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03/08/2006 - 11h52

Excesso de soja pode ter efeitos indesejáveis na tireóide

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FLÁVIA MANTOVANI
THIAGO MOMM PEREIRA
da Folha de S.Paulo

Além da falta de eficácia na reposição hormonal, Clapauch diz que a soja também não previne contra a osteoporose e que o seu consumo excessivo pode ter efeitos indesejáveis na tireóide. "Recebo muitas pacientes com diagnóstico de hipotireoidismo e que consomem muita soja." Ela não se opõe à soja como alimento, mas afirma que quem já tiver predisposição genética para hipotireoidismo não deve exagerar.

Qual é a dose máxima, então? Segundo os pesquisadores ouvidos pela Folha, não há uma quantia definida. "Depende de vários fatores, como a suscetibilidade e o peso de cada organismo. A dose que eu consideraria segura é de até 50 mg de isoflavona por dia, o necessário para trazer benefícios ao colesterol. O resto é exagero", diz Clapauch. Isso equivale, aproximadamente, a 200 g de tofu, 500 ml de leite de soja ou menos de 50 g do grão torrado.

Para o pesquisador neozelandês Mike Fitzpatrick, que fez vários estudos na área, é preciso definir justamente quais são as doses recomendadas para cada grupo.

Ele acredita que há um aumento exagerado do consumo de soja no mundo ocidental e lembra que a soja está "embutida em diversos produtos processados, como cereais, molhos e sobremesas --de acordo com ele, mais de 60% dos alimentos processados no Reino Unido contêm a leguminosa.

Fitzpatrick começou a investigar a soja a pedido de um casal cujos papagaios exóticos eram alimentados com preparados à base de soja. "Alguns ficaram doentes, morreram ou atingiram a maturidade sexual prematuramente ou tiveram problemas de tireóide. Decidimos pedir para um laboratório investigar", relatou à Folha Valerie James, dona das aves.

A nutricionista Lília Zago dos Santos, doutoranda da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), também recomenda o equilíbrio. "A soja tem grande valor nutricional. O que a gente indica é cuidado com o excesso, principalmente para quem tem problemas para absorver nutrientes." Isso por causa de compostos antinutricionais, que dificultam a absorção de minerais como ferro, zinco e cálcio. Quando a soja é cozida ou processada industrialmente, uma parte desses componentes é eliminada. "Mas não há 100% de inativação, e o pouco que fica pode comprometer a absorção, principalmente em pessoas susceptíveis, como crianças, gestantes e idosos. Não é bom abusar", diz Santos.

Câncer e colesterol

Um efeito tido como certo por vários pesquisadores é a redução do "mau" colesterol. De fato, os estudos mostram que a redução é real. Mas um artigo publicado em janeiro pela AHA (American Heart Association) na revista científica "Circulation" mostrou que essa redução, mesmo em quem come grande quantidade de soja, é muito pequena.

O artigo afirma ainda que "nenhum benefício relacionado ao colesterol HDL ["bom" colesterol], aos triglicérides (...) e à pressão arterial foi evidente." O artigo também questiona a função preventiva da soja em relação aos cânceres de mama, de endométrio e de próstata. De acordo com o oncologista Vladmir Cordeiro de Lima, do Hospital do Câncer, em São Paulo, não há evidências que comprovem essa vantagem. "Alguns estudos até mostram propriedades protetoras, mas não há provas sólidas disso."

Transgênicos

A soja é o único alimento transgênico regulamentado no Brasil. Sezifredo Paz, sanitarista veterinário consultor do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), diz que faltam estudos sobre o efeito desse tipo de grão e que "o que mais preocupa é o resíduo de glifosato", um agrotóxico, na soja transgênica.

Já o presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja do Estado do Mato Grosso), Rui Prado, afirma que a soja transgênica usa menos agrotóxicos do que a convencional. "A soja é uma lavoura muito "tecnificada". Por isso, não tem como errar nesses aspectos." Sobre os efeitos à saúde, ele diz conhecer apenas benefícios.

Para Mercedes Carrão Panizzi, pesquisadora da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a soja acrescenta diversidade à alimentação. Ela faz, no entanto, uma ressalva: "Há centenas de trabalhos sobre soja. Alguns mostram que, em certas pessoas, não há efeitos."

Agradecimento: Pepper (www.pepper.com.br)

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