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25/01/2004 - 07h49

Cicatriz já não é marca irreversível

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LIANE FACCIO
da Folha de S.Paulo

Baixa auto-estima, limitações de ordem física, convívio social comprometido. Portadores de cicatrizes que fogem do padrão de normalidade de marcas do gênero --fina, plana e com coloração semelhante à da pele ao redor-- estão sujeitos a desconfortos desse tipo, e muitas vezes só uma nova cirurgia, com a substituição ou a suavização da cicatriz existente, pode mudar a vida do paciente.

Foi assim com a publicitária Maira Garcia, 32, que sofreu um acidente de carro aos 10 anos e teve um corte profundo na testa e outros de menor extensão nas outras áreas do rosto. Ela conta que passou parte da pré-adolescência escondendo a cicatriz com bonés e que, aos 21 anos, chegou a "travar" em sua intenção de fazer teatro por acreditar que um ator não poderia pisar no palco estampando uma cicatriz no rosto.

Mais de 20 anos depois do acidente e após duas cirurgias reparadoras, a agora também cantora acha que muito de sua inibição decorria de imaturidade, mas reconhece o efeito psicológico das plásticas. "Uma cicatriz no rosto mexe muito com a identidade da gente", diz ela.

Há 30 anos atuando como cirurgião plástico, Roberto Chem, 61, afirma que não há mágica para a retirada de uma cicatriz. "Uma agressão à pele é definitiva", explica Chem, professor da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas do Rio Grande do Sul e chefe do setor de cirurgia plástica da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

"Converso bem com o paciente e trabalho com ele com afeto, tratando-o como aliado, porque não há garantia de bom resultado."

A ressalva é importante porque o retorno ou não do sinal também depende de peculiaridades de quem vai ser operado, como fatores genéticos. "Cicatriz é a marca remanescente de uma injúria, é uma tentativa do organismo de restaurar a pele agredida", explica a dermatologista Doris Hexsel, 49, coordenadora do departamento de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Alguns procedimentos podem ser feitos no consultório do próprio dermatologista. É o caso da compressão, usada para cicatrizes elevadas e quelóides, que consiste no uso de uma atadura bem apertada e que provoca o rebaixamento da cicatriz.

Segundo Sérgio Carreirão, 59, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, um dos produtos utilizados para suavizar marcas mais tênues é a lâmina de silicone, fixada na região afetada por pelo menos 15 dias, período em que, conforme o silicone é liberado, o tecido passa a amolecer.

Outra possibilidade é a injeção de cortisona, que pode ser utilizada, segundo Doris Hexsel, nos casos em que as marcas desaparecem momentaneamente quando a pele é distendida, num pequeno teste manual. Nesses casos, a infiltração com corticóides ou o preenchimento com ácido hialurônico, ambas substâncias produzidas pelo corpo humano, pode corrigir os problemas.

Peelings são usados para retirar marcas, tanto as mais sutis, como as de acnes que atingiram a epiderme, a camada mais superficial da pele, quanto às que atingiram a derme, a porção mais profunda.

Márcio Rutowitsch, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, cita como exemplo os peelings realizados com irradiação a laser. Não chegam a ser invasivos como as cirurgias, mas exigem que o paciente fique em casa pelo menos uma semana e só se exponha à claridade com protetor solar, uma vez que retiram toda a epiderme e causam feridas que não costumam cicatrizar antes de três semanas.

Às vezes, a cicatriz não desencadeia mal-estar estético, mas dói, coça ou está numa posição que atrapalha o movimento, como a palma da mão ou a região da dobra do dedo, impedindo que ele estique totalmente. Nessas situações os médicos aconselham uma cirurgia que pode mudar a direção, alongar ou mesmo substituir a cicatriz muito evidente por uma mais discreta.

Independentemente do tipo de cicatriz ou do procedimento de remoção a ser utilizado, é consenso entre cirurgiões e dermatologistas que o médico acompanhe o paciente que tiver a pele agredida. "O acompanhamento pode prevenir infecções e indicar o melhor tratamento para que o caso não se agrave", observa Doris Hexsel.
 

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