isso?
Simone Diniz - Hospitais maternidades como o Santa Marcelina e o Ipiranga, de São Paulo, dirigidos por médicos que defendem o parto humanizado e condenam a episiotomia, têm um índice de mais de 40% desse procedimento. A cada novo profissional que chega, há resistência, afirmam seus diretores. Em muitos hospitais públicos, a porcentagem de episiotomia chega a 90%. A prática só é pouco frequente nas maternidades privadas, e tão somente porque o número de cesáreas costuma ser muito alto.
No entanto, na medicina baseada em evidências, não há nada que comprove possíveis benefícios desse procedimento. A musculatura pélvica, tanto da vagina como do controle da bexiga, pode ser preservada e aperfeiçoada por meio de exercícios, sem auxílio de cirurgias. A episiotomia é necessária em raros casos, e mesmo nesses poderia ser resolvida com a mãe ficando em posição vertical.
Folha - A episiotomia tem custo?
Diniz - Um estudo publicado em 2002 estimou em US$ 134 milhões as perdas hospitalares apenas com esse procedimento, sem falar nas suas consequências e frequentes complicações. E sem contar a dor intensa e o desrespeito aos direitos reprodutivos e sexuais femininos. A integridade corporal é um dos direitos humanos da mulher, que nesse caso é totalmente desrespeitado.
Da campanha que estamos lançando agora também participará a Rede Latino-Americana e do Caribe pela Humanização do Parto e do Nascimento. A América Latina é o continente que mais resiste a abolir essa prática. Nos EUA, onde se fazia a episiotomia em todos os partos vaginais, o índice já caiu para menos de 50%.
Médica defende parto sem corte cirúrgico na vagina
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da Folha de S.Paulo
Episiotomia é um corte cirúrgico feito na lateral da vagina, na hora do parto, supostamente para facilitar a passagem do bebê. O bisturi corta músculos, nervos e vasos da vulva e da vagina, que em seguida são costurados. Em geral, sem nenhuma anestesia.
A Organização Mundial da Saúde considera que em menos de 10% dos partos vaginais a episiotomia seria necessária. No Brasil e em toda a América Latina, ela é feita de rotina, na grande maioria dos nascimentos.
Na quinta à noite, dia 12, na Câmara Municipal de São Paulo, a Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento, Rehuna, lança uma campanha pela redução das episiotomias desnecessárias. No manhã seguinte, no Conselho Regional de Medicina, a campanha tenta convencer os médicos de que o procedimento só provoca dores, complicações para a saúde e danos para a vida sexual da mulher. "Os médicos fazem por desinformação, não por mal.
Acham que assim evitam o afrouxamento vaginal que o parto provocaria, o que não é verdade", diz Simone Diniz, doutora em medicina preventiva e membro da coordenação estadual da Rehuna.
A crença de que a vagina se alarga com a passagem do bebê e que o prazer sexual, especialmente do homem, dependeria de um orifício estreito, está arraigada entre leigos e médicos, afirma Diniz. Não por acaso, os pontos que o médico obstetra dá para fechar o corte da episiotomia é chamado de "ponto do marido".
Abaixo, trechos da entrevista concedida pela médica:
Folha - A episiotomia é utilizada desde o século 18 e ainda hoje ensinada nas escolas médicas e praticada em hospitais considerados de referência. Por que isso?
Simone Diniz - Hospitais maternidades como o Santa Marcelina e o Ipiranga, de São Paulo, dirigidos por médicos que defendem o parto humanizado e condenam a episiotomia, têm um índice de mais de 40% desse procedimento. A cada novo profissional que chega, há resistência, afirmam seus diretores. Em muitos hospitais públicos, a porcentagem de episiotomia chega a 90%. A prática só é pouco frequente nas maternidades privadas, e tão somente porque o número de cesáreas costuma ser muito alto.
No entanto, na medicina baseada em evidências, não há nada que comprove possíveis benefícios desse procedimento. A musculatura pélvica, tanto da vagina como do controle da bexiga, pode ser preservada e aperfeiçoada por meio de exercícios, sem auxílio de cirurgias. A episiotomia é necessária em raros casos, e mesmo nesses poderia ser resolvida com a mãe ficando em posição vertical.
Folha - A episiotomia tem custo?
Diniz - Um estudo publicado em 2002 estimou em US$ 134 milhões as perdas hospitalares apenas com esse procedimento, sem falar nas suas consequências e frequentes complicações. E sem contar a dor intensa e o desrespeito aos direitos reprodutivos e sexuais femininos. A integridade corporal é um dos direitos humanos da mulher, que nesse caso é totalmente desrespeitado.
Da campanha que estamos lançando agora também participará a Rede Latino-Americana e do Caribe pela Humanização do Parto e do Nascimento. A América Latina é o continente que mais resiste a abolir essa prática. Nos EUA, onde se fazia a episiotomia em todos os partos vaginais, o índice já caiu para menos de 50%.
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