Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
26/08/2004 - 07h21

Endocrinologista defende corrida contra o diabetes

Publicidade

ANTONIO ARRUDA
free-lance para a Folha

Quando estava na França, em 1998, a endocrinologista e maratonista Ana Claudia Ramalho, 37, conseguiu o que acreditava ser quase impossível: correr a maratona de Paris. A idéia inicial era fazer apenas metade do trajeto, ou seja, cerca de 21 km. Mas Ana Cláudia enfrentou o desafio e foi a única mulher associada à Associação Francesa de Diabéticos (AFD) a terminar os mais de 42 km do percurso.

Se não tivesse o acompanhamento de médicos, Ana Cláudia poderia ter sofrido com as conseqüências de uma hipoglicemia --taxa de glicose no sangue abaixo da normal-- que a acometeu no km 40. Desde esse ponto até o final da prova, ela foi seguida por um enfermeiro, que, de bicicleta, ia tratando de fazer a reposição de carboidratos da corredora.

Todo esse amparo levou a médica a criar o departamento de exercícios da SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes e a Desa/Brasil - Associação de Exercício, Esportes e Diabetes.

No próximo domingo, dia 29 de agosto, o esforço de Ana Cláudia para aumentar o atendimento a diabéticos que praticam esportes vai avançar mais um passo: os corredores portadores da doença que percorrerem os 7,5 km da Segunda Corrida Duque de Caxias, em São Paulo, receberão apoio médico durante o trajeto, desde a medição do nível de glicemia até a reposição de carboidratos, quando necessária.

A iniciativa, da SBD em parceria com a Corpore - Corredores Reunidos, tem como lema "Controle seu diabetes correndo". Portadores de diabetes que quiserem participar podem obter mais informações e fazer as inscrições no site www.corpore.org.br. Leia entrevista com a endocrinologista, que dá dicas para corredores diabéticos e fala da importância da atividade física para os portadores da doença.

Folha - Como nasceu a idéia de oferecer apoio a corredores diabéticos?
Ana Ramalho -
Em 1998, quando morava em Paris para fazer meu doutorado, fiz da corrida meu maior instrumento de equilíbrio psicológico e de melhora do meu controle metabólico. Comecei a correr todos os dias e consegui participar da maratona de Paris. Na França, existem associações de esporte e diabetes que estão constantemente desenvolvendo eventos esportivos para estimular os diabéticos. Eu era membro da Associação Francesa de Diabéticos (AFD) e da Associação de Esporte e Diabetes (ASD). Na maratona de Paris, éramos 12 diabéticos correndo com apoio da AFD e da ADS. Hoje, percebo claramente que o trabalho de apoio da AFD e a estrutura montada foram decisivos. Percebi como é importante para o diabético ter acesso a programas de incentivo à atividade física e voltei com essa idéia em minha cabeça: criar uma associação de apoio ao exercício físico e diabetes.

Folha - E não havia nada parecido sendo realizado no Brasil?
Ramalho -
De volta ao Brasil, participei de várias corridas de rua em Salvador e em outras cidades, e em nenhuma existe uma mínima estrutura para os diabéticos. Imagino que muitos portadores da doença temam participar de corridas em geral e mais ainda de maratonas, pois não sabem as adaptações necessárias a serem feitas ou mesmo quando fazer a glicemia. Imaginem se essas pessoas tiverem a certeza que contarão com profissionais habilitados a orientá-las? Com certeza elas vão correr.

Folha - Por que é importante que os diabéticos pratiquem exercícios?
Ramalho -
Porque a prática de esportes reduz problemas cardíacos, melhora o colesterol, controla a glicemia e aumenta a auto-estima. Com os avanços do tratamento, todos os exercícios e esportes são possíveis para quem tem diabetes.

Folha - Quais os cuidados que uma pessoa diabética precisa ter ao fazer atividades físicas? No caso das corridas, a atenção deve ser maior?
Ramalho -
Deve-se seguir, entre outras, algumas orientações: obter a aprovação do médico para a prática de exercícios, especialmente se a pessoa tem diabetes há muitos anos, se tem complicações ou ainda se é sedentária há muito tempo ou tem problema cardíaco associado à doença; fazer monitorização da glicemia capilar antes, durante a prova (se ela durar mais de 45 minutos) e no final da corrida; estar preparado para tratar hipoglicemia; ter sempre carboidrato simples à mão (açúcar, mel, suco de fruta); se usar insulina, escolher bem o local de aplicação, evitando as pernas quando for correr; e usar carboidrato antes, durante a prova (se a duração for maior que 45 minutos) e após a corrida. A pessoa também não deve esconder que tem diabetes, utilizando cartão de identificação e comunicando ao treinador e aos colegas o que fazer em caso de hipoglicemia. Essas recomendações devem adequar-se a cada caso, e o paciente deve fazer a adaptação necessária, identificada pela monitorização da glicemia antes e após a corrida; isso ajuda, em colaboração com o médico, a encontrar o bom ajuste da medicação e da alimentação.

Folha - O diabético no Brasil já tem consciência da importância de realizar atividades físicas?
Ramalho -
O portador de diabetes, em sua maioria, já tem consciência da importância do exercício no controle da doença, mas ainda não recebe por parte dos médicos uma orientação adequada de como proceder, das adaptações necessárias ao seu tratamento. Os profissionais de educação física não são formados de uma forma mais prática para trabalhar com esse grupo de pacientes; assim, desconhecem as respostas glicêmicas, verificadas pela monitorização durante o treinamento e, portanto, muitas vezes, não readaptam cada treino à realidade metabólica daquele dia. Faltam também programas dinâmicos de incentivo à mudança no estilo de vida, já que é um grande problema implantar e manter um programa de atividade física em um indivíduo previamente sedentário.

Especial
  • Veja o que já foi publicado sobre o diabetes
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página