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25/02/2002 - 13h00

Esporte elimina barreiras para jovens deficientes

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JOSÉ SERGIO OSSE
da Folha de S.Paulo

Em um país em que falta estrutura para pessoas consideradas "normais", imagine para quem sofre de algum tipo de deficiência. Mesmo assim, a vontade de muitas pessoas -sobretudo jovens nessa condição- mostra que muitos limites físicos existem para serem superados.

Uma das atividades em que menos se espera ver cegos e paraplégicos é em esportes. Engano! Enquanto as equipes brasileiras que foram à Olimpíada de Sydney em 2000 não trouxeram nenhuma medalha de ouro, sozinha, a paratleta Roseane Santos, a Rosinha, trouxe duas medalhas de ouro, uma no arremesso de peso e outra no de disco.

E quanto mais jovens são obrigados a superar os limites, mais bons resultados elas parecem ser capazes de acumular. É o caso de Jaqueline Hubert, 20. Em 1996, ela perdeu a perna em um acidente de moto em Bragança Paulista (a 70 km de São Paulo) quando se divertia com amigos.

Mas isso não a tornou nem amarga nem ressentida. Jaqueline esbanja uma vitalidade maior do que a de muita gente da sua idade e ela mesma considera sua atitude "normal".

Logo após perder a perna, ainda no hospital, Jaqueline demonstrava que ser deficiente é só uma condição física e, na verdade, não é impedimento para nada. Ao acordar após a operação, perguntou a sua mãe, Erica, se os médicos já tinham amputado a perna.

Diante da afirmativa, passou a mão por curiosidade "na perna que não estava lá", virou-se de lado e dormiu tranquilamente.

Sua vida continuou como antes, normalmente. A única coisa que ela sente nisso tudo -apesar de não admitir abertamente- foi ter perdido alguns amigos que a deixaram por preconceito.

Aos 19 anos, ela, que antes do acidente participava de competições de natação, voltou a nadar, orientada por um treinador.

Logo em sua primeira competição, duas semanas depois do início dos treinos e competindo com adversários não-deficientes, ganhou duas medalhas de prata. A melhor parte para ela foi o carinho do público, que a aplaudiu de forma mais calorosa, com surpresa e respeito.

"Foi muito, muito gostoso e gratificante", diz. Algum tempo depois, dedicou-se mais às competições para deficientes, conseguindo boas marcas.
O caso de Jaqueline, competindo de igual para igual com atletas não-deficientes, é bastante comum.

A paraense Andreza Vidigal Barroso, 24, uma das integrantes da equipe oficial paraolímpica de tênis de mesa também começou competindo com pessoas "normais".

Andreza tem o tendão-de-aquiles da perna direita atrofiado por causa de uma vacina mal aplicada que recebeu aos nove meses de idade.

Incentivada pelo avô, isso não a impediu de competir no esporte de que gostava e de se destacar, mesmo entre competidores "normais". Chamada para treinar como paratleta, Andreza admite que teve preconceito e preferiu continuar a competir com não-deficientes.

Ela só aceitou competir com deficientes depois de uma ligação do Comitê Paraolímpico, que a convidou para ir aos Jogos Pan-americanos para Deficientes na Argentina. O que ela viu a encantou.

"Parece que, quanto maior é a deficiência do atleta, mais alto é o astral", diz. "Tinha preconceito comigo mesma, mas, depois de conviver com eles, comecei a me aceitar melhor."

O gaúcho André Luiz Garcia é outro que começou atuando em competições convencionais e depois se tornou paratleta. Com deficiência visual média, ele é um dos velocistas da equipe paraolímpica brasileira.

Depois de passar a competir com pessoas com a mesma deficiência, André se destacou e, em Sydney, ganhou duas medalhas de prata, uma nos cem metros e outra nos 200 metros.

Superação
Muitos paratletas não nasceram deficientes. Assim, o processo de aceitação da nova condição é complicado.

Há o autopreconceito e até mesmo o medo do convívio social em alguns casos. A idéia do esporte para deficientes é exatamente provar, principalmente para eles mesmos, que são capazes, apesar das dificuldades.

Além disso, há o caso de pessoas que aceitam sua condição e tentam mostrar a outros deficientes que muitas barreiras são auto-impostas. É o caso de Jaqueline, que, onde vive, faz questão de se encontrar com jovens que tenham ficado deficientes.

Enquanto está com eles, mostra que, assim como ela tem uma vida normal -com namorado, escola, lazer-, eles também podem ter. Seu objetivo, diz, é evitar que esses jovens desperdicem a segunda chance que lhes foi dada, apesar dos novos obstáculos. "É a minha forma de ajudar. Faço a minha parte."

Ande (Associação Nacional de Desportos para Deficientes), r. Dias Cruz, 421, sala 508 - Méier - Rio de Janeiro - tel. 0/xx/21/ 2592-0942

Abradecar (Associação Brasileira do Desporto em Cadeira de Rodas), r. 15 de Novembro, 2.765, sala 25 - Alto da 15 - Curitiba - tel. 0/xx/41/362-8266

ABDC (Associação Brasileira de Desportos para Cegos), r. Américo Vespúcio, 395 - Vila Prudente -São Paulo - tel. 0/xx/11/6966-0022

ABDA (Associação Brasileira de Desportos para Amputados), r. Presidente Backer, s/nº - Complexo do Caio Martins, sala 5 - Niterói (RJ) - tel. 0/xx/ 21/2611-3456




 

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