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30/03/2010 - 11h33

Benefícios da redução do sal permanecem sem comprovação

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JOHN TIERNEY
do New York Times

Como alguns especialistas aconselham, suponha que as novas diretrizes alimentares nacionais, que devem sair em breve nos Estados Unidos, diminuam os níveis recomendados de ingestão de sal. Suponha, ainda, que autoridades de saúde pública de Nova York e Washington tenham sucesso em obrigar empresas produtoras de alimentos a usar menos sal. Qual seria o efeito disso?

Nova York lança campanha para redução do sal na alimentação

Mais de 44 mil mortes seriam evitadas por ano (conforme estimativa recente do "The New England Journal of Medicine")? Cerca de 150 mil mortes por ano seriam evitadas (conforme cálculo do Departamento de Saúde e Higiene Mental da cidade de Nova York)? Centenas de milhões de pessoas estariam sujeitas a um experimento com efeitos imprevisíveis e possivelmente adversos (como foi argumentado recentemente no "The Journal of the American Medical Association")? Nem uma coisa nem outra? Ou os americanos ficariam ainda mais gordos do que estão hoje?

Não há resposta errada, pelo menos por enquanto. Há uma evidência confiável tão pequena que você pode imaginar qualquer consequência. Apesar de todo o diálogo sobre a crescente ameaça do sódio em alimentos industrializados, especialistas nem têm certeza se os americanos estão ingerindo mais sal do que antes.

Tentativas

Minha previsão preferida é a que os americanos vão engordar ainda mais. Quanto mais os especialistas tentam salvar os americanos, mais gordos ficamos. Seguimos seu conselho admirável de parar de fumar e, de acordo com algumas estimativas, ganhamos quase 7kg cada um. O peso adicional certamente foi uma troca que valeu a pena, pois teremos uma vida mais longa e mais saúde, mas com o sucesso veio um novo desafio.

Autoridades responderam aconselhando americanos a evitar a gordura, que se tornou a vilã oficial das diretrizes alimentares nacionais nas décadas de 1980 e 1990. A campanha antigordura certamente causou um impacto no mercado de alimentos, mas, à medida que passamos a engolir todos os novos produtos light, continuávamos engordando.

Em 2000, os especialistas revisaram as diretrizes alimentares e admitiram que o conselho antigordura pode ter contribuído para diabetes e obesidade ao involuntariamente motivar os americanos a ingerir mais calorias.

Esse fiasco não enfraqueceu o entusiasmo dos reformistas, a julgar pela crescente campanha para impor restrições ao sal. Apontando para a evidência de que uma dieta restrita em sal causa redução da pressão em algumas pessoas, os reformistas extrapolam e deduzem que dezenas de milhares de vidas seriam salvas se houvesse menos sal na comida de todos.

Mas será que é possível fazer com que o público reduza permanentemente seu consumo de sal? Pesquisadores tiveram dificuldade em fazer com que as pessoas reduzissem a ingestão de sal em experimentos supervisionados de curto prazo.

Pesquisas

Os que apoiam a redução do sal afirmam que a mudança é possível se a indústria de alimentos cortar todo o sal escondido em seus produtos. Eles querem que os Estados Unidos copiem o Reino Unido, onde tem havido uma campanha intensiva para pressionar a indústria, assim como os consumidores, a usar menos sal.

Como resultado, dizem autoridades britânicas, de 2000 a 2008 houve uma redução de cerca de 10% no consumo diário de sal, medido através de pesquisas que analisaram a quantidade de sal excretada na urina, coletada a cada 24 horas.

No entanto, o relatório britânico foi desafiado num artigo recente do "The Clinical Journal of the American Society of Nephrology "da autoria de pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Davis, e da Universidade de Washington, em St. Louis.

A equipe, liderada pelo médico David A. McCarron, nefrologista de Davis, criticou as autoridades britânicas por salientar pesquisas de 2008 e 2000, ao mesmo tempo em que ignoraram quase uma dúzia de pesquisas similares conduzidas nas últimas duas décadas.

Quando são consideradas todas as pesquisas do Reino Unido, não houve redução consistente no consumo de sal nos últimos anos, disse McCarron, que há muito tempo é um crítico do assunto. Ele disse que a característica mais notável dos dados é como houve pouca variação no consumo de sal no Reino Unido - e em praticamente todos os outros lugares.

Análise

McCarron e seus colegas analisaram pesquisas de 33 países e relataram que, apesar de amplas diferenças na alimentação e na cultura, as pessoas geralmente consumiam mais ou menos a mesma quantidade de sal. Houve poucas exceções, como tribos isoladas na Amazônia e na África, mas a grande maioria das pessoas comia mais sal do que o recomendado atualmente pelas diretrizes alimentares americanas.

Os resultados foram tão parecidos em vários lugares que McCarron supôs que redes no cérebro regulam o apetite por sódio; assim, as pessoas consomem um nível estabelecido diário de sal. Se for dessa forma, isso pode explicar um aparente paradoxo relacionado a relatos de que os americanos estão consumindo mais calorias diárias do que antes.

Comida a mais teoricamente traria mais sal, mas não há uma tendência clara crescente no consumo diário de sal ao longo dos anos em estudos de exames de urina, que são considerados a melhor forma, pois medem diretamente os níveis de sal, em vez de depender de estimativas baseadas na lembrança das pessoas do que comeram.

Medição

Por que não houve sal a mais? Um importante defensor da redução de sal, o médico Lawrence Appel, da Johns Hopkins University, disse que técnicas inconsistentes na condução de pesquisas de exames de urina podem estar mascarando a tendência ascendente no consumo de sal.

Mas McCarron disse que as medições eram confiáveis e disse que isso pode ser explicado pela teoria da quantidade estabelecida: como os americanos ingeriram mais calorias, eles podem ter aliviado o consumo de escolhas mais salgadas, então o consumo de sódio total permaneceu constante. Seguindo essa mesma lógica, ele especulou, se diretrizes futuras reduzirem a quantidade média de sal nos alimentos, as pessoas podem compensar buscando alimentos mais salgados - ou simplesmente comendo ainda mais de tudo.

Pressão arterial

Os que apoiam a redução do sal descartam essas especulações, argumentando que, com a ajuda correta, as pessoas podem manter dietas pobres em sal sem ganhar peso ou sofrer de outros problemas. Mas, mesmo que as pessoas pudessem ser induzidas a comer menos sal, será que isso as colocaria numa situação melhor? As estimativas envolvendo todas as vidas a serem salvas são apenas extrapolações baseadas nos benefícios presumidos da redução da pressão arterial.

Se você monitorar quantos derrames e ataques cardíacos são sofridos por pessoas que adotam dieta pobre em sal, os resultados não são nem um pouco bons ou motivadores, como observou recentemente no "Jama" Michael H. Alderman, especialista em hipertensão do Albert Einstein College of Medicine. Uma dieta pobre em sal estava associada a melhores resultados clínicos apenas em cinco dos 11 estudos que ele considerou; no restante, as pessoas que seguiam dietas com baixo teor de sai tiveram o mesmo resultado, ou pior.

"Quando você reduz o sal", disse Alderman, "você reduz a pressão, mas também pode haver outras conseqüências adversas e indesejadas. Com o acúmulo de mais dados, cada vez fica mais fraca a ideia da redução do sal, mas os defensores dessa mudança parecem cada vez mais determinados a mudar as diretrizes alimentares".

Antes de mudar as diretrizes públicas, Alderman e McCarron sugerem tentar algo novo: um teste rigoroso envolvendo a dieta com baixo teor de sal em testes clínicos randômicos. Essa proposta é rejeitada pelos reformistas do sal como demorada e cara. Mas quando se contempla os custos potenciais de outro fracasso de saúde pública, como a campanha antigordura, testes clínicos começam a parecer baratos.

 

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