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13/12/2001 - 07h57

Cuidado para não se estressar com os festejos de Natal

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KARINA KLINGER
da Folha de S.Paulo

Um grande "mico" ou uma festa daquelas? Como as demais datas comemorativas inventadas pelo homem, o Natal nem sempre agrada. Para alguns, resume-se a gastos extras, estresse no trânsito e discussões de família; para outros, é sinônimo de aproximação com algumas das pessoas de quem mais se gosta e de esperança. E ambos os grupos apresentam boas justificativas para suas opiniões.

Enxergar o lado bom da festa não é tarefa árdua, mas hoje em dia o excesso de racionalização comprometeu a comemoração, diz o professor de filosofia da PUC e da FGV Antônio José Romera Valverde. Grande parte das pessoas vê a data como uma obrigação no calendário que a faz lembrar de tudo aquilo que não foi realizado durante o ano.

"Esse tipo de comemoração deveria ser visto como recomeço, uma oportunidade de se livrar de algo que não deu certo", diz ele. E não como um momento para se lamentar do que não deu certo.

Crenças religiosas à parte, a antropóloga Rita Amaral acha que as pessoas poderiam ver as festividades do final do ano como uma espécie de pausa no tempo, em que é possível manter distância das regras de trabalho. "Todos deveriam aproveitar essa pequena desaceleração do tempo da melhor forma possível." Para ela, o reencontro da família no Natal oferece uma grande oportunidade para que as pessoas avaliem sua vida e a vida dos mais próximos. Aliás festa que é festa dá oportunidades não só para novos relacionamentos como para formas novas de se relacionar com quem já se conhece.

Para a psicanalista e colunista do Equilíbrio Anna Veronica Mautner, as pessoas devem perceber que as festas representam e sempre representaram marcos de tempo importantes para a sociedade. "Elas são sinais que orientam a espera das pessoas. Essas datas fazem com que as pessoas tenham um poder profético sobre o futuro e o tempo. Em cada festa, esperam-se coisas diferentes", diz. Nesse sentido, as comemorações funcionam como provas palpáveis do passar do tempo e das mudanças.

Quem começa a se estressar já com os preparativos da festa está cometendo o primeiro erro, diz Carlos Bramante, professor afastado do Departamento de Estudos do Lazer da Unicamp e secretário de Esportes e Lazer da Prefeitura Municipal de Sorocaba.

O ideal é não levar a sério o trânsito, a falta de tempo para preparar os pratos, as filas nos shoppings e encarar essas horas de preparação como momentos de distração. "Na verdade, saber aproveitar a fase pré-lúdica pode ter um significado maior do que a própria ação", diz ele.

Aliás, como aponta Bramante, quem melhor aproveitar essa fase terá uma dupla satisfação: "Terá a possibilidade de reencontrar o momento que foi idealizado e senti-lo com mais força".

E nem sempre as reuniões de fim de ano são aquela alegria mesmo. Festa que é festa em geral envolve conflitos, alegrias, choro e até brigas. E, nas de fim de ano, é normal as pessoas estarem mais pensativas.

Nostalgia e até depressão são comuns, diz a psicóloga Maria Justina Vaz Pinto. Nessa época, muitos fazem o famoso balanço do ano e, quase sempre, se angustiam pelo que deveriam ou não deveriam ter feito nas mais variadas diferentes áreas da vida. Mas só lamentar não é suficiente, a idéia é aproveitar a descoberta e a sensação de tempo perdido para começar a agir, diz a psicóloga.

Também é absolutamente aceitável que muitas pessoas prefiram que a data passe despercebida. O reencontro com a família não é sempre algo desejado. Além disso, nem todo mundo tem dinheiro para gastar ou, ainda, família por perto para comemorar.

Se você é do tipo que não gosta do Natal, muito provavelmente já gostou. Para as crianças, essa festa tem um encanto. Estar com a família inteira reunida dá sensação de segurança e ainda serve como lição de casa.

E é uma boa oportunidade para as crianças aprenderem o significado da espera pelo grande dia, que inclui a festa, a ceia e os presentes. Viver as expectativas é importante nos dias de hoje, quando os pais acabam atropelando as crianças com presentes antes da hora, afirma Maria Justina.

E a época é mágica para as crianças por ser uma oportunidade em que elas podem sentir o verdadeiro significado da palavra esperança. "É uma forma de fazer com que cresçam acreditando na realização de seus próprios sonhos", diz a psicóloga.

É claro que, com o tempo, a magia ganha outra interpretação. O adolescente, por exemplo, não costuma achar nenhuma graça na festa, já que vive uma fase de saída do núcleo familiar, quando o que ele mais procura é autonomia e independência. "Além disso, ser tratado ainda como criança, como costumam fazer os familiares, deixa-o impaciente", diz a psicoterapeuta e professora da PUC-Campinas Lina Purvisis.

Mas, para os idosos, a festa de Natal é tão boa que chega a representar um enorme benefício para a saúde mental deles, especialmente para aqueles que vivem mais isolados, diz a psicanalista Delia Catullo Goldfarb. Para eles, o sentido das festividades de fim de ano é o do resgate do âmbito familiar.

Com a presença dos filhos que moram longe e chegam para a ceia de Natal, mobilizam-se lembranças do passado que ajudam a reconstruir as várias histórias da vida familiar. E, entre essas lembranças, estão as perdas da família.

Embora o sentimento seja triste, quando compartilhado pela família, acaba ficando mais leve e deixando todos mais fortalecidos.

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