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12/02/2004 - 07h10

Tênis bom combina com o pé e a pisada

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ANA PAULA DE OLIVEIRA
da Folha de S.Paulo

Difícil não se deixar seduzir pela propaganda e pelos itens "high-tech", como pilares gelificados, regulagem do fluxo de ar entre as câmaras do calcanhar e bolsas com gás pressurizado ou gel. Mas, se o assunto é tênis para correr ou caminhar, é melhor deixar esses argumentos e a vergonha de lado, olhar bem para os pés e, em seguida, passar para a experimentação, andando, correndo e até pulando pela loja. Para quem pratica corrida ou caminhada, o mais importante é o conforto que o calçado proporciona.

Usar calçados inadequados pode causar desde problemas simples, mas dolorosos, como bolhas e unhas encravadas, a lesões nos ligamentos do joelho. "Tem de testar o tênis e sentir se não aperta os pés. O 'só está pegando um pouquinho' vira uma tortura após uma hora de corrida", diz o médico Paulo Zogaib, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista em fisiologia do movimento.

Para o tênis vestir como uma luva, o primeiro passo é identificar o tipo de pé e de pisada (veja como na página ao lado). "Encontrar o tênis mais adequado a essas características é essencial", afirma Marcelo Baboghluian, especializado em medicina do esporte.

Como a embalagem não indica para que tipo de pisada o calçado é indicado, o usuário deve ficar atento à presença de reforço na lateral do solado, geralmente feito em material com cor e textura diferentes. "Para pés que pisam para dentro [pronação], o ideal é comprar tênis com suporte reforçado na lateral interna do solado para compensar a pisada", afirma o especialista em treinamento esportivo Norton de Freitas, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e um dos pioneiros, no Brasil, em biomecânica da corrida, técnica que identifica o calçado ideal para o atleta a partir da análise de como ele corre.

Pés que pisam para fora (supinição) merecem tênis com reforço na lateral externa. Mas há menos modelos para esses casos, porque são menos freqüentes, diz Renato Lotufo, fisiologista e especialista em medicina do esporte.

Julia Greve, médica do Laboratório de Estudos do Movimento do Hospital das Clínicas (HC), de São Paulo, acredita que esse tipo de cuidado é virtuosismo e o que importa mesmo é respeitar o formato da sola do pé. Se o arco plantar (a parte côncava do pé) encosta no chão --pé chato--, é preciso usar um tênis com palmilha plana ou semicurva. Já o pé cavo (arco elevado) faz menos contato com o solo e absorve menos impacto, por isso adapta-se melhor a solados curvos, que facilitam o movimento do pé e amortecem mais o impacto --que se concentra no calcanhar e, na corrida, chega a ser equivalente a dez vezes o peso corporal, segundo Zogaib.

Toda a tecnologia para absorção desse impacto, porém, se perde com o tempo. De acordo com Lotufo, a eficácia do sistema de absorção começa a diminuir a partir de 400 km "rodados". "Uma pessoa que treina corrida de três a cinco vezes por semana, por cerca de uma hora e meia, deve trocar o tênis a cada cinco ou seis meses", orienta Baboghluian.

Provavelmente, ultrapassar esse prazo de validade foi o que levou o engenheiro Henri Kubota, 28, a uma mesa de cirurgia para retirar um cisto no ligamento do joelho. "Foi descartado qualquer tipo de trauma. O médico então perguntou como era meu tênis e há quanto tempo eu corria com o mesmo par. Apesar de aparentemente em boas condições, o tênis estava em uso há mais de um ano e meio", conta ele, que treina para praticar seu esporte preferido, corrida de aventura.

Para não gastar muito com um produto de vida útil curta, Kubota sugere: "Compre modelo de coleções passadas. Os tênis dos anos anteriores não são muito diferentes dos lançamentos deste ano, mas são bem mais baratos".



Retrato da pisada

Se a pessoa ficar em dúvida após os testes caseiros e sentir desconforto ou dores articulares --principalmente nos pés e nos joelhos--, Lotufo sugere procurar um ortopedista, fisioterapeuta ou especialista em esporte para se submeter a uma baropodometria. "Graças a uma palmilha eletrônica, esse exame mapeia a distribuição da carga na sola do pé enquanto o atleta caminha."

O exame ajudou Ana Claudia do Carmo Rodrigues, 25. Acostumada a tratar as dores dos outros, a fisioterapeuta não conseguia entender por que a sola do seu pé doía quando ela corria. Há dois anos, a baropodometria constatou que, por usar um calçado inadequado, ela tinha fascite plantar --inflamação na sola do pé. "Sempre comprei o tênis por causa das propagandas. Não sabia o que deveria levar em conta", afirma a fisioterapeuta, que ainda sente algumas dores --mais brandas e menos freqüentes-- por ter usado modelos errados de tênis.

De nada adiantam a auto-avaliação ou a baropodometria, porém, se o tênis for do número errado. Isso pode parecer óbvio, mas muitas pessoas ainda apertam o calçado na ponta, na altura do dedão, para checar o tamanho. "O sapato tem de ser do tamanho do maior dedo do pé, que nem sempre é o dedão", afirma Marcelo Baboghluian. Se a pessoa usar freqüentemente um tênis que aperta algum dedo, explica ele, pode vir a sofrer de unha encravada a dores articulares, além de calo na junta que é pressionada contra o calçado e artrose.

"Meio tênis de corrida"

Para quem pratica caminhada, a escolha do tênis é mais simples. Essa atividade pode de ser feita com qualquer tipo de calçado, desde que ele tenha solado com, no mínimo, dois centímetros de altura para absorver o impacto, diz a médica Julia Greve.

"Fala-se que o tênis de caminhada pode ser um 'meio tênis de corrida', pois, como essa atividade não é de alto impacto, o calçado pode ter metade da resistência e da capacidade de absorção do impacto", afirma Paulo Zogaib. Portanto "nem todos os tênis de caminhada servem para a corrida, porém todos os de corrida servem para caminhar; só não vale fazer caminhadas com tênis de solado muito fino", diz o professor da Unifesp.

Existe um cuidado, porém, que deve ser observado por todos que praticam corrida ou caminhada: manter as unhas dos pés constantemente aparadas. Isso evita machucados durante o exercício, que podem fazer a unha encravar ou até cair.
 

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