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18/11/2004 - 10h16

Estudos apontam potencial da acupuntura como substituta da anestesia

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KARINA KLINGER
Free-lance para a Folha de S.Paulo

Acupuntura no lugar da anestesia. A idéia, que parece pouco provável aos olhos ocidentais, é defendida pelo ginecologista e obstetra Roberto Zamith, 44, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que desenvolve estudos sobre dor com seus pacientes.

O especialista tem dois vídeos curiosos. No primeiro, em que uma paciente é operada de um mioma na cavidade uterina, ela não recebe anestesia, mas sim agulhas no corpo. No segundo, um cavalo passa por uma cirurgia sem anestesia, apenas com a ajuda da técnica chinesa.

Os procedimentos, que foram usados apenas como métodos de pesquisa, não têm a pretensão de substituir a anestesia à base de remédios da medicina ocidental. Constituem viabilidades a mais sobre a acupuntura, técnica cada dia mais bem tolerada e aceita em todo o mundo.

Estudioso da medicina oriental há mais de dez anos, Zamith --um dos organizadores de um serviço pioneiro no Hospital São Paulo para tratar doenças ginecológicas com a acupuntura-- fala um pouco sobre como a dor e a doença são encaradas pelos orientais.

Folha de S.Paulo - Acupuntura no lugar da anestesia em cirurgias já é uma realidade no Brasil?

Roberto Zamith - Com a acupuntura é possível realizar uma cirurgia, mas existe vantagem nesse procedimento? Se não houver, você pode simplesmente usar as drogas da medicina tradicional. As cenas que eu mostro nas palestras foram usadas em algumas pesquisas na China para demonstrar o potencial da acupuntura. Não é algo que procuramos desenvolver. A acupuntura consegue alívio da dor, mas não alívio totalmente. Por exemplo, a técnica não elimina a dor na pele sendo cortada. Se eventualmente houver um paciente que não possa usar nenhum tipo de anestésico, seria até uma alternativa.

Folha de S.Paulo - Como a medicina oriental encara a doença e o sofrimento do paciente?

Zamith - A doença, na medicina oriental, particularmente na medicina tradicional chinesa, é vista como um processo, e não algo que aconteça repentinamente. Vai havendo um desequilíbrio generalizado no organismo, diminuindo a capacidade de defesa da pessoa, o que resulta num produto final que é a doença. A medicina chinesa tem essa característica de prevenção, ela procura manter o equilíbrio do organismo da melhor maneira possível. É engraçado que, na China antiga, o médico era responsável por uma cidade, um bairro... e sempre que alguém ficava doente, era colocada uma lanterna na porta da casa, como um sinal. Então, se todas as portas das casas na cidade apresentassem o sinal, significava que o médico não estava trabalhando direito. A finalidade dele não era curar as doenças, mas manter a saúde da população.

Folha de S.Paulo - Como é a concepção da dor para ambas as medicinas?

Zamith - A dor não é o que existe por si só, ela sempre estará significando um desequilíbrio. É um mecanismo do organismo para alertar o descontrole. Pensando assim, ela não é algo inútil. Mais importante do que cessar a dor é procurar corrigir o equilíbrio. Nesse aspecto, ambas as medicinas podem agir de modo semelhante. Isso acontece porque, na medicina ocidental, a gente, muitas vezes, usa um analgésico potente para fazer cessar a dor, mas não vai atrás das causas. Correntes da medicina oriental também podem fazer apenas cessar a dor. Alguns pontos servem para interromper determinada dor naquele instante, mas o alívio será curto.

Folha de S.Paulo - Qual a maior dificuldade no tratamento quando a acupuntura é utilizada?

Zamith - A dificuldade é fazer o diagnóstico correto. Eu não vejo muita complexidade no simples ato de inserir a agulha. Entretanto, ter o diagnóstico completo, saber em quais órgãos esse equilíbrio está ocorrendo demanda uma maior dificuldade. Um pouco desse descrédito é devido ao fato de a acupuntura ter sido sempre realizada por pessoas sem uma adequada formação.

Folha de S.Paulo - Por que hoje a meditação é tão valorizada?

Zamith - Antigamente acreditava-se que a meditação era uma atividade muito relacionada à religião -por isso existia um certo receio. Estudos recentes mostraram que, por meio da meditação, ocorre uma mudança brusca no padrão das ondas cerebrais, o que interfere na produção hormonal e no sistema imunológico do praticante.

O organismo acaba se beneficiando disso. A partir desses estudos que mostram mudanças na secreção de hormônios e de neurotransmissores, a meditação deixou de ser encarada apenas como uma prática religiosa.

Folha de S.Paulo - A medicina oriental pode substituir a ocidental? Ainda existe preconceito?

Zamith - No Brasil, procuramos conciliar o melhor das duas medicinas. Posso tratar apenas com acupuntura uma paciente diagnosticada com infecção urinária, mas será um tratamento mais demorado. Se eu utilizar o antibiótico apropriado com a acupuntura, mais rapidamente ela vai se recuperar. A idéia não é ser sectário, intransigente. Na falta de outras opções, o ideal é associar ambas as práticas.

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