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04/03/2002 - 12h46

Escritor americano fala de passado de abusos e exploração sexual

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da Folha de S.Paulo

O escritor norte-americano JT Leroy, 22, é um exemplo de quem deu a volta por cima após um histórico de exploração sexual. Leroy já publicou dois livros nos dois últimos anos, "Sarah" e "The Heart is the Most Deceitful Thing" (O Coração É a Coisa Mais Enganosa), traduzidos em 13 línguas, mas ainda sem editor no Brasil. Tanto no romance "Sarah" quanto nos contos de "The Heart...", Leroy explora o relacionamento conflituoso com sua mãe, que o teve quando era adolescente e o entregou para a adoção.

Quando fez 18 anos (e ele tinha quatro), ela conseguiu recuperar a guarda do filho e começou a rodar os EUA se prostituindo. Leroy apanhava sistematicamente dos companheiros dela e foi abusado sexualmente. No começo da adolescência, ele passou a se prostituir.

Aos 14 anos, depois de viajar pelos EUA, ele parou em San Francisco e começou a fazer terapia. A partir de uma sugestão do médico, passou a escrever e não parou mais. Hoje é uma das vozes mais vivas da nova literatura do país.

Leia a seguir trechos da entrevista que concedeu por telefone de sua casa em San Francisco. (GUILHERME WERNECK)

Folha - Quanto de você está em Cherry Vanilla, personagem central de "Sarah"?
JT Leroy -
Muito. Quer dizer, acho que tem muito da minha adolescência. É claro que eu nunca andei sobre as águas nem fui confundido com um santo como no livro, mas a essência do que eu sou e o jeito como eu me sentia na adolescência estão realmente lá.

Folha - Você conheceu muitas crianças que sofreram abusos sexual e psicológico. Existe algo em comum entre elas?
Leroy -
Terem sido ferradas? [risos] Quer dizer, isso tudo deixa você confuso, mas também o ajuda a sobreviver. Acho que é mais perigoso quando você nunca teve um lugar seguro durante a infância, nunca teve um laço afetivo com os seus pais. Eu tive pais adotivos até os quatro anos. E, na realidade, experimentei a segurança e o amor até eu ter quase cinco anos. Acho que, se você não tem isso, está perdido. Você vira um animal selvagem e não consegue se recuperar, independentemente de quanta terapia faça.

Folha - Como você se sentiu quando sua mãe lhe tirou de seu lar adotivo?
Leroy -
Foi terrível, bastante traumático, eu não sabia o que aconteceria. Ela não era a minha mãe para mim. Por isso ela teve de usar de controle e de manipulação para fazer a nossa relação funcionar.

Folha - Depois de ter sofrido abusos, você passou por uma fase de autodestruição?
Leroy -
Sim, com certeza. Eu passei por uma fase em que estava muito autodestrutivo. Quando você entra num mundo em que não lhe dão valor, não cresce pensando na sua sexualidade nem em ser uma pessoa de valor. Não é algo sobre o qual você consegue ter controle. Você fica louco, autodestrutivo.

Folha - A história de um garoto cuja mãe teve uma série de namorados que abusaram dele e acabou na prostituição é a sua?
Leroy -
Não, a minha história tem mais nuanças. Eu não fiz tudo o que conto no livro nas paradas de caminhão. Como a minha mãe se prostituía, então eu me prostituí, mas não era uma relação tão formal como escrevi em "Sarah". É mais como se você fizesse aquilo que seus pais fazem. Se seus pais são tecelões, você vira um tecelão. Minha mãe era uma prostituta, parecia a coisa mais natural a fazer."

Folha - Você se travestiu quando criança?
Leroy -
Sim, com certeza.

Folha - Para copiar a sua mãe?
Leroy - Não, ela preferia que eu parecesse ser sua irmã em vez de seu filho.

Folha - Quão disseminada é a prostituição infantil nos Estados Unidos?
Leroy -
Acho que as pessoas querem negar a sua existência, sabe? Mas a prostituição infantil é uma grande questão em todo o país. Acho que as pessoas gostam de pensar que, como os Estados Unidos são uma nação desenvolvida, isso não acontece aqui, mas acontece.

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