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26/05/2005 - 11h30

Cozinhar funciona como meditação, diz escritora

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MARCOS DÁVILA
da Folha de S. Paulo

Para a escritora Sonia Hirsch, 58, cozinhar pode ser meditação. "É uma prática que leva tempo e exige paciência e entrega. Se a pessoa não põe a mente no que está fazendo, pode queimar a comida, salgar demais, errar a receita e cometer toda sorte de erros e distrações", afirma ela, autora do livro de crônicas "Meditando na Cozinha" (ed. Corre Cotia, 2002) e de mais de dez títulos --quase todos sobre alimentação.

O livro deu origem a uma oficina (ministrada por Hirsch anualmente) que tem como base conceitos da cultura oriental e procura indicar caminhos para uma atitude mais reflexiva diante da preparação dos alimentos.

"A idéia é valorizar o estado de espírito e a harmonia na hora de cozinhar. Tem a ver com a escolha dos alimentos, o tipo de corte escolhido, a organização do tempo, a maneira como a pessoa se comporta na cozinha", diz Hirsch. Segundo ela, cozinhar pode ser uma prática muito rica em significados e insights se o cozinheiro estiver atento e entregue ao que está fazendo. "O contraste entre o magenta e o branco, que aparece ao cortar um simples rabanete, pode se transformar num show ", diz.

A escritora também enxerga o ato de cozinhar como um exercício de generosidade e de autoconhecimento, além de proporcionar um contato com a natureza. "Quem vive numa cidade grande precisa de mais contato com os elementos da natureza. Lavar os alimentos, molhar as mãos e lidar com o fogo trazem harmonia", diz.

Essa aproximação com a natureza é a primeira reflexão que vem à cabeça da redatora de design de embalagens Tatiana Damberg, 25, quando ela tenta definir por que gosta tanto de cozinhar.

"Acho muito legal comprar os ingredientes na feira. Se vejo que a alface está murcha, sei que choveu na horta. Mesmo morando num centro urbano, consigo ter um contato com o campo", diz ela, que também vê na preparação dos alimentos uma maneira de aguçar os sentidos e melhorar a atenção.

Sua grande diversão, no entanto, é reunir os amigos ao redor do fogão para testar uma receita nova. "Ponho todo mundo para trabalhar, picar cebola. A pessoa vê que o que ela fez também ficou bom. É muito mais legal do que só comer", diz.

Com ajuda da mãe, Tatiana traduziu trechos de um antigo livro de receitas da avó, imigrante da Letônia. "Hoje já domino algumas receitas típicas, como os biscoitos de pimentas. No Natal, chego a fazer 12 quilos de biscoito para dar de presente", diz.

Outro que arregaça as mangas em datas comemorativas é o administrador de empresas José Augusto Garcia Santos, 24. "No Natal passado, fiz minha primeira ceia. No último Dia das Mães, fiquei o sábado inteiro preparando a massa de um ravióli de mussarela de búfala para o almoço de domingo, para 30 pessoas", diz José Augusto, que cozinha desde os 12 anos. Ele começou com os lanches, mas preferia usar queijo brie, tomate seco e pão ciabatta no lugar do básico sanduíche de mortadela. Depois ganhou do pai um livro de receitas e acabou até fazendo um curso de culinária, no qual aprendeu, por exemplo, a tirar as sementes e cascas do tomate para fazer o molho do macarrão.

A troca de receitas com pessoas mais velhas também abre caminho para outras amizades e gerações. "Para fazer amizade, às vezes faço um prato e levo para o vizinho. Fiz amizade com pessoas com quem, normalmente, eu não teria um interesse comum, com mulheres de 50, 60 anos", diz José Augusto, que faz questão de passar por todas as fases da preparação, desde a compra dos ingredientes até a decoração da mesa.

"A grande satisfação é fazer algo que gosto, mas é bom saber que as pessoas apreciam alguma coisa que eu faço. Faz bem para o ego", diz ele, que se refere à cozinha como um grande divã. "É uma terapia. Quando entro na cozinha, esqueço o mundo e os meus problemas. Aquilo de alguma forma me relaxa."

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