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06/05/2004 - 07h23

Asmáticos precisam ser tratados diariamente

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ANA PAULA DE OLIVEIRA
da Folha de S.Paulo

Acordar duas vezes por semana com falta de ar ou ter de correr para um pronto-socorro ao menos uma vez por ano em conseqüência de uma crise de asma são indícios suficientes para que a pessoa tenha de tomar medicamento permanentemente a fim de prevenir a inflamação dos brônquios e a conseqüente falta de ar. Mas a realidade é que grande parte dos mais de 19 milhões de brasileiros asmáticos só procura o médico quando a situação é crítica --muitas vezes, o paciente se limita ao atendimento no pronto-socorro como tratamento.

Os empecilhos na procura ao médico e na adesão ao tratamento passam pela desinformação do paciente, que acredita que a doença só deva ser tratada em tempos de crise, pela sua resistência em ser medicado diariamente, pelo alto custo dos remédios e pela descrença de que a asma, apesar de ser uma doença crônica, pode ser controlada.

Estudo realizado em 44 países, inclusive no Brasil, concluiu que é possível controlar totalmente a doença a partir de tratamento profilático --que objetiva medidas preventivas--, combinando medicamentos antiinflamatórios e broncodilatadores. Chamada de Goal (Ganing Optimal Asthma Control), a pesquisa acompanhou 3.400 pacientes, sendo 80 brasileiros, em seis centros hospitalares no país. Com isso, é possível que a pessoa com asma tenha uma vida normal, diz o coordenador do projeto, o médico sul-africano Eric Bateman, presidente do Gina (Comitê Global de Iniciativa contra a Asma, na sigla em inglês).

A combinação dos dois medicamentos já existe há muito tempo, mas a grande novidade está em seu uso contínuo. Contudo não é para todo tipo de asma que é indicado o tratamento permanente, diz Carlos Alberto de Castro Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. "Quando a doença é intermitente, o paciente só deve ser medicado em crises."

No Brasil, 90% dos asmáticos têm asma persistente de leve a moderada --em uma classificação que também inclui o tipo grave--, o que já indica intervenção contínua, diz a pneumologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Ana Luisa Godoy Fernandes e uma das integrantes, no Brasil, do Goal.

Os resultados preliminares do estudo --que será divulgado em junho no 23º Congresso da Academia Européia de Alergologia e Imunologia Clínica, em Amsterdã (Holanda)-- foram divulgados à Folha, na semana passada, por Bateman. Assim como faz em outros países com alto índice de população asmática, ele esteve no Brasil para atualizar os médicos sobre recentes tratamentos.

"A dificuldade dos médicos é fazer o paciente compreender a necessidade do uso do medicamento", diz a alergista Yara Mello, presidente da Sociedade Brasileira de Asmáticos - Regional SP.

E existe tanta desinformação que muitos não sabem que bronquite é sinônimo de asma, diz Mello. "As pessoas tendem a dizer que têm bronquite ou bronquite asmática, para não dizerem que têm asma --afinal, asma é para a vida inteira, mas a bronquite, como dizem, é passageira."

Como a asma se caracteriza pela inflamação dos brônquios e pela contração de seus músculos --o que dificulta e até impede a respiração--, os medicamentos indicados são antiinflamatórios e broncodilatadores, que relaxam a musculatura dos brônquios. A bombinha é uma das formas de aplicação, mas o brasileiro tem um quê de resistência a elas, que conduzem as substâncias direto ao pulmão. "As pessoas acreditam que elas viciam, mas é mentira", diz o pneumologista da USP João Paulo Becker Lotufo, do departamento de pneumologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo. O tratamento tanto em crianças como em adultos é o mesmo.

Hereditária, a asma tem vários fatores desencadeantes (os chamados gatilhos): alergias diversas, fumaça de cigarro, poluição, odores muito fortes, temperatura (muito seca, muito fria ou mudança abrupta), ambientes com concentração de ácaros e até estresse emocional.

Por isso parte do tratamento consiste em evitar esses gatilhos, além da prática de atividade física, especialmente natação. "Os exercícios fortalecem a musculatura envolvida na respiração, melhorando a condição respiratória", diz Mello. Também alguns tratamentos não-convencionais são bem-vindos. Leia na página ao lado.

Ranking

No relatório previsto para ser divulgado no Dia Mundial da Asma, 4 de maio, o Gina listou o ranking da incidência de asma no mundo. O Brasil amarga o 14º lugar.

Apesar de ser uma doença considerada de países de clima austero --como a Escócia, líder do ranking-- ou de clima muito seco --como a oitava colocada, a Austrália--, a asma vem crescendo nos grandes centros urbanos de temperatura tropical, como o Brasil. "Isso acontece pelo processo de urbanização. O ar fica mais poluído à medida que a região se desenvolve", analisa Bateman.

Outra hipótese para o crescimento é a superproteção da família. Impedir que a criança brinque na lama, por exemplo, e desinfetar tudo ao seu redor impede que ela adquira resistência imunológica suficiente. O resultado é que as crianças têm menos infecções e acabam desenvolvendo mais alergias, explica o pneumologista Carlos Alberto de Castro Pereira, orientando os pais a aderir à "teoria do sujinho": "Deixe as crianças mais soltas para criarem imunidade".
 

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