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11/01/2004 - 08h00

Cardiopatia congênita evolui em silêncio

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ADRIANA CHAVES
da Agência Folha

A recém-descoberta de uma séria doença cardíaca do ator Norton Nascimento, 41, chamou a atenção para as cardiopatias congênitas que podem passar despercebidas por anos. Com o tempo, até as mais simples tendem a se agravar, comprometendo outros órgãos e até levando à morte.

Segundo um dos médicos que atendeu o ator no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, o cirurgião-assistente da equipe de transplante Rodrigo Moreira Castro, a demora em diagnosticar as doenças congênitas pode piorar o quadro e atingir órgãos como rins e pulmões.

"As cardiopatias congênitas descobertas tardiamente são pouco comuns, mas são as mais graves. São doenças de longa data e submetem o coração a um estresse intenso. Quando diagnosticadas em adultos, são geralmente mais complexas", disse Castro.

"A maioria dessas cardiopatias fica em orifícios do coração responsáveis pela comunicação do lado direito com o lado esquerdo do órgão, o que sobrecarrega muito os pulmões."

No caso do ator, um problema na válvula aórtica, responsável por movimentos de regulação sanguínea, evoluiu até atingir o ventrículo esquerdo do coração e formar um aneurisma, chegando a atrofiar o músculo cardíaco.

A doença foi detectada há cinco meses. Quando Nascimento se submeteu a uma cirurgia para substituir a válvula, no dia 15, o procedimento não foi suficiente e ele precisou de um transplante de coração, feito quatro dias depois.

Segundo sua mulher, Kely Candia, 28, o ator só começou a apresentar sintomas há pouco tempo. "Recentemente, ele parou de beber e de fumar e começou a ter dor, mas achava que era pela falta das drogas [nicotina e álcool]. Aí descobriu o aneurisma."

Candia disse que Nascimento tinha "certeza da vitória com Deus", antes mesmo de conseguir um doador. "Ele sempre fez campanhas e já tinha essa sementinha plantada. Agora, vai se empenhar nas campanhas de doação."

Último estágio

Mesmo quando a origem não é no coração, mas em artérias ou válvulas, as cardiopatias podem se agravar até o ponto de exigir transplante cardíaco, como no caso de Nascimento, ou transplante duplo (coração e pulmão).

"O transplante cardiopulmonar é o último estágio, quando já passou a fase de correção cirúrgica e o problema levou o coração ao extremo, sobrecarregando o pulmão. Nesse caso, é necessário trocar o coração e os pulmões. O risco é elevadíssimo", disse Castro.

Para o cardiologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Renato Barroso, "o desafio é evitar o transplante. A maioria dos pacientes que entra na fila não sobrevive até conseguir o órgão".

Em geral, exames como o ecocardiograma, radiografia de tórax e a ausculta cardíaca, feita com estetoscópio para identificar ruídos, são suficientes para detectar cardiopatias, mesmo sem sintomas.

Em cardiopatas, falta de ar, cansaço e tontura são muitas vezes confundidos com sinais de estresse e desgaste físico.

São poucos os dados sobre as doenças congênitas descobertas apenas em adultos. De acordo com Castro, as válvulas aórticas bicúspides, uma das ocorrências mais comuns, atingem de 20% a 30% dos diagnósticos tardios. A comunicação interatrial também é frequente.

Segundo o professor de cardiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Antônio Carlos Camargo Carvalho, as cardiopatias congênitas atingem de oito a dez nascimentos em cada grupo de mil. Para ele, o maior acesso aos serviços de saúde e o aprimoramento no diagnóstico e tratamento das doenças congênitas reduz os casos tardios.

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