Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
09/06/2005 - 10h16

Nutrição funcional é saúde que se põe à mesa

Publicidade

ANA PAULA DE OLIVEIRA
FLÁVIA MANTOVANI
da Folha de S. Paulo

Já se sabe há muito tempo que alguns alimentos têm funções terapêuticas. É comprovado, por exemplo, que o tomate ajuda a prevenir o câncer de próstata, que a soja alivia os sintomas da menopausa e que o peixe ajuda a reduzir o colesterol. A descoberta dos alimentos funcionais (aqueles que diminuem o risco de doenças) trouxe comprovação científica para o que o filósofo Hipócrates já dizia há cerca de 2.500 anos: uma alimentação adequada ajuda a manter o organismo saudável.

Agora, uma nova área da nutrição --a nutrição clínica funcional-- vem se especializando em trabalhar com esses e outros alimentos para prevenir e auxiliar no tratamento de doenças. Mesmo que com outros nomes --medicina funcional ou nutrição biológica, por exemplo--, a especialidade já existe nos EUA, no Canadá e na Europa.

A corrente parte da idéia de que cada organismo é uma individualidade bioquímica e tem, portanto, necessidades particulares. Assim, em vez de advogar que toda pessoa em busca de uma alimentação saudável se entupa, por exemplo, de vitaminas, tomates, soja ou peixes, a especialidade parte do estudo do metabolismo de cada paciente e prescreve os alimentos necessários ao reequilíbrio daquele organismo específico.

A premissa é que as substâncias presentes nos alimentos regulam as funções metabólicas. "As células são formadas por nutrientes. Nossa preocupação é fazer com que o nutriente que sai do alimento chegue até elas, segundo as necessidades de cada indivíduo", afirma a nutricionista clínica funcional Denise Madi Carreiro.

De acordo com ela, a nova especialidade tem uma grande preocupação não só com o que a pessoa ingere mas também com a correta digestão e absorção do alimento. "Uma pessoa pode comer o alimento mais saudável do mundo, mas, se, por algum motivo, não conseguir absorver os nutrientes, ela não vai se nutrir", afirma Carreiro.

O primeiro congresso de nutrição clínica funcional no Brasil será realizado em setembro, em São Paulo. A nutricionista Valéria Paschoal, presidente do evento, diz que cada vez mais pessoas procuram esse profissional para prevenir doenças e melhorar a qualidade de vida. O mais comum nos consultórios, no entanto, é que cheguem clientes com problemas de saúde --principalmente obesidade, a campeã de procura. De acordo com Paschoal, cada vez mais pacientes com osteoporose, doenças cardiovasculares, hiperatividade, câncer, depressão e mal de Alzheimer, entre outras doenças, procuram a especialidade.

Desde 2003, quando foi criado o primeiro curso de pós-graduação em nutrição clínica funcional, na Universidade Ibirapuera, em São Paulo, a área vem crescendo. Atualmente, o curso existe em sete capitais e foi realizado por 500 dos 42.000 nutricionistas do país. Profissionais de hospitais reconhecidos, como Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), Beneficência Portuguesa, Oswaldo Cruz e Albert Einstein, já têm especialização em nutrição clínica funcional. Academias como a Companhia Atlética e a Runner também já aderiram.

Até a nutricionista do programa "O Grande Perdedor" --"reality show" do SBT em que pessoas obesas competem para ver quem emagrece mais em menos tempo-- possui a especialização. "A dieta deles é uma dieta funcional. Tanto que eles estão emagrecendo com muito bem-estar", afirma a nutricionista Cínthia Perine.

Divulgação

Foi por meio do boca a boca que a analista de recursos humanos Fernanda Ferreira Gregório, 38, ouviu falar da nutrição clínica funcional, tipo de divulgação, aliás, que ainda predomina na área. "Queria uma alimentação mais equilibrada", conta. Oito meses depois da primeira consulta --que demorou três horas-- e da mudança alimentar, a analista reduziu problemas como baixa resistência imunológica --responsável pelo aparecimento de herpes labial--, cistite e cólica renal. "Sei que somos o que comemos, mas nunca imaginei que a mudança na alimentação melhoraria esses sintomas", admira-se.

A analista de comércio exterior Roseli Fernandes Artner, 38, levou sua filha Beatriz, de três anos, a uma nutricionista funcional por causa de uma bronquite. "Os médicos indicavam remédios que, na minha opinião, eram muito agressivos. Com o tratamento nutricional, ela nunca mais teve crise", relata.

Entre as principais orientações, a nutricionista suspendeu o leite de vaca da dieta de Beatriz (ela é alérgica), deu reforços vitamínicos e reduziu os alimentos com muitos corantes. "Percebo claramente que o problema dela tem a ver com a alimentação. Toda vez que a Beatriz abusa e come um pedaço de pizza com queijo ou um iogurte na casa de uma amiga, ela desenvolve catarro", diz Artner.

Por causa de uma enxaqueca que a deixava até quatro dias fechada no quarto, a corretora de seguros Patrícia Sadalla Collese, 41, também tinha procurado vários médicos antes de ir a um nutricionista funcional. "Procurei um monte de especialistas. Falaram que era a pílula, o DIU, a mandíbula. Meu marido chegou a fazer vasectomia para me ajudar a fugir dos anticoncepcionais. Eu estava muito intoxicada, tomava um remédio atrás do outro. Hoje estou praticamente curada", conta.

Para Collese, o mais importante foi aprender a identificar os alimentos que geram as crises de enxaqueca. "Achava que era a bebida alcoólica da caipirinha, mas, na verdade, era o limão. Agora, sei exatamente o que desencadeia as dores", relata.

"Quando você começa a estudar bioquimicamente um organismo doente, percebe que os problemas têm muito a ver com os maus hábitos alimentares. Na hora em que você retira os alimentos alergênicos e reabastece o organismo, as reações bioquímicas começam a acontecer e desaparecem os sinais e sintomas relacionados a diferentes doenças", diz a nutricionista Valéria Paschoal.

Ela lembra que a retirada de qualquer alimento só pode ocorrer se o nutricionista detectar hipersensibilidades no paciente. "Além disso, somente esse profissional pode promover as substituições necessárias para repor os nutrientes contidos no alimento que foi retirado", alerta.

Segundo Paschoal, é preciso gastar um bom tempo com o paciente durante a consulta. "Além da ingestão nutricional da pessoa, é feita uma avaliação dos sinais e sintomas que ela sente." São pedidos também exames para identificar, entre outras coisas, se há deficiências de vitaminas e minerais.

Paschoal ressalta que a intenção não é curar, mas auxiliar no tratamento ou mesmo minimizar os efeitos colaterais de alguns medicamentos e procedimentos, como a quimioterapia. "Alimentos não curam. Eles apenas diminuem o risco de aparecimento de doenças e ajudam no tratamento. A cura depende de diversos fatores."

Evitar criar falsas ilusões, aliás, é uma das preocupações dos profissionais que lidam com alimentos funcionais. "Você nunca pode dizer que um alimento cura doenças. Até pela legislação brasileira, é condenado falar em cura. Os alimentos funcionais podem reduzir o risco de doenças, mas não fazem milagre", alerta Jocelem Salgado, presidente da Sociedade Brasileira de Alimentos Funcionais.

Segundo ela, as pessoas devem se cuidar, mantendo hábitos de vida saudáveis, e realizar exames constantes de colesterol e triglicérides, por exemplo. "O médico é a pessoa indicada para pedir os exames. É ele que vai solicitar o check-up."

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre nutrição funcional
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página