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11/12/2003 - 05h10

Dieta balanceada supre necessidade de vitaminas

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IARA BIDERMAN
Free-lance para a Folha de S.Paulo

A oferta é boa: no Brasil, estão à venda cerca de 500 produtos registrados como suplementos vitamínicos e minerais pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Nenhum deles pode apregoar indicações terapêuticas, mas esse tipo de produto é, muitas vezes, associado a idéias mais ou menos vagas de melhoria da saúde e prevenção de doenças. A associação não deixa de ter sua lógica: vitaminas e sais minerais são nutrientes indispensáveis às funções vitais e necessários em pequenas quantidades --por isso são também conhecidos como micronutrientes.

O problema é que muitos acreditam que os suplementos, que podem ser encontrados até nos supermercados, são uma forma prática de ter uma dieta teoricamente muito mais saudável. A suplementação indiscriminada, porém, é questionável. Vitaminas e sais minerais podem ser obtidos nas quantidades necessárias nas refeições habituais, sem que ninguém precise fazer malabarismos na cozinha ou com o orçamento doméstico.

"Quem come massas, cereais, leite e derivados, carnes, legumes, verduras e frutas em pequenas porções divididas em cinco refeições, ao longo do dia, ingere o suficiente para suprir suas necessidades alimentares", diz o geriatra Wilson Jacob Filho, diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP).

Salvo situações específicas de subalimentação e desnutrição, "não há indício de deficiência vitamínica generalizada na população brasileira", diz Franco Lajolo, professor do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

Então por que as vitaminas são ingeridas sem indicação de um especialista? "As pessoas acham que os suplementos não devem fazer mal e podem ser benéficos para a saúde", diz Lajolo.

Para Jacob, é preciso acabar com a idéia de que quanto mais melhor e de que as vitaminas não aproveitadas são facilmente eliminadas pela urina. Em grandes quantidades e continuamente, o consumo desnecessário de vitaminas e minerais sobrecarrega o aparelho excretor, explica o geriatra.

O risco de prejuízos à saúde é maior para quem ingere sobredoses das chamadas vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), que não são solúveis em água. Acumulada no organismo por um período prolongado, a vitamina A pode provocar de queda de cabelos a aumento do baço, exemplifica o médico Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). Já o excesso de vitamina D força o cálcio a se depositar nos tecidos moles, como coração e rins. Por causa dos riscos, o Ministério da Saúde estabelece os limites máximos considerados seguros para cada vitamina e mineral. Para obter o registro como suplemento, o produto pode conter de 25% a 100% da ingestão diária recomendada (IDR) dos micronutrientes presentes em sua fórmula, explica a nutricionista Antônia Maria Aquino, gerente de Produtos Especiais da Anvisa. Aqueles que contêm quantidades superiores à IDR são registrados e vendidos como medicamentos. Isso não impede, porém, que alguém consuma mais comprimidos do que o indicado na embalagem.

Necessidades especiais

Os benefícios efetivos e comprovados dos suplementos estão vinculados a situações bem específicas, diz Raquel Pimentel, coordenadora da Unidade de Nutrição e Dietética do Hospital Samaritano (SP). É o caso de doentes em recuperação, crianças de determinada idade e grávidas, por exemplo --e a suplementação deve ser sempre supervisionada por um especialista. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda suplementação de ferro para crianças de zero a dois anos, diz Anne Lise Dias Brasil, chefe do setor de distúrbios do apetite da disciplina de nutrição e metabolismo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Já os suplementos de vitamina D são indicados a partir do primeiro mês até um ano e meio de vida, explica ela. Nas mulheres, a necessidade de cálcio aumenta a partir dos 50 anos. A perda de massa óssea relacionada à pós-menopausa justifica a suplementação, explica Jacob. Gestantes que aumentam a ingestão de ácido fólico para 400 mg a 600 mg por dia diminuem os riscos de aborto, hemorragia, partos prematuros e doenças neurológicas no feto. "Uma experiência realizada no Chile mostrou que a adição de ácido fólico à farinha de trigo reduziu em 40% os defeitos de tubo neural nos fetos", afirma Lajolo. Outras utilizações de suplementos devem ser analisadas individualmente.

Em investigação

Há pesquisas que sugerem que doses aumentadas de vitamina podem prevenir o aparecimento de certas doenças em pessoas predispostas a desenvolvê-las.

Um trabalho recente sugere que pessoas que ingerem doses elevadas de vitamina E apresentam menor possibilidade de desenvolver mal de Alzheimer, que leva à deterioração do funcionamento cerebral. Apesar de achar esse estudo bastante cuidadoso, Jacob acha que ainda é insuficiente como justificativa para aumentar os valores da IDR desse micronutriente.

Segundo Lajolo, a maioria das pesquisas sobre o aumento generalizado da ingestão de vitaminas e minerais não é conclusiva. "O conceito da necessidade de vitaminas mudou. Admite-se tomar um pouco mais do que as necessidades diárias para evitar doenças futuras e não para suprir deficiências, mas os cientistas ainda estão divididos a esse respeito", afirma o professor.

Outro grupo de pesquisas faz uma relação entre níveis baixos de vitaminas B12, B6 e ácido fólico e o aumento de homocisteína, substância presente no sangue que favorece o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Mas, de acordo com Lajolo, esses estudos foram realizados com grupos populacionais com deficiência no metabolismo dessas vitaminas do complexo B. Além disso, os trabalhos ainda estão em andamento.

Leia mais
  • Consumo excessivo de complexos de vitaminas pode ser prejudicial
  • Conheça a ação dos principais micronutrientes no organismo
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